Mergulho no mar
A aproximação não é fácil porque o mar não é muito convidativo: a beira-mar inclinada a obrigar o bíceps da coxa a estar em tensão, as ondas desobedientes a uma ordem certa e, sobretudo, o primeiro impacto dos pés com a água desencorajante, por razões eminentemente térmicas. O corpo entrando no mar: os músculos, alguns deles retecidos, outros como os da barriga encolhidos, o esqueleto em sentido. Duas estratégias diferentes: permanecer esperando até que, já banhado pela espuma e salpicado pelas ondas, em gestos tímidos se avança passo a passo; acometer-se num mergulho - cuja decisão ainda assim é por uma ou duas vezes adiada - à frieza das águas. Eu acho que nunca se entra na água da Praia Grande sem certa dose de ímpeto afirmativo; sou pois absolutamente defensor da segunda estratégia definida. Poderia haver aqui um quê de exibicionismo, mas manda sobretudo a fidelidade a uma identidade pessoal filiada a uma pertença colectiva. Mas, para mim, é antes de mais e acima de tu...