Pegar na caneta...
Escrever. Para que te quero a ti, ó escrita?
Um bloco de papel, um lápis na mão. Uma folha em branco; um infinito de possibilidades e o desejo de uma escrita que seja luz: luz para mim, clarividência, revelação.
Sensações, sortido de cores, cheiros, movimento.
Para o mistério das coisas é preciso um olhar diferente: um olhar inebriado, uma loucura sem vergonha.
Para perscrutar é preciso parar. Respirar. Criar.
Criar o próprio olhar. Porque os olhos com que vemos não são apenas registo, são a cadência do nosso próprio mundo, que respiga no reverberar da nossa alma. Eles são caixa de ressonância.
Um bloco de papel, um lápis na mão. Uma folha em branco; um infinito de possibilidades e o desejo de uma escrita que seja luz: luz para mim, clarividência, revelação.
Sensações, sortido de cores, cheiros, movimento.
Por detrás de tudo há um mais-além, há todo um mundo a explorar. E olhar isso com os olhos de dentro ; porque os olhos de fora só reflectem como o espelho - mas os de dentro são ressonância.
A vida é rica. Imensamente rica. Tudo é rico.
Basta que nos entreguemos ao mistério do dom da vida.
Basta que nos entreguemos ao mistério do dom da vida.
Basta?!
Do mistério das coisas, nada se alcança com a lupa.
Para o mistério das coisas é preciso um olhar diferente: um olhar inebriado, uma loucura sem vergonha.
Para perscrutar é preciso parar. Respirar. Criar.
Criar o próprio olhar. Porque os olhos com que vemos não são apenas registo, são a cadência do nosso próprio mundo, que respiga no reverberar da nossa alma. Eles são caixa de ressonância.
Vence o mundo ou vence o nosso mundo?
Boa pergunta: nenhum tem que vencer. Têm é que se entender, comunicar. Olhar-se. Parar. Respirar. E, depois, voltar a comunicar-se.
E o olhar de dentro tem que dizer: melhor não faria! E o olhar de dentro tem que agradecer.
E o olhar de dentro tem que apontar. Apontar: é por ali!
E, de novo, todo um mundo novo se abrirá. Um mundo para conhecer. Para olhar. Para percorrer. Para comunicar. Para viver.
E o olhar de dentro tem que apontar. Apontar: é por ali!
E, de novo, todo um mundo novo se abrirá. Um mundo para conhecer. Para olhar. Para percorrer. Para comunicar. Para viver.
E a escrita, para que te quero? Quero-te para mim. Quero para melhor viver!
Porque sem ti o meu mundo não existe.
Porque sem ti o mundo derrota-me.
Porque sem ti aquilo que é belo fica sem voz. Porque contigo a minha alma vive.
Porque sem ti o mundo derrota-me.
Porque sem ti aquilo que é belo fica sem voz. Porque contigo a minha alma vive.
Comentários
Sei o que é “Luz para mim, clarividência, revelação (…) Um infinito de possibilidades (…) ” que consome cada bocado do que sou e que avança, no silêncio sábio de uma noite, de um dia... Dentro de mim surgem frases, palavras, partilhas, que “gritam” e que querem deixar de ser meras frases, parágrafos, pensamentos de vida, desprovidos de vida… Quis e quero, a escrita na minha vida porque ela é, talvez, o retrato mais fiel daquilo que sou; é nela que durante tardes, dias e tantas vezes madrugadas, me refugio, me procuro e me dou, toda, sem nada temer, sem nada esconder, sem nada negar… é dela que me alimento de esperanças, descobertas, pessoas… ela é a porta de chegada e a maior de todas as janelas para o mundo… de refúgio e isolamento, a escrita passou a ser ponte e ligação, foi mudança, foi encontro, foi vontade de ir mais e mais, de quem se entrega sem medos, sem limites, sem restrições…
Mas “ (…) por detrás de tudo há um mais-além. Por detrás de tudo há um mundo a explorar.” Um mundo que foi emergindo em mim sem que eu desse conta… que me levou a olhar, a procurar incessantemente, a querer sair dos papeis e das letras e sentir, o que olhos viam, sentir o que estava fora de mim, o que me rodeava; se aproximava, mas não entrava… não “joguei” com estes dois mundos, mas eles foram jogando comigo… a pessoa que se entrega à escrita é a mesma que procura no mundo… a pessoa que se entrega à escrita, é a mesma que espera do mundo… a pessoa que vive no refúgio seguro da escrita, é a mesma que se mostra, que procura olhares, procura reacções, que tenta por várias vezes superar-se, mas nem sempre consegue… e por isso, volta-se para o mais fácil, mais simples, mas também, para o mais verdadeiro que nela existe, a escrita.
