Um bom ambiente escolar







Todos nós sabemos intuitivamente que tudo cresce melhor num bom ambiente...
Um cavalo no campo, bem alimentado, tratado com cuidado, não sujeito a "cacetada", será em princípio um cavalo dócil, tranquilo.
Por contraste, um cão enjaulado, preso com uma corrente, será talvez um bom cão de guarda, mas o seus estados de alma poderão alternar entre o aborrecimento, a irritação, a desconfiança e o medo. Certamente que não a alegria. Há quem diga que se deve falar com as flores, elas pressentem o cuidado que se tem por elas: a rosa do Principezinho precisava disso, mas se calhar era também um bocadinho vaidosa de mais...
Estudos desenvolvidos no âmbito da neurociência têm demonstrado que a parte do nosso cérebro ligada às emoções positivas influi na parte cognitiva:
"Experimentar emoções positivas aumenta os reportórios momentâneos de pensamento-acção e constrói recursos pessoais duradouros. As emoções negativas diminuem os reportórios de pensamento-acção e diminuem as suas capacidades de lidar com problemas. Isto é, induzir emoções positivas (como alegria, amor ou admiração) alarga as perspectivas cognitivas e reforça a habilidade dos indivíduos para receber mais informação, fazer interpretações mais ricas e experimentar maiores níveis de criatividade e produtividade. Isto também permite construir recursos pessoais duradouros como complexidade intelectual, conhecimento, interesse intelectual e a capacidade para explorar. As emoções positivas também têm um efeito regulatório de baixar as emoções negativas como o medo, raiva, tristeza ou ansiedade e de desfazer os seus efeitos fisiológicos negativos". (Cameron e Casa: "Developing Strategies for Responsible Leadership", Michigan Ross School of Business).
Apesar de todos sermos diferentes e sentirmos as coisas de maneira diferente, julgo que todos trabalhamos melhor quanto mais estivermos emergidos num clima positivo e onde vivamos emoções positivas.
Um ensino teórico que não envolve a parte criativa do cérebro, onde se experimentam as emoções, é pouco eficaz.
Antoine de la Garanderie, pedagogo francês, num diálogo imaginário com Einstein, conversa com este sobre a sua experiência escolar, onde de alguma forma se vê esta ligação entre as emoções e o rendimento: - Fui aluno até aos 15 anos numa escola de Munique onde era necessário aprender de cor, discorrer, seguir lições dedutivas e verbais… não era bem sucedido… Apresentei-me então a exame de entrada na Escola Politécnica de Zurique. Esperava ter feito bem os exames. Mas não fui admitido. O próximo exame teve lugar apenas no ano seguinte e o director dessa escola aconselhou-me a inscrever-me na escola cantonal de Aarau, que se encontrava a uns quarenta quilómetros a nordeste de Zurique. Esta escola produziu em mim uma impressão inesquecível, graças ao seu liberalismo, à sua simplicidade e à seriedade dos seus professores, que não baseavam a sua autoridade em nenhuma autoridade externa - descreve Einstein.
- O que é que caracterizava a pedagogia dessa escola? - pergunta Antoine de La Garanderie.
- Muitos trabalhos práticos, excursões, observação, desenho. O aluno era remetido a si mesmo. Ele não era submetido ao respeito de formalidades. O esforço de memória foi substituído por exercícios que favoreciam o desenvolvimento do pensamento individual - responde Einstein.
Nesta escola, Einstein, viu-se envolvido e comprometido no processo de aprendizagem, pôde utilizar a sua criatividade. Era uma pedagogia mais aberta que a escola de Munique.
Mas não apenas o modo como se ensina, mas o próprio ambiente em que se vive é fundamental.
Segundo Patrick Tapernoux, professor no Institut Supérieur de Pédagogie em Paris, "todos os dados do comportamento humano apontam para a idéia que são as interacções que não apenas dirigem as nossas condutas, mas que também forjam os nossos pensamentos. O estado da nossa consciência em relação ao mundo, seja ele melancólico ou conquistador depende dos encontros que podem ser estimulantes e fazer-nos progredir..., perigosos para o nosso equilíbrio, trazendo-nos uma depreciação de nós próprios, ou euforizantes, tais como o encontro amoroso".
Na escola tudo isto é evidente, lembremo-nos dos casos infelizes de que temos ouvido ultimamente de professores e alunos alvo do chamado "bullying".












