Estávamos no ano do Senhor de 1325. Por entre o calor da campina, a modos de promessa, por entre um séquito silencioso, avançava curvada e incógnita Isabel de Aragão, a Rainha. Seu marido, velho e agastado pelas longas guerras com os seus dois filhos Afonsos, morrera nesse Inverno. Entristecida pela morte de D. Dinis, a quem se devotara desde praticamente a sua infância, Isabel partia em peregrinação ao túmulo do Apóstolo, em Santiago de Compostela. O amor de mulher e rainha levava-a a carregar no coração o peso de uma vida, a dum homem de acção, generoso e enérgico, mas tantas vezes desviado pela intrepidez e o sobressalto, a ponto de poderem fazer dele um homem vingativo. Por isso, como consorte do Reino de Portugal e do Algarve, era importante ir rezar ao túmulo do Apóstolo, encomendando a alma de seu marido, o falecido Rei. O amor ao seu Senhor de sempre, Àquele que transcende a morte, superior a todos os príncipes e potestades, levá-la-ia a se prost...
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Aproveitando uma das manhãs, frias mas soalheiras, fui para o parque, e reparei numa criança que estava deitada no chão de barriga para cima a olhar para o céu…
Enquanto as outras brincavam em pequenos grupos deitei-me ao lado da criança e, ali ficámos alguns instantes em silêncio a ver as nuvens a passar naquele imenso céu azul… Foi então, que olhando fixamente o céu me perguntou: ”Maria vai ser sempre assim?” Longe de saber o que me estava a perguntar e, também eu, com o olhar fixo naquele céu azul, retribui-lhe a pergunta; “ Vai ser sempre assim, o quê?” Sentando-se e olhando para mim respondeu: “Se tu vai ter sempre tempo para ver o céu, e se quando eu for grande vou-me lembrar de parar e ver o céu?!”
Olhando para ele, procurei a resposta certa para aquela pergunta… e voltando a olhar para o céu perguntou: “ é que as pessoas crescidas, depois deixam de ter tempo para fazer estas coisas” e naquele momento fui surpreendida por um silêncio esmagador, de quem não tem o que dizer, porque a imensidão da verdade é tal que nos deixa mudos e paralisados… Mas apesar de existir este silêncio, foi um silêncio partilhado, de quem está ali, de quem vive aquele momento de cumplicidade... E assim permanecemos…
E foi aquela criança, de apenas quatro anos, e todo aquele momento que me levaram a questionar, em fracções de segundo, a maneira, tantas vezes vazia, com que vivemos e vemos o mundo… ali relembrei e renovei a importância do TEMPO e do PARAR…
Aquele olhar ingénuo, num diálogo simples, verdadeiro e despreocupado, tocou a sabedoria que tantos gostariam de ter… que todos nós em algum momento perdemos… mas que estamos sempre a tempo de recuperar… Haja TEMPO…
Pergunta acutilante aquela, cheia de verdade, difícil de responder, mas que me mostrou a pequena, mas existente, luz de um pequeno fósforo que já tinha iluminado tanto… nessa tarde, quando cheguei a casa tive a necessidade de reviver aquele encontro entre um aviador perdido no meio do deserto e aquela criança que dizia vir do asteróide B612…
Maria
E o “TEMPO” não pára… todos vão vivendo a sua vida, tantas vezes em “piloto automático” sem a questionar; sem a confrontar; sem verem as reais e existentes consequências “desses” passos postos num futuro tão vazio, com tanta falta de solidez…
Vejo Pais todos os dias preocupados, para não dizer obcecados, com o futuro profissional dos seus filhos, Pais que determinam fazer um investimento “brutal” na formação e carreira dos filhos; Pais que vivem a obsessão dos rankings; que exigem, exigem, exigem mas que não são capazes de definir e caracterizar o seu próprio filho numa mera conversa…
E se uns vivem esta impulsiva necessidade de preparar um “futuro brilhante e de sucesso”; dentro de padrões preconcebidos por eles próprios; outros demitem-se, totalmente, deste papel decisivo, que é o de caminhar no discernimento, de alguém que todos os dias cresce e se tenta encontrar…
A maioria dos Pais sempre que fala do “futuro risonho dos seus filhos”, diz: “Eu quero que ele seja médico.” ou “Ele tem de ir para gestão.” Muitos outros dizem: “Ele tem é de ganhar muito dinheiro porque isto não está fácil… Tem que ser médico, advogado, engenheiro…” Sempre respeitei esta postura, porque vejo nestas palavras ditas com tanta força e determinação uma solução para o fim de “algumas” preocupações… mas rapidamente o meu pensamento é “invadido” por uma pergunta maior: “ Mas qual será a vocação de cada uma destas crianças?; onde está a Vocação?
Estaremos nós a Educar para a descoberta e discernimento da vocação; uma vocação que nada tem que ver com a já tão conhecida frase “ eu tenho jeito para…”; a nossa vocação é como o “amor”, é um sentimento que nos contagia, que chega a cada bocadinho de nós, que não tem horário, que por ser tão GRANDE e ter de vazar, transparece e passa para os outros com uma intensidade desmedida… costumo dizer que é ela que nos eleva ao máximo do que somos capazes, mas que, também por ela e por essa magnitude, nos arrasta para momentos de desmotivação… a nossa vocação move a nossa vida e é isso que a torna tão real e tão significativa… é parte integrante e dissociável de nós…
Não estamos a falar de questões meramente religiosas e, talvez por isso, nem as mencionei neste pequeno testemunho, estamos a falar de vocação; estamos a falar de discernimento; de autoconhecimento; de autonomia do pensamento e cada um destes aspectos são parte intrínseca do Homem…
Como é que estamos a viver a descoberta das vocações nos nossos Jardins de Infância; nas nossas Escolas ou, até mesmo, nas nossas Universidades?
Estaremos nós a Educar para esta liberdade, que não é a de poder escolher, mas sim a de aprender e saber escolher o nosso caminho?