… a escrita pode dar muito, no entanto, não dá tudo, pode haver partilha, reciprocidade, mas não há entrega total à vida… uma vida “imensamente rica” que corre dia após dia, semana após semana, ano após ano… e como procuro , todos os dias, viver este mistério!… mas nem sempre é fácil, romper com as múltiplas camadas que temos, com as dezenas de máscaras que usamos… como se perdura nesse “olhar diferente”, nesse simples, bom, confiante “olhar inebriado” de “uma loucura sem vergonha”?… sinto que sei… sinto que o vi e o reconheci, talvez até tenha experimentado, com verdade, num momento apresado de quem procura ter um discurso coerente, simples, claro, autêntico… mas não consegue… é o confronto com a intimidade e relação que vamos travando com a escrita e o “confronto” inesperado mas desejado com a vida, com o real, com o autêntico… com uns olhos que estão ali sem figuras de estilo, com uma conversa directa que não teve tempo de ser “preparada” na nossa cabeça ou de ser escrita num mísero papel… ali, naquele momento, é vida, não apenas fragmentos de vida, possibilidades de vida, ensaios de vida, como na escrita…
O meu segredo para entrar, e viver a vida é ESTAR… reconhecer o olhar, entregar-me ao olhar, sem máscaras… e com o TEMPO do estar, entender, comunicar, parar e “sentir este estar, permanecer…” “Melhor não faria!” Não seria eu…
E a escrita, para que te quero?
Também te quero para mim. Quero para melhor Ser, melhor Estar, melhor Fazer… crescendo em cada limitação que tenho… Porque em ti, a minha vida ganha sentido, ganha significado… ganha continuidade… Porque sem ti o mundo enfraquece-me, engole-me… em ti encontrei complementaridade, encontrei pontos de pertença, que me fortalecem que me dão ânimo e que me mostram, que não estamos sozinhos nesta procura permanente de SER MAIS… Porque “Tudo o que não se dá, acaba por se perder.” (Madre Teresa de Calcutá)
"...a escrita pode dar muito, no entanto, não dá tudo, pode haver partilha, reciprocidade, mas não há entrega total à vida… uma vida “imensamente rica” que corre dia após dia, semana após semana, ano após ano… e como procuro , todos os dias, viver este mistério!… mas nem sempre é fácil, romper com as múltiplas camadas que temos, com as dezenas de máscaras que usamos… como se perdura nesse “olhar diferente”, nesse simples, bom, confiante “olhar inebriado” de “uma loucura sem vergonha”?… sinto que sei… sinto que o vi e o reconheci, talvez até tenha experimentado, com verdade, num momento apresado de quem procura ter um discurso coerente, simples, claro, autêntico… mas não consegue… é o confronto com a intimidade e relação que vamos travando com a escrita e o “confronto” inesperado mas desejado com a vida, com o real, com o autêntico… com uns olhos que estão ali sem figuras de estilo, com uma conversa directa que não teve tempo de ser “preparada” na nossa cabeça ou de ser escrita num mísero papel… ali, naquele momento, é vida, não apenas fragmentos de vida, possibilidades de vida, ensaios de vida, como na escrita…"
Que acertado está. Não conseguimos verdadeiramente romper com as inúmeras máscaras que vamos pondo em nós. Porque precisaremos sempre de inventar para nós personas? Porque não podemos simplesmente Ser?
O caminho para sermos livres, despojados, verdadeiros começa hoje. Com pequenos passos de verdade. Fala-se muito da auto-estima, em nos promovermos a nós próprios o amor próprio, aquele amor que faz com que não peçamos desculpa por ser como somos e pelo que fazemos.
Quem uma vez me disse que a liberdade se constrói passo a passo foi um psicólogo espanhol com quem gostei muito de falar há cerca de 10 anos, em Madrid. E eu que tantas vezes tinha sido reactivo à vida, e que por vezes mostrava o meu descontentamento, resolvi adoptar um novo estilo: eu é que construo o meu futuro. Eu é que construo a minha vida. Sou o marinheiro no meu barco. Uma amiga espanhola que me abriu os olhos também pela altura, mostrou-me que só vale a pena viver um compromisso sincero com a vida. Agradeci-lhe.
Fazer-nos ao mar e tentar enfrentar o mar. Fazer-se ao largo. De "boas intenções está o Inferno cheio".
É claro que nós nunca temos tempo para preparar as coisas como fala, há sempre um quê de imprevisível na vida. E eu tive uma surpresa no Domingo passado que revela isso mesmo. Mas é quando vivemos com o coração aberto que as coisas se tornam mais interessantes. Não que tenhamos sempre a coragem de o viver assim.
Obrigado Maria pelas suas/tuas reflexões.
Depois de um dia grande e cheio… daqueles que nos deixam exaustos, mas convictos que todo o nosso esforço e trabalho valeram a pena… foi bom chegar a casa e ler as suas/tuas palavras… Já deitada, e depois de uma longa e boa conversa com uma Amiga, que por cá pernoitou, sobre “vidas” sinto que quero ,cada vez mais Ser, simplesmente eu, a Maria que todos vêm mas que nem todos conhecem, verdadeiramente… Quero juntamente, com quem tem a mesma ambição, fazer-me a esse imenso mar e pouco a pouco ir enfrentando-o e conquistando-o, na certeza que este me levará de regresso a Ítaca… aproveitando cada etapa e bocadinho da viagem… enriquecendo em cada conversa, em cada momento de patilha, cada encontro, cada descoberta…
Que esse tão esperado e desejado “caminho para sermos livres, despojados, verdadeiros (…) tenha começado hoje, com pequenos passos de verdade… simples, mas significativos, aparentemente distantes, mas presentes…
Obrigada Duarte, por encher a minha vida de tantas interrogações boas, necessárias… sempre fugi desta sensação, mas realmente é inebriante, e leva-nos a querer ir mais e mais além… Que venham estes tempos…
Boa noite
maria
Acabei agora de vir dum almoço-palestra dada pelo António Lobo Xavier sobre a vinda do Papa a Portugal. Este Papa é a sabedoria em pessoa. Aliás esta semana pode-se dizer que foi rica no tema da sabedoria... Fui ao CCB antes de ontem ouvir falar sobre "Procura da Sabedoria, Partilhar o Conhecimento", um livro escrito pelo Prof. Daniel Serrão que se tem dedicado a questões da Bioética. Lá encontrei uma Professora da Universidade Nova de Lisboa que no ano passado tive como professora num cursinho duma semana. Ela chama-se Isabel Carmelo Rosa Renaud e é uma pessoa muito simpática. Estive a perguntar-lhe se há mais cursos este ano. Merleau-Ponty e a fenomelogia... Não sei se será para mim... no ano passado era Aristóteles: bem interessante...
Mas estive também na 3.ª feira com um amigo meu, mais velho, que de tanto batalhar em dificuldades difíceis para ir vivendo e sustentar a família - ele e a sua mulher - está em processo de separação. Não posso deixar de ficar com pena destas situações, em que pessoas como este meu amigo sucumbem ao peso do dia-a-dia, não conseguindo nem o descanso, nem a paz, nem o tempo, nem o dinheiro... suficientes para viver felizes. Enfim... que fazer?
Resta-me a mim agradecer por tudo o bom que tenho. Pelo trabalho, pela família, pelos amigos, por todas as coisas de que vou beneficiando: como o de hoje ter ido assistir a um testemunho inteligente de um homem que me parece viver empenhado.
Bom, amanhã será feriado, devo ir assistir a um evento interessante de cavalos (Festival Internacional do Cavalo Lusitano) a Cascais. Se estiveres por cá, acharias piada dar lá um salto? E/ou comer um gelado ao Santini? Não sei se estará bom pela praia, mas mesmo que esteja ao fim da tarde sempre dá para um bom gelado do Santini! o meu nr de tm é o 966248953. Manda-me um sms que eu ligo-te depois.
Dás-me a honra de conversar contigo depois de te admirar no texto escrito?!
Duarte