Comentários

Maria disse…
“O destino do homem determina-se na forma como é gerado, no calor dos braços que se lhe estendem, na ideologia que o envolve e na liberdade que lhe é proporcionada para imaginar, experimentar e pensar.” (João dos Santos)

Em apenas três linhas e da forma mais sucinta, mais directa, mais assertiva, que até hoje encontrei, João dos Santos, uma referência importantíssima para mim em Educação e na forma como viu e sentiu a vida, DIZ tudo; mais do que dizer, TOCA tudo, numa linguagem simples que ganha uma dimensão complexa à medida que vamos interiorizando cada um destes elementos…

João dos Santos, alguém que pertence à minha lista de pessoas que gostaria de ter conhecido, falado ou melhor, alguém que gostaria de ter ouvido como professor, como Mestre… os”tais” outros significativos que nos alimentam os pensamentos, que nos puxam tantas vezes sem sentirmos e que nos fazem crescer… tenho a sorte de ter algumas referências destas na minha vida, pessoas que a dada altura me abriram horizontes, quando eu, talvez pelo meu feitio meio fechado, ficava ali, naquela inércia de quem não concordava com determinadas ideias, que me eram “impostas” na escola, de quem não compreendia outras tantas, mas que também não “superava” esta imensa e densa BARREIRA da docência centrada apenas no “olhar” de fora… um olhar que não aprofunda e que é efémero… sempre precisei de “olhar dentro”… de comprovar respostas que me eram “dadas como certezas” e que, dentro de mim, ainda não o eram; sempre precisei de “sentir” e viver tudo aquilo que via, com os “olhos de fora” e dar significado em mim… acredito que, esta forma de estar, viver e sentir o mundo, me ajudou em muitos momentos mas que noutros nem sempre foi um elemento facilitador… causando até algum sofrimento…

Sinto que quando falamos em Educação este cruzamento, eu diria mais esta comunhão dos “olhares”, o de dentro e o de fora, é crucial – a Educação é isso mesmo – podemos viver os primeiros anos de vida apenas a “treinar”, a desenvolver, a estimular o “olhar” de fora… a forma como captamos a vida, os acontecimentos, as informações, os outros… mas a dada altura, e para mim também este exercício começa nos primeiros anos, de forma gradual, devemos “investir” e procurar em nós múltiplas formas de olhar, mas com “olhos de dentro”; e tudo isso passa por uma constante necessidade de interrogar e compreender o que vemos “fora” de nós.

Para mim, e talvez de uma forma muito romanceada, esta é uma das grandes magias e fascínios da Educação… quando tudo se rompe, como quem abre uma gigantesca janela, que em vez de ver, a pequenez destorcida, através de um buraco da fechadura, vê a imensidão de um todo a perder de vista… compreendemos o que está para além de nós… um mundo interior imenso, só visitável e penetrável através destes “olhos interiores” que nos levam na descoberta incessante de nós próprios, da nossa identidade que tantas vezes singulariza o nosso “destino final”. Este olhar interior, ajuda-nos a aprender a olhar para o exterior, a pôr as lentes certas, a fazer as focagens, melhorando a nossa percepção, a nossa sensibilidade e a capacidade de captarmos informações.
Maria disse…
E, se por um lado este universo da Educação nos lança nas mais variadíssimas formas de “olharmos” o mundo, por outro lado traz-nos a magia da possibilidade de escrevermos, desenharmos ou construirmos a nossa própria vida… uma vida que é vivida uma única vez, irrepetível; uma vida que é única. Diz-nos Álvaro de Campos “Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque também há vida…”

Quando penso no acto educativo, vejo-o como um caminho, mas também como um percurso. Tal como nos olhares, o caminho é o que nos é “imposto”, é o que nos é apresentado, e o percurso é a forma como o fazemos… os caminhos existem apenas para serem percorridos e para serem, pouco a pouco, reconhecidos interiormente por quem os percorre… e isso foi para mim muito nítido nas várias peregrinações, a pé, que fiz na minha vida, principalmente nos tão absorventes e inebriantes Caminhos de Santiago… mas essas são outras paragens…

Tantas vezes pensamos e vivemos uma Educação apenas centrada em caminhos, onde a base prioritária está exactamente nos caminhos e não nos que se põem a caminho… estaremos nós de olhos postos nas reais prioridades? Tanto se discute sobre Educação, tanto se inova em Educação, tanto se modifica, em nome de uma Educação mais aberta, menos tradicional, menos directiva… mas muito honestamente sinto que caímos em fracassos maiores, desestruturamos toda uma estrutura firme e rígida e agora, todos os dias agarramos em fragmentos de nada e tentamos implementar modelos e teorias sem nunca as termos vivido, sem nunca as termos visto, sem nunca as termos entendido… Definitivamente, e com alguma pena, tenho que concordar que o século XX, e não saberei, o século XXI não foram, nem serão, séculos de descobertas, de iluminismos para a Educação… por ironia são séculos de profunda centralização na Criança e em todo o seu universo… mas a base, a estrutura, os andaimes, os bons e firmes alicerces que sustentam todas estas teorias não foram construídos, e se foram, são bem mais frágeis que os anteriores…

Onde estão as bases, os valores, como o civismo, a moral, a ética, a verdade, o pensamento reflexivo, a coerência, a criatividade expressiva, o pensamento divergente, a resistência à frustração, a resolução de problemas, a flexibilidade do pensamento, o autoconhecimento…? Nada disto se ensina, nada disto passa por transmissão de conteúdos programáticos, aulas expositivas, palestras, seminários… como nos diz Fernando Pessoa “entranha-se” em tudo o que somos, em tudo o que fazemos… está em nós e, por estar em nós, passa para os outros. Quem Educa em verdade, reconhecendo os seus limites e falhas, sabe que tudo isto é verdade.

