Como a brisa que passa

A importância de bons ambientes, de ambientes de paz, onde o ser humano se sinta bem e se possa desenvolver.  Chegado da Casa Velha em Ourém, com baterias recarregadas - mais tempo houvesse, e mais em paz me encontraria. O tempo lá passado foi revigorante, dois dias já deu para muito.
Simplicidade e fruição de um espaço de encontro. Com a natureza (a luz e a paisagem, as árvores e o canto dos pássaro), com os outros, connosco e com Deus. Não forçadamente nesta ordem e não forçadamente de forma cumulativa, mas de modo completo, como se em cada encontro se preenchesse o todo. O conforto de um lar, das lareiras acesas e das memórias, repleto de estantes com livros, fotografias e quadros. Tectos de caixotão e chão de madeira, janelas de guilhotina, os raios de luz a irradiarem e uma varanda em que o sol nos aquece todo o ser, incluindo a alma. Os espaços habitados de presença, de espiritualidade e pelos afectos. Nada é insípido. Tudo tem a patine do tempo, experimentada no ranger das tábuas de madeira dos corredores, ou subindo e descendo os degraus das escadas, cruzando-nos com os livros nas prateleiras já há muito lidos - ou pousados apenas há dias, num ritual tantas vezes repetido - ou ainda nos vasos antigos com flores, em cada beirado, com uma flor a espreitar pelo meio de umas tantas folhas de verde discreto. Que estes pequenos absolutos tornem o olhar mais sereno e tão ligeiro como a brisa fresca que sopra num dia de Primavera.  

Comentários

Anónimo disse…
" (...) com os outros, connosco e com Deus. Não forçadamente nesta ordem e não forçadamente de forma cumulativa, mas de modo completo, como se em cada encontro se preenchesse o todo."

Acredito que esta aparente chave simples, descodifica a nossa existência. Pode não haver uma ordem, uma lógica inicial, mas haverá sempre um caminho que cada um constroi em si.

Descobrimo-nos na relação com os outros;Descobrimo-nos na relação com Deus; Descobrimos os outros na procura do que somos; Na procura e encontro com Deus.

E é isso... é como se cada encontro verdadeiro com o universo alinhasse e fundisse todos estes elementos... E depois surge uma Paz, uma calma que nos preenche, nos invade, nos torna plenos, completos... Mas quer a nossa condição humana que este bom sentimento seja efêmero, como a brisa que passa... podendo sempre, ser alcançado ao longo da nossa vida!

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