Que lugar para o patriotismo?

Portugal, que país és tu?
Um país que cantámos no Passado, mas a que hoje lamentamos de pertencer. País que invocamos, pelas glórias do Passado, mas a que hoje todos se envergonham de pertencer. Falamos de "fazer à Portuguesa" para descrever a falta de qualidade naquilo que fazemos, a trapalhice, a desorganização, o chico-espertismo. Portugal não é sinónimo de qualidade. Comparemos por exemplo com a Suiça: este país é sinónimo de qualidade, de coisas bem feitas. O nome "Suiça" vende. Um canivete suiço, um chocolate suiço, tantas coisas mais que se valorizam por ter lá o nome "Suiça".
As coisas são assim porque nós sujamos o próprio nome de Portugal nas conversas que vamos tendo.
Não que as coisas estejam bem, não estão.
Será que compreendemos que o nosso País é dos que tem um maior atraso cultural em toda a Europa? E que está na periferia, na finisterra da Europa?
Enquanto os Países Protestantes puseram quase todas as pessoas a ler no séc. XVI (a Imprensa da Gutenberg deu uma grande ajuda), os Países Católicos mantiveram-se durante muito tempo terras inférteis ao desenvolvimento da literacia. Não fora o esforço dos jesúitas que abriram colégios para educar as elites a partir também do séc. XVI e nós teríamos permanecido totalmente iletrados, ignorantes. Mas o que se passou com esta elite? Terá sido utilizada, e bem, no nosso esforço de Expansão, foram gente que mantinha o nosso Império, que ía para a nossa Goa, que era a Administração de Moçambique, oficiais das nossa Marinha, diplomatas, etc.
O nosso problema foi sempre o número. Tivemos pessoas de qualidade, mas nunca tivemos um povo culto, ilustrado, com a chamada "massa crítica", só para utilizar um termo que hoje em dia está muito em voga.
Há 100 anos, exactamente há 100 anos, quando foi a implantação da República, 75 % da nossa população era analfabeta. Hoje ainda, 80 % dos nossos empresários só têm 9 anos de escolaridade e 60 % da nossa população adulta só tem 6 anos de escolaridade.
O caminho faz-se caminhando diz a expressão. Já caminhámos bastante, partimos muito atrás de muitos outros, de quase todos os outros que são os nossos "colegas" da Europa.
A falta de qualidade naquilo que fazemos, a trapalhice, o chico-espertismo, não são mais do que o nosso atraso cultural. É natural, quando nos comparamos com outros, e quando temos que competir com os outros, que sejamos o aluno cábula, o aluno que tenta copiar. Ao nosso lado está um atleta que já é experiente, que tem confiança em si. "E se tentássemos viciar os dados da questão?" "E se tentássemos iludir os outros?" São respostas humanas à fragilidade daquele que se vê menos musculado, menos capaz. O atleta menos capaz sente-se frustrado por ficar para trás e tenta enganar. Ou então, o que muitas vezes acontece, corre e corre, mas não gere o esforço, não é bem treinado. Desiste a meio caminho da meta, porque, no seu voluntarismo desacreditante não domina a sua máquina, não sabe tirar o melhor partido dela.
Seria bom que não fizessemos juízos generalizantes, que não poluíssemos a nossa linguagem de palavras infecundas como as que tanto grassam: "É sempre assim!";"Este País não vai a lado nenhum!".
Perguntei no título "que lugar para o patriotismo?"
O lugar para o patriotismo está dentro de nós. Está no amor que temos aos lugares que para nós foram importantes na nossa vida.
O lugar para o patriotismo está nas pessoas que se cruzam connosco, na maneira como estamos com elas, na maneira como tentamos fazer dos nossos espaços, lugares para se viver.
O lugar para o patriotismo está em tentarmos educar as nossas crianças, em tentar ultrapassar o enorme fosso cultural que existe e a que já fiz referência.
O lugar para o patriotismo está em tentarmos construir um Futuro melhor. Em todos os dias procurar as melhores soluções para as nossas empresas, as melhores soluções para as escolas dos nossos filhos, para o nosso prédio, para a nossa rua. Com os outros, em diálogo com os outros.
A bandeira portuguesa é a nossa bandeira.
A bandeira portuguesa é a bandeira por qual muitos já deram a vida.
A bandeira portuguesa é a bandeira que esvoaçoa no alto de tantos monumentos que contam a história desta terra.
Somos Portugueses. Temos uma língua própria. Não gostaríamos de ter outra língua, de falar outra língua. Conhecemo-nos falando esta língua. Foi a língua com que crescemos, a língua com que aprendemos a ler, a língua com que nos expressamos, com que fazemos amigos, com que trabalhamos.
A nossa língua é a nossa expressão. A nossa língua é um espaço de vida. Revela uma forma de comunicação. Uma forma de ser.
E como é nossa, e como nos devemos amar, como gostamos de gostar de nós próprios, viva Portugal, viva Nós! Amemo-nos a nós próprios! Gostemos de nós! Ganhemos à Espanha, hoje que nos batemos com esta terra donde nos forjámos e a quem arrancámos a ferros a nossa independência!

Comentários

Maria disse…
Duarte,

Tinha e tenho um texto gigante, para de toda esta "Pátria" falar… o texto guardo está e talvez um dia se torne “publico”…

Mas foi nesta frase que me marcou este tempo… Que Brutal Verdade…

“Agora que partiste.
Agora que partiste já percebeste e viste que o Deus que combateste e em que não acreditaste existe.

Que Ele quer junto de Si tudo o que criou: até o filho que Lhe virou as costa se O negou.”

Inácio Rebelo de Andrade

Fica prometido uma pequena “dissertação gigantesca” sobre este o que é Ser Português, que em mim, talvez por o viver de forma intensa, me toca em tudo o que sou…

Talvez não entenda o porque desta temática neste seu testemunho… mas para mim fez muito sentido… e quando faz sentido… já sabemos como é…


Maria

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