Beleza

O que é a beleza?
Duvido que alguém não a reconheça quando a vê, ela é completamente evidente. Um exemplo: uma mulher bonita, ninguém fica indiferente.
A beleza toca-nos.
Uma bela paisagem, alguém duvida que ela o seja?
Mas será que ela é solene? Solene, no sentido em que ela é formal?
Poderemos nós, hoje, ter o culto apenas do banal? Do que é normal?
Mas eu creio que a beleza não é solene, ela pode ser solene, Versailles é solene, mas uma casa de pedra numa pequena vila de França, um cottage numa quinta inglesa, um ribeirinho a correr com água fresca, são imagens de beleza que nos dão paz, e não são solenes. Uma paisagem pode ser solene: a descida para a Fajã do Santo Cristo nos Açores é uma imagem solene. É duma solenidade quase religiosa. Divina.
Mas a fealdade também pode ser solene. Vejamos a opolência de um Ceausescu em Bucareste no seu horrível palácio; a solenidade da Coreia do Sul. 
Não, a beleza não é solene. 
A beleza só nos faz acordar e por vezes faz-nos acreditar que há coisas para lá do que seríamos capaz de sonhar. 

Palavras do Papa Bento XVI, Encontro com os Artistas, 21 de Novembro de 2009:

«Infelizmente, o momento actual está marcado não só por fenómenos negativos a nível social e económico, mas também por um esmorecimento da esperança, por uma certa desconfiança nas relações humanas, e por isso crescem os sinais de resignação, agressividade e desespero. Depois, o mundo no qual vivemos corre o risco de mudar o seu rosto devido à obra nem sempre sábia do homem o qual, em vez de cultivar a sua beleza, explora sem consciência os recursos do planeta para vantagem de poucos e não raramente desfigura as suas maravilhas naturais. O que pode voltar a dar entusiasmo e confiança, o que pode encorajar o ânimo humano a reencontrar o caminho, a elevar o olhar para o horizonte, a sonhar uma vida digna da sua vocação, a não ser a beleza? Vós bem sabeis, queridos artistas, que a experiência do belo, do belo autêntico, não efémero nem superficial, não é algo acessório ou secundário na busca do sentido e da felicidade, porque esta experiência não afasta da realidade, mas, ao contrário, leva a um confronto cerrado com a vida quotidiana, para o libertar da obscuridade e o transfigurar, para o tornar luminoso, belo.
De facto, uma função essencial da verdadeira beleza, já evidenciada por Platão, consiste em comunicar ao homem um "sobressalto" saudável, que o faz sair de si mesmo, o arranca à resignação ao conformar-se com o quotidiano, fá-lo também sofrer, como uma seta que o fere, mas precisamente desta forma o "desperta" abrindo-lhe de novo os olhos do coração e da mente, pondo-lhe asas, elevando-o. A expressão de Dostoievsky que estou para citar é sem dúvida ousada e paradoxal, mas convida a reflectir: "A humanidade pode viver – diz ele – sem a ciência, pode viver sem pão, mas unicamente sem a beleza já não poderia viver, porque nada mais haveria para fazer no mundo. Qualquer segredo consiste nisto, toda a história consiste nisto". Faz-lhe eco o pintor Georges Braque: "A arte existe para perturbar, enquanto a ciência tranquiliza". A beleza chama a atenção, mas precisamente assim recorda ao homem o seu destino último, volta a pô-lo em marcha, enche-o de nova esperança, dá-lhe a coragem de viver até ao fim o dom único da existência. A busca da beleza da qual falo, evidentemente, não consiste em fuga alguma no irracional ou no mero esteticismo».

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