Sábios

O filósofo Josep Maria Esquirol pode não ser o melhor dos oradores, mas a reflexão que tem vindo a fazer é um convite irrecusável que nos faz a leituras proveitosas de reencontro connosco e a afinar as nossas cordas interiores. "Resistência Íntima - Ensaio de uma Filosofia de Proximidade", é um percurso pela condição humana de pequenas verticalidades num espaço horizontal, i.e., existir é para Esquirol um acto de transgressão contra a desagregação que nos leva, com o tempo, ao normal da horizontalidade. Segundo o autor "a ideia de resistência permite desenvolver uma reflexão num duplo registo que se pode entrelaçar. Por um lado, uma filosofia da proximidade que centra a atenção no outro - o amigo, o companheiro, o filho -, no ar que se respira, no trabalho, no quotidiano..., bem como nas articulações do si-mesmo (memória, sentimento, esperança...). Capas de intimidade, articulações complexas e variáveis que são abrigo íntimo, resistência íntima; uma resistência que dispensa fechaduras para as portas e arma de fogo para as escaramuças. E, por outro lado, a reflexão seguindo o fio condutor da resistência dá lugar a uma hermenêutica do sentido da vida; uma tentativa de compreensão do pano de fundo da existência humana".

Inspirado pela sua leitura, na última semana tentei ficar um pouco mais recatado, lendo, pensando, apreciando as coisas boas que tenho, "cuidando do meu jardim" (que passa também por cuidar das minhas relações mais próximas). Este "recentrar" é muito importante.

Byung Chul-Han também nos apresenta uma reflexão na mesma linha, embora mais centrada na sociedade contemporânea e talvez com uma visão mais negativa. Quando este autor fala da falta de narratividade da vida actual, da lógica absolutamente descontínua de experiências, sem uma ligação que as una, aproxima-se do filósofo espanhol, mas o que é interessante neste último é que apresenta desde logo um caminho, um caminho de regresso a si, à experiência carregada de sentido, em que o indivíduo (o indivisível) não se perdeu na turbilhão de coisas exteriores. Byung Chul-Han é mais crítico talvez da sociedade contemporânea; Josep Maria Esquirol parte antes da condição humana, não fazendo uma análise tão demolidora da nossa sociedade, embora também acuse o sinal dos tempos.

Por fim, leitura dos últimos dias, um outro livro: "Memórias de um Economista - Um homem entre dois mundos", de Peter Drucker. Há muitos anos que admiro este homem que foi um pensador profícuo e imensamente sábio. O livro que ele escreve é uma narrativa sobre a sua vida, centrando-se nas pessoas que foi conhecendo e o que elas lhe foram ensinando. Foi um homem sempre pronto a aprender, de grande curiosidade e de insights maravilhosos. Alguém tremendamente inteligente e interessante, alguém muito fecundo e que deixou uma marca indelével.



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