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Evasão

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Uma das coisas que torna alguns dos dias da minha vida profissional de advogado mais interessantes, é que tendo por necessidade passar os olhos por tantas palavras e tantas frases, por vezes me deparo com algo que abre portas à minha capacidade de me evadir do papel, ou melhor dito, do computador. Dizia Fernando Pessoa algo como que "Tout notaire a rêvé des sultanes", talvez seja isso que explica que nos apeteça dar uma boa gargalhada, quando descobrimos que na mais prosaica situação encontramos algo insólito, que nos faz pensar que a realidade é muitíssimo mais rica do que poderíamos alguma vez sonhar. Que basta estarmos atentos. Certo dia, cruzei-me com uma lei, publicada um mês antes da Revolução do 25 de Abril de 1974 e que se debruçava sobre recipientes sob pressão. O Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 101/74, de 14 de Março, anunciava solenemente em bom português que: "(...) acresce que se torna necessário estabelecer um esquema de prevenção dos acidentes produzidos ...

Tratado de Tordesilhas, ou como dividir um melão?

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Em 1484 Cristóvão Colombo propôs ao rei português D. João II uma expedição à Índia, navegando para ocidente. O rei, consultando os seus conselheiros ouviu deles que os pressupostos de Colombo se baseavam em cálculos incorretos sobre o tamanho da Terra, concebidos por Ptolomeu. D. João II recusou-lhe, assim, o apoio. E com razão: a Terra era bastante maior do que Colombo supunha, o que tornava o percurso ocidental até à Índia bem mais longo do que pela rota do Cabo.  Rejeitado em Portugal, o genovês Colombo ofereceu então os seus préstimos aos Reis Católicos de Espanha. A Espanha, surgia então como realidade política una, com a integração de vários reinos, a que se somava a recente conquista de Granada aos sarracenos. Estava também então em condições de se virar para o mar, procurando acompanhar Portugal, que iniciara a sua expansão marítima em 1415, essencialmente descendo a costa ocidental africana.  O plano estratégico mais importante do nosso rei D. João II era o de dobrar ...

Jugglers

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Na 2.ª feira fui almoçar a casa de Alice Wohl, a Colares. Norte-americana, com uma larga carreira dedicada à história de arte, é uma pessoa que sempre me acolhe bem. Pediu-me para lhe falar do livro que tenho estado a escrever. Contei-lhe que começa em Londres, na National Gallery, com o quadro de Hans-Holbein "The Ambassadors" e que todo o tema do livro se foca no que dá vida e no que a mata. A personagem principal é um advogado, Frederico Pery. Vai lidar com uma questão muito relevante que é a depressão de advogados perto dele. Na história, a figura de Abraham Lincoln aparece a aconselhar Tom Sawyer. Curioso, hem?! O que é que dá vida - e o que é que a tira? Para que serve um advogado? Daremos vida?  O livro aborda Kafka e outros e como a literatura é importante para que consigamos perceber, através de histórias, o "drama" em que se passam as nossa vidas. O advogado serve para quê? Servirá para proteger o seu cliente do mau tempo.  Alice Wohl enviou-me um ...