Nobreza de Espírito



Há poucos dias voltei-me a encontrar com a Sandrine de Monsabert. Foi minha colega em Paris, no Institut Pédagogique de Paris. Gostei de estar com ela.  Nota-se que o tempo tem sido um pouco duro com ela. Disse-me que está há cerca de 2 anos desempregada - na conversa às tantas disse-me que as Ciências da Educação não pagam - e lembro-me que ela tinha um marido um pouco frágil, muito afectado por um sentimento de se sentir dominado por ela... ela é que é o braço armado daquela família, a força motriz. Na verdade, sente-se a falar com ela que ela de feminino pouco tem mais: já foi uma mulher bonita, afirmativa e decidida e isso deve ter tido o seu encanto. Mas hoje, envelhecida pelo cansaço e engordada pela azáfama dos dias e pelo descuido de si própria, mais parece uma parideira, que deu ao mundo 5 filhos. Da mais velha ao mais novo, filhos educados com valores e sem luxos. É assim a Sandrine, uma lutadora por causas, empenhada, mas também só.


Fomos almoçar a uma esplanada em Belém. Comemos bacalhau - eu umas pataniscas de bacalhau acompanhadas com arroz de feijão; ela um bacalhau à braz. 
Na conversa com ela fez-se notar a radicalidade da sua pessoa. Ser radical é ir à raiz das questões, pautar-se por se colocar naquilo que é a verdade das coisas. É uma pessoa desinstalada, nada burguesa. 
A radicalidade dela, o facto de acreditar em valores e de tentar ser coerente com eles e de ir n'importe où para os defender fazem dela uma pessoa exemplar.
Falei-lhe um pouco da minha prática profissional e houve certas coisas que me fizeram pensar, revendo maneiras de actuar. É importante termos pessoas assim que nos fazem abrir os olhos e sermos atentos ao modo como procedemos.

Chamei a este pequeno texto "nobreza". Nobreza, tal como Oscar Wilde a descreve nos seus contos infantis como o "Príncipe Feliz". Essa é a nobreza de Jesus Cristo que se despoja de si mesmo e que se dá todo inteiro. A nobreza daquele Princípe Feliz que dá o ouro de que se reveste e as pedras preciosas para que aquele jovem possa ter dinheiro para comer, para que aquela mãe possa ter um vestido para se vestir, etc...

A Sandrine não deixa de ter uma certa nobreza, a nobreza de se dar toda inteira aos seus filhos. De se dar toda por inteira àquilo em que acredita. Ela não quer nada para si.

Há um livro de que gostei de ler e que se chama "Nobreza de Espírito". É uma análise de um autor holandês sobre a virtude do Ser Humano, numa altura em que se cometem tantos crimes e atrocidades. 

A Susana Tamaro tem bonitos textos sobre esta qualidade. Ser nobre é manter também uma certa inocência.  

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