Educar “em” cada um destes aspectos e em tantos outros que recheiam a nossa vida não é o mesmo que Educar “para”… e isso não passa por uma questão gramatical…

Peço ao Mundo que não se perca em teorias, elas são verdadeiramente importantes, concordo, são elas que nos cativam, que nos puxam, que nos contagiam, mas o maior de todos os “vícios” está na prática e na forma como as duas se unem, numa só experiência; diz-nos Fernando Pessoa “ (…) na vida superior a teoria e a prática complementam-se. Foram feitas uma para a outra. ”
Maria disse…
Concordo, quando diz que a vida a que somos “expostos”, as experiências por que passamos, que temos e levamos, condiciona ou melhor resulta naquilo em que nos tornamos… mas não podemos cair em determinismos… Lembro-me de uma aula, no meu primeiro ano do curso, no Hospital Santa Maria com o Professor Gomes Pedro, em que de muitas horas de teoria - teoria densa, complexa, por vezes pouco objectiva, onde foram tocados vários assuntos, onde por mais abertura e dinâmica criada aquele tempo era um tempo directivo, onde nós alunos ouvíamos… - em mim, cada frase levantava inúmeras questões, questões essas que não podiam ser colocadas, não podiam ser debatidas e que por isso inundavam a minha cabeça, as folhas rabiscadas e pouco legíveis… mas dessas aulas, em que mais de metade não me lembro, ficou até hoje um conceito que nunca tinha ouvido e que nunca tinha relacionado com o Ser Humano e todo o seu crescimento, desenvolvimento e aprendizagem…

Resiliência…. Esta capacidade que cada um de nós tem em se superar, em se refazer, em não se deixar moldar e estagnar nos negativismos e frustrações da vida… Nem todos a temos, ou melhor, acredito que uns tenham mais do que outros e que por isso “cães” que viveram acorrentados, enjaulados toda uma vida um dia possam tornar-se “cães” dóceis, sem fúrias desmedidas de quem cumpre apenas o seu destino de guarda. E se com cães este conceito tem uma importância relativa, quando falamos de Seres Humanos esta passa a ser a palavra mágica, digo mágica, porque não existe uma teoria, uma fórmula para promovermos e desenvolvermos resiliência, está em nós…

Porque tantas vezes conhecemos “cavalos” livres,
bem tratados… que em dado momento têm reacções desajustadas, reacções inesperadas, que nos fazem perguntar: Então qual é o critério para uma Educação certa, equilibrada? ou Que factores condicionam e alteram o nosso eixo? O que é que tem peso para alterar o Ser Humano?

E aí, acho que é preciso embrenharmo-nos num todo, que é complexo, mas que fascina, nos apaixona, nos faz querer ir, sem medo, a onde vamos parar. Muito antes de entrar para o curso que tirei, a questão SER HUMANO, era qualquer coisa que sempre esteve presente… Vinda da área das humanidades, a literatura, a filosofia, a história, a psicologia, a sociologia foram sempre
áreas e conteúdos que me fascinaram, talvez porque nos ajudam a entrar nesta imensidão escura, ténue, profunda, rebuscada, variável… de um Ser Humano que está em constante maturação…

Por outro lado e talvez por uma influência inconsciente da minha família, todos eles artistas, e mais do que artistas todos criativos, pessoas que são portadores de um pensamento divergente, que abre em várias direcções e procura várias e possíveis ligações, procuram o que está para lá do concreto, do objectivo, do comum… cresci com uma paixão “camuflada” e reprimida, talvez por um superego muito presente, pelo apaixonante e envolvente mundo das artes… um mundo onde extravasamos aquilo que somos, aquilo que sentimos, aquilo de que temos medo… onde nos reconhecemos, onde nos vamos vendo em vários espelhos e onde cada um reflecte um pedaço genuíno de nós… na pintura, na escultura, na literatura, na música, na dança, na representação, na escrita… não há espaço para MÁSCARAS, que tão habilmente já usamos na nossa vida, na relação com os outros e pior na relação com nós próprios …

… são refúgios, subterfúgios que uso, todos os
dias para me encontrar… nem sempre são processos fáceis e descontraídos… mas certamente são cada vez mais necessários.
Maria disse…
E aí, entra toda esta imensidão de que nos fala; EMOÇÕES POSITIVAS, de nos rodearmos de experiências significativas, mas que não nos confundamos, experiências positivas que em nada se comparam com experiências vãs, passadas na construção e ilusão de algo que não é real… e para que estes momentos vivam e aconteçam em nós há que haver abertura, disponibilidade e não chega aparecerem apenas na adolescência ou na idade adulta… Desde que nascemos que estamos no mundo… e que tudo são ligações, são experiências, todas são importantes, até mesmo as mais difíceis, as menos positivas porque nos põem à prova… pouco a pouco, vamos tocando novos terrenos e são esses momentos que nos fazem descobrir quem somos…

É importante que em nós haja esta vontade curiosa de compreender e analisar aquilo que somos e fazemos. A descoberta e avaliação da nossa vida, através da crítica e o auto conhecimento da pessoa que somos e das atitudes que temos e revelamos, levam-nos a assumirmo-nos perante os outros e o mundo. Um assumirmo-nos, que como nos diz Paulo Freire, tem que: “Como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objecto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. ”

É importante que cada um de nós viva este reconhecimento da sua identidade. Este reconhecimento ajuda-nos a viver e enfrentar as nossas limitações, os nossos medos e angústias. Ninguém consegue ser feliz e o conceito de felicidade de que falo, está para além do material, da realização pessoal… entra um bocadinho na descoberta de uma paz plena, de quem se vê, se encontra e que nada mais espera… apenas perdurar…

… E olhando para o Sistema Educativo de hoje,
vejo que muito se diz, muito se projecta, muito se ambiciona, muito de modifica e “melhora”, mas que as prioridades, como já referi em parte incerta deste comentário longo e denso, tem que estar antes de tudo… quais são as bases? Os valores porque nos regemos? Quais são as nossas verdadeiras referências? O que é que pretendemos da Educação? Quais os seus fins maiores? Como se vive todo este processo que se inicia desde os primeiros tempos de vida e que se estende, para mim, para sempre? Qual é o papel de um Educador/Professor? Qual deve ser a sua postura e atitude perante seres ávidos de experiências, de novidades, de descobertas, de metas… onde termina a Educação? Será que termina? Como se vive tudo isto?
Maria disse…
São tantas as perguntas que todos os dias faço a mim própria, que todos os dias faço aos meus superiores, aos pais, à minha família… e encontro tantas vezes respostas, teorias, correctas… mas para mim vazias, vazias talvez seja um bocado injusto para todos aqueles com quem partilho esta minha ânsia de agir, viver, de entregar, servir… sem frustração, sem inércia mas, sinceramente, com alguma ansiedade e expectativa, ainda não estou no “lugar” certo, naquilo para que fomos “talhados”… ando perto… mas ainda não é por aqui… e isto podia ser sinal de que ando à deriva, sem rumo, sem metas ou objectivos de vida numa fase em que “à partida” tudo já deveria estar “resolvido” e “encaminhado”… mas se acredito que somos Seres a caminho e que o caminho é caminho para ser percorrido, tenho que perceber que nem sempre é recto, é directo, é rápido… talvez o meu seja “um bocadinho” mais longo… mas certamente lá chegarei.

A minha vocação sem dúvida é a Educação. Onde e em que “moldes” só Ele sabe… e, pouco a pouco, me vai puxando e revelando… custa, dói, faz-nos questionar muitas coisas, não compreender outras tantas, mas quem disse que CRESCER era fácil… e quem disse que a dada altura da nossa vida já éramos crescidos e que agora já não se crescia mais… Nestas alturas penso muito numa frase de Elliot que diz: “ (…) só aqueles que arriscam ir demasiado longe ficarão a saber até onde podem ir (…) ” .

E todo este caminho que vai sendo percorrido, dia a dia, etapa a etapa, com mais ou menos dificuldades; com alguns desvios; com boas e revigorantes descobertas; com alguns momentos de paragem e discernimento… e tudo o que envolve o estar a caminho…

… que me faz acreditar num “paradigma educacional” onde as crianças se tornarão Homens reflexivos, autónomos no seu pensamento e conscientes do seu papel neste mundo. Mas para que isto aconteça não basta valorizarmos estes elementos na Infância, é fundamental que estes já façam parte de nós e nos acompanhem ao longo de toda a nossa vida... Acredito que neste sentido, seria importante valorizar e incentivar a nossa capacidade transgressora: uma capacidade, que nos permite encarar o mundo não limitado, mas como um caminho, aberto à mudança e cheio de possibilidades. Para mim torna-se necessário e urgente Educar para esta dimensão da transgressão onde o mundo não se limita a ser só aquilo que vemos, mas que se abre em várias direcções, propondo novos e múltiplos percursos possíveis e criando, ainda, a aptidão de transformar a realidade do modo que desejamos, em “paralelos” possíveis. “ É a forma como escolho ver o mundo que cria o mundo que eu vejo” (Joan Lunden)

Sinto que ao irmos ao mais fundo que há em nós e consequentemente na nossa relação com os outros, promovendo a Autonomia do Pensamento, estaremos a dar às crianças e jovens não apenas a possibilidade de ser livre, mas que esta seja um agente activo de todo o seu desenvolvimento e aprendizagem. Assim e partindo do pensamento de Weil, “ (…) deveríamos encontrar os meios para levar aqueles que educamos a pensar por sua própria conta nos dois sentidos que esta expressão possui: por sua própria conta, porque terão de ser eles a construir o seu próprio pensamento e porque, para eles, pensar deve ter um sentido (…)”

Nunca esquecendo mais uma frase “brutal” de João dos Santos: “ Cada pessoa é no seu ser, é em si própria, uma vivência, uma perspectiva e uma experiência inédita, porque a sua vivência é interioridade: morre só, com o mundo que em si criou.”
Maria disse…
“Há quem diga que se deve falar com as flores, elas pressentem o cuidado que se tem por elas: a rosa do Principezinho precisava disso, mas se calhar era também um bocadinho vaidosa de mais...” não consigo terminar este gigantesco e talvez desestruturado comentário sem falar um bocadinho desta afirmação. Li este livro, que para mim é uma das minhas “bíblias” de vida, em diversas fases da minha vida e já há muitos anos que esta rosa, não é o que aparenta, toda a sua figuração leva-nos a caracterizá-la como vaidosa, mimada, pretensiosa, talvez até, pedante e cheia de “manhas”, cheia de si mesma, mas para mim toda aquela vaidade é espelho de uma tremenda e desmedida insegurança, de “alguém” que se quer apresentar no seu melhor, porque nada mais tem ou nada mais consegue ter para se entregar aos outros…

Toda esta exigência que ela vai fazendo ao Principezinho é uma característica de alguém que não tem mais ninguém que a ame, que olhe por ela, que cuide dela, que a valorize… e que está tão centrada em conservar esses caprichos, esses mimos, essas valorizações e exigências fúteis, que não é capaz de valorizar nem retribuir o amor que lhe é dado diariamente.

Quem ama não cobra… ouvimos muitas vezes esta frase, mas só a entendo como verdade, se falarmos de um amor recíproco, amadurecido, estável, sem inseguranças “mesquinhas”. A rosa amava o Principezinho e tal como ele diz, também ele a amava e a amou para sempre… Ela foi até ao fim a rosa que perfumava o seu jardim, foi a ela que ele se entregou noite e dia, dia e noite mas que nada recebeu em troca… e o amor, seja ele de que natureza for, tem que ser regado, tem que ser alimentado, tem que dar e receber.

E no final, no orgulho silencioso da sua dor, quando se despede do Principezinho, ela diz-lhe friamente, mas para mim em verdade, que o ama, mas que agora é tarde… que esse amor morre ou melhor não cresceu, não foi vivido, por uma incapacidade deles conseguirem viver aquele sentimento que lhes era dado… estava ali, crescia naturalmente, mas os dois tinham errado… por medos, inseguranças, faltas de firmeza, excessos de exigência.

É quando sente que perdeu tudo o que tinha, que a rosa se revela naquilo que é… alguém que não era frágil, que não tinha assim tantos medos, que não era tão caprichosa… essa sua revelação surpreendeu o Principezinho, ele amava alguém que não conhecia… e no meio de toda aquela dor de despedida, a rosa tem um diálogo que para mim é espelho de um crescimento interior, de uma maturação, do subir de mais um degrau: “- Porque é que estás tão admirado? É evidente que eu te amo – disse a flor. – Nunca o soubeste, por culpa minha. Mas isso, agora, já não tem qualquer importância. Olha que tu também foste tão parvo como eu. Agora, vê lá se consegues ser feliz… E deixa essa redoma em paz. Já não a quero.” (Principezinho)
Maria disse…
É neste momento que caem as máscaras, as máscaras que todos nós usamos diariamente nas nossos variados papéis e estatutos sociais… mas que muitas vezes condicionam e bloqueiam a nossa vida…

Talvez eu não tenha compreendido o que queria dizer quando falou desta flor, talvez toda a minha interpretação seja muito romanceada; mas a verdade é que nós somos muitas vezes como esta rosa, escondemos aquilo que somos atrás de inseguranças, medos, incapacidades de nos revelarmos naquilo que somos realmente… e quando nos sentimos amados, com medo de nos entregarmos a esse amor, tornamo-nos caprichosos, exigentes, mesquinhos… e quando perdemos esse amor, não porque ele acabou, mas porque ele não aguentou mais, crescemos nesse sofrimento…

Esta rosa desestruturava o Principezinho, não lhe dava paz, tornava-o melancólico, triste, parado, sem força para continuar… mas era no amor desmedido que tinha por ela que todos os dias ele a tentava conquistar, construía biombos, defendia-a, ouvia-a… e, pouco a pouco, ele começou a estagnar a ficar “pequenino” e quem já amou sabe que o amor liberta… desorienta mas não destrói… leva-nos ao mais alto monte e às profundezas daquilo que somos… mas não “mata”.

Sem querer acabei por relacionar esta imagem da relação da flor com o Principezinho, com a frase final do comentário do Prodessor Patrick Tapernoux, que tem muito disto… porque a relação com o mundo passa inevitavelmente pela relação com os outros… e na base das relações humanas está o Amor, que se manifesta das mais variadas formas, mas que tem que existir… é o amor que nos faz transgredir a inércia dos dias, que nos faz sonhar, que nos faz querer partilhar projectos e sonhos com os outros, que nos mostra quem somos, os nossos limites, as nossas inseguranças mais profundas, mais escondidas, mas acredito que é a partir desse amor, dessa entrega recíproca aos outros que crescemos e que nos tornamos homens e mulheres mais completos e mais preenchidos… por isso mais do que uma grande vida, podendo viver uma vida cheia… nem que para isso tenha que superar inúmeras fragilidades, que as tenho, imaturidades, que as tenho, medos, que os tenho… não quero ser como esta flor que perdeu a oportunidade de ser feliz na vida porque não ousou; nem quero ser como o Principezinho que viveu toda uma vida de comparação, de saudade, de nostalgia de uma flor que um dia entrou e marcou a sua vida para sempre…

Não será tudo isto verdade?

Este testemunho que fez, leva-me a voar em céus tempestuosos, a navegar em mares calmos… ficaria aqui uma eternidade a vaguear, a “pôr para fora” inúmeros fragmentos daquilo que sinto, vivo, sou… torno-me repetitiva, também sei, infelizmente é mais uma característica minha, talvez pela tal necessidade de confirmar… e sem qualquer dúvida, este foi, até hoje o maior dos meus comentários…

… mas para quem escreve ao correr da pena como eu, neste caso ao correr da rapidez das teclas, é uma adrenalina viciante, pôr em palavras o que está cá dentro, sem grandes formulações, sem grandes regras e lógicas, apenas deixar o coração “escrever” mais rápido, sem grande preocupação com o que é dito; porque essa é a “tal” liberdade extasiante que nos envolve e que num pequeno “exercício”, que seja um comentário, nos mostra bocadinhos de nós…

… nunca me passaria pela cabeça, e quem me conhece sabe porquê, escrever num blog. Confesso que tenho uma gigantesca “aversão” a todo este mundo tecnológico… nunca o tinha feito, mas para mim começou a fazer sentido, e quando as coisas fazem sentido e têm significado… deixo-me ir… e estas nossas partilhas têm sido isso mesmo… significativas…
Maria disse…
Duarte,

Li o seu artigo… sei que é uma pequena parte de um “muito” que foi dito e partilhado… mas já é tanto… curiosamente, duas palavras soltas naquela pagina fizeram, para mim, muito sentido: Sociedade e Iniciativa…

Talvez um dia possa contribuir, com o pouco que “trago comigo”, para este Projecto… talvez seja o tal “sentimento de pertença”…

Sinceramente Parabéns Duarte.

“Enfim, pus mão à obra e tinha tanta boa vontade que consegui perfeitamente (…) Instruindo os outros muito aprendi (…)” (Santa Teresa de Jesus )

Maria
Maria disse…
Acabada de chegar do Musical Wojtyla, onde cercada de amigos; chorei, ri, e recordei, sem saudosismos, a vida de um Homem, que se entregou a Deus num testemunho de toda uma vida … lembrei-me do Duarte, e de em tempos, termos falado do Papa João Paulo II… se tiver oportunidade e sem expectativas, vá… de coração aberto… … Foi bom sentir e ver os frutos que 26 anos, quase 27 de pontificado deixaram… e reconhecer algumas dessas sementes em mim…
Anonymous disse…
Maria, faz já algum tempo que não escrevo neste nosso blog. A verdade é que este mês tem sido uma azáfama tal que não me tem dado para parar e, se bem, que tenha tido tempo para descansar volta e meia, acabo por não ter o computador por perto...

Gostei imenso de ir ao Wojtyla, fui na passada 5.ª feira. Muito bem feito. Uma forma excelente de reviver aquele grande homem. O homem carismático, pessoa de acção mas também de profunda oração. Certo dia li uma frase dele que dizia algo como "vencer o Mal com o Bem". Ele foi incansável nisso: aquele atleta corria sem parar para vencer o Mal com o Bem.
Na sua velhice, continuava, já a sua cabeça tombava, a segurar bem forte o crucifixo, a sua cruz. Não sei se conhece o Velho e o Mar de Ernest Hemingway mas aquela luta com o grande merlin, durante dias, em que os dedos já sangravam, fazia-me lembrar este nosso Papa. É bom recordar este gigante do século XX. Achei curiosa aquela frase: "Vós jovens fazem muito barulho! Continuem assim!". Ele era jovem!

Quanto ao artigo na Visão, sabe, não ficou mal, mas fiquei um pouco irritado com a jornalista pois ela adulterou um pouco as minhas palavras... (acho que é habitual com os jornalistas).

Tem piada mas ontem recomecei a leitura do Principezinho. E as suas interpretações sobre a rosa fazem-me reflectir.

Duarte
Maria disse…
Duarte,

Ontem passei uma noite incrível a ouvir mais uma vez, o Bispo Dom Carlos Azevedo, que me tem cativado, aos poucos, como a raposa e o Principezinho. Admito que em mim existe alguma resistência, mas desde que crismou o Francisco, meu irmão, que passei a acompanha-lo com mais atenção, não querendo ser pretensiosa , que mão o sou, dei-lhe mais espaço, e de ano para ano gosto mais de o ouvir falar… de ver a forma simples, clara, mas profunda como toca os assuntos tão frescos e actuais. Já não é a primeira vez que o Dom Carlos me ajuda a questionar e entender esta nossa sociedade, a forma de a vivermos, e de a transformarmos, mas sem utopias, sem grandes mestrias; no concreto, real e directo do dia a dia…

Ontem ainda me ri, quando um dos assuntos tocados, foi o dos obstáculos e pesos que trazemos para a nossa vida… medos, ligações mundanas ao mundo material, egoísmos que nos tornam pequeninos e mesquinhos, os “tempos” a que estamos sujeitos… quanto mais o Dom Carlos falava, mais eu me ria… e como é tudo tão verdade… também já falámos disto… mas realmente, nunca é demais ouvir… já sabemos tudo… em teoria, temos 20 valores, mas chegando à prática, aí vem o mais complicado… não é verdade?

Seguindo a linha de raciocínio do seu comentário, porque será que as “pessoas” e neste caso falo concretamente na comunicação social tem tanta necessidade de alterar e dar, quase sempre, “um toque” na mensagem, e pior, nas palavras daqueles que lhes confiam pensamentos, ideais, projectos… honestamente, cada vez menos sigo os órgãos de comunicação social… telejornais desisti, ao fim de uma hora conseguia estar mais irritada do que no fim de todo um dia de trabalho… aí estava a nascer ,um sintoma, de que alguma coisa, não estava bem… hoje em dia resumo a minha informação aos Semanários, e cada vez mais aos cadernos e suplementos ou revistas de informação. É uma canseira, ter de ler e reler; fazer interpretações, para destrinçar a verdade da ficção, o concreto do exagero; compreender pontos de vista, e separá-los do sector das manipulações e demagogias.
E quando tenho tempo para ler, é para descontrair um bocadinho, este exercício diário, seria “um fardo pesado” por isso, entrego uma mísera parte, do meu pequeno fim de semana, a esses pequenos pedaços de papel reciclado tingido, com um cheiro tão característico, que sempre adorei e que me faz lembrar o escritório do meu Avô… aos olhos de todos, jornais , são sinónimos de folhas soltas e frágeis, mas que tantas vezes, são promotores de autenticas guerras de opinião pública, e pior, transportam “bombas de alta destruição” que atingem milhares de pessoas… são realmente um elemento importante e determinante nesta “mera capacidade” de controlar multidões e opiniões. Dos tempos da censura assumida, passámos para o controlo e manipulação de informação!!! O que será mais grave? O que terá maiores danos colaterais?

O Duarte faz uma pequena referência, tão simples como “(…) adulterou um pouco as minhas palavras... (acho que é habitual com os jornalistas)” e eu na minha “compulsividade” habitual, quase que faço uma dissertação sobre o tema :)
Maria disse…
Adiante…

Tenho que lhe confessar uma das minhas “falhas literárias”: li o “Velho e o Mar”, duas vezes na vida: uma, para aí no sétimo ano, quando a obra era dada no currículo, e mais tarde aos dezassete anos; apesar da temática me prender, o livro, nunca me disse muito… ainda no outro dia reli algumas partes, quando o Duarte falou do livro… e lá fui eu à procura do livro, cheio de anotações a lápis dos tempos do colégio, pior de tudo, com recados e conversas paralelas, entre mim e a minha querida amiga Rita, “companheira de carteira” durante esse ano, sem duvida um Clássico… e sim encontro toda uma mensagem que me envolve: quais os limites do Ser Humano? Toda esta questão da dignidade humana, que é vivida na simples figura complexa de um pescador; a questão dos simbolismos; dos diálogos; da aparente simplicidade com que é escrito… mas há qualquer coisa que não me deixa entrar na obra, e quando não entro na obra, não sinto, não me comovo, não me entrego totalmente aquela descoberta, acho que foi isso, nunca me “entreguei” a este velho, a este rapaz, e este cenário de solidão, luta interior, luta física, luta pela vida, pela sobrevivência, de quem dá tudo, não desiste, de quem chega a terra com uma carapaça, mas finalmente chega, derrotado mas com uma dignidade que nos “assombra”…

Hemingway, foi sempre um homem que questionei, todas as suas obras são fortes, típicas da época que o marcou e viveu mas existe, para mim uma “irritabilidade” em Hemingway, um sentimento que nos deixa em alerta… que ele era um homem que não estava em paz, todos sabemos, são muitos os que escrevem com tal profundidade, reflexão, coerência, lucidez e verdade; cenários que eles próprios não são capaz de viver, não digo isto de forma critica, acho que é uma característica de genialidade.


Acho que nunca lhe disse, mas depois dos livros o meu segundo vicio é o Cinema ou melhor os Filmes, porque cada vez menos consigo ir ao cinema ver todos os filmes que gostaria… é impressionante mas parece que deixei de ter tempo… ou são as sessões que não estão articuladas com os meus horários… bem não sei… mas no outro dia ia para casa, já à hora do jantar e passei no Beloura, onde gosto de ir ao cinema; menos pessoas, sessões mais compatíveis e filmes em cartaz até mais tarde, o que hoje em dia para mim é mesmo necessário, e reparei que um dos filmes que queria ir ver ainda lá estava… parei o carro e fui… acho que hoje em dia tenho que funcionar assim, um bocadinho na base da reacção imediata…

The Blind Side, do realizador John Lee Hancock. Um filme que toca muito toda a temática da resiliência e da importância da “aposta” que os outros fazem em nós, na importância das segundas oportunidades, dos tais “locais e sentimentos de pertença” de que o Duarte fala, e de como tudo isto pode ser determinante na construção do futuro de uma criança, neste caso concreto de um jovem… o filme toca muito esta capacidade de olharmos para a individualidade de cada um, e conseguirmos retirar e detectar “elevando ao expoente máximo” as suas potencialidades. Bom Filme.
Maria disse…
E como ir ao cinema sem apresentações, para mim , é como comer Happy Meal e não ter o boneco, o próximo, pela apresentação que vi, será sem duvida o tão esperado e lendário ROBIN HOOD, de Ridley Scott, um dos meus realizadores de eleição(American Gangster, Kingdom of Heaven, Hannibal, Gladiator entre muitos outros) para mim o mais absorvente neste realizador são os múltiplos ”jogos” que usa para nos levar a entrar nos filmes, as paisagens, as bandas sonoras, e o mais importante, a forma como trabalha as personagens, o que ele retira, até à última dos actores, não só a caracterização e a montagem da personagem… mas nos filmes de Scott dá sempre a impressão que se passou a barreira do possível, e quando todos estes elementos se conjugam somos “engolidos” numa imensidão, que a mim me ultrapassa. Scott trabalha de forma eximia todo o lado do herói, com a força, a rectidão, a honra, a dignidade, vimos isso com Russell Crowe no Gladiator, encontramos também esses mesmos elementos, na figura de Balian de Ibelim, protagonizado por Orlando Bloom, no filme Reino dos Céus, se ainda não viu tente ver que é “brutal”; cá está um adjectivo, usado pelos miúdos, tantas vezes para se referirem a alguma coisa surpreendente, e que uso quando excede as minhas expectativas e se torna um filme da minha vida… e já são tantos…

É bom ver que este nosso blog vai permanecendo… Acredito que não seja fácil “digerir a quantidade de informação que injecto em cada comentário mas nunca lhe escondi esta minha “pequena característica”… :)

Duarte, estava a ler um textos dos jesuítas e de repente houve um click… que me fez pensar que nunca lhe tinha perguntado, também nunca lhe fiz muitas perguntas na verdade, se o Duarte ao longo da sua vida nunca tinha pensado, na possibilidade de ir para Missão? Estas são as tais perguntas que não podem ser feitas sem tal frontalidade… e talvez por isso sejam perguntas de respostas silenciosas… desculpe se vou por caminhos vedados, mas muitas vezes a minha impulsividade leva-me aqui… Se o pensei, naquele dia, foi porque fiz “ligações” dos fragmentos e “bocadinhos de Duarte” que vou vendo e a pergunta, que naquele momento fizera, tinha, dentro de mim, sentido… E continua a ter…

Maria

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