A minha experiência no País da comunicação social

Não percebo porque é que na nossa terra os jornalistas têm email, geralmente nunca respondem, provavelmente nem lêem a maior parte deles. Mais difícil ainda é ligar-lhes, chegar a falar com eles se não os conheces. Se vens por entreposta pessoa, podem ser simpáticos contigo, normalmente são-no. Recebem-te bem, mostram grande abertura às tuas idéias. Mas entretanto, aquilo que combinaste, aquele email a explicar melhor a tua idéia, o teu projecto, a tua iniciativa, esfume-se na lista de emails por responder. Acredito que possam ter os computadores a transbordar de solicitações e ter pouco tempo para ver um a um. Seria por isso que se justificaria que o jornalista fosse alguém metódico, organizado, que soubesse priorizar. Mas numa sociedade de informação excessiva, também eles serão vítimas do urgente e da incapacidade de pensar, de reflectir. 
Cada vez menos se vende jornais. Só para dar um exemplo, o Diário de Notícias, o mais emblemático jornal, deixou de ter edição diária. Nas redacções dos jornais tem que se encher as páginas da edição seguinte. Nelas se acotovelam repórteres, jornalistas de gabinete e pessoal administrativo num ambiente humanamente vivo e estimulante. Mas o pessoal que aí trabalha é precário e mal pago. Como poderiam elas ser pessoas interessantes, curiosas e cultas? A generalidade não o é. São pessoas que seguem a carneirada dos lugares comuns, que não têm espírito crítico, que têm uma formação cultural medíocre. E assim se dá cabo do jornalismo, que teve já melhores dias.
E, depois, a generalidade dos que são interessantes e cultos, só falam com quem querem e têm um grau assinalável de soberba. Sabem que têm poder e habituaram-se a fazer também o que querem, só a ligarem ao que lhes apetece. Consideram-se fazer parte duma classe à parte, a dos independentes e dos escrutinadores, aqueles que controlam os poderosos - sem curar muito ou pouco de regras de boa educação, acham eles porque para se ser independente tem que se ser mal-educado. Combinaram algo?! "Pois é, entretanto meti férias, passei a um colega", poderia ser uma resposta típica.
Tens que ser alguém ou conhecer alguém importante para seres ouvido.
Ou dar algo: que tal uma festa de apresentação do último modelo da BMW ao fim dos dia à beira Tejo?! Se és duma agência de comunicação então óptimo. "Que tal um patrocínio da EDP?! Fazemos um evento sobre mobilidade em conjunto? É claro que sim!"
Se não és da EDP e não tens uma 3Gorges por detrás, podes fazer projectos na área da Educação, da Cultura, da Sociedade, mas basicamente na opacidade.
Ou então mandam-te um repórter sem qualquer cultura, que se engana no teu nome ou no da instituição, que troca tudo o que dizes e ainda te arranja complicações por aquilo que te põe a dizer!
A relevância do interesse publico onde fica?
Os melhores jornalistas editam política, economia, desporto, mas uma vez mais sem grande recuo crítico e capacidade de análise que não seja circunstancial - e ainda quase sempre não perceberam que a democracia começa à nossa porta. São os problemas da nossa rua, é aí que começa tudo. É a voz dos que a mereciam ter e dos problemas que mexem com as pessoas. Isso é que seria independência, isenção, qualidade no jornalismo.  
Vale a penas lembrar-nos de homens como Fernando Pessa para nos lembrar-mos de toda uma postura diferente, de boa educação e cultura cívica. Aprendeu o ofício com os melhores. Aprendeu-o com a BBC. Aí, uma Katty Kay ou poderia ser um ou outro qualquer dessa grande escola, