Comunicado do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa - 2004


Com toda a actualidade 4 anos depois:


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"No nosso estádio de desenvolvimento, as limitações económico-financeiras globais ainda são determinantes para a condição de injustiça em que vive uma boa parte da população.


No entanto, tem-se ultimamente tornado evidente que antes dos obstáculos a um maior sucesso económico da nossa sociedade, condição para uma maior justiça social, dependem directamente de hábitos culturais e sociais de carácter individualista e egoísta que, além de pouco honestos, são duplamente injustos: não só excluem à partida os mais desprotegidos que, por serem por definição excluídos, não podem lançar mão dos mesmos expedientes, como, ao diminuírem e desviarem o que devia enriquecer o bem comum, prejudicam quem mais dependente está do apoio da sociedade.


Incluem-se aqui comportamentos e práticas como: a falta duma ética e exigência no trabalho (com a consequente baixa de produtividade), a desonestidade fiscal generalizada tida como normal, o recurso sistemático a pequenas influências, as típicas “cunhas”, e a pequena e grande corrupção, a busca sistemática do aproveitamento imediato em detrimento da aposta no longo prazo sustentável, etc., até chegar à falta de pontualidade que tanto prejudica a eficiência. Ao mesmo tempo, tem crescido a capacidade de interesses corporativos manipularem ou bloquearem reformas para seu próprio ganho.


O desinteresse pelo bem comum, substituído pelo egoísmo seja individualista seja corporativista, tem crescido numa cultura que cada vez reivindica mais direitos e se esquece dos deveres e responsabilidades. Por imperativos também de justiça, e em nome dos excluídos, daqueles que não têm ao seu alcance os meios pelos quais muito se tem jogado a progressão económica e social das classes mais beneficiadas, é urgente um “choque cívico” – uma mudança de hábitos no sentido da exigência e do rigor.


Mais do que promessas de atraente facilidade mas de viabilidade dúbia, o que se deve valorizar é a vontade e a coragem para dirigir a sociedade pelos caminhos da responsabilização, do empenho, da determinação e do sacrifício dos interesses próprios imediatos a favor dum bem comum duradouro mais justo e solidário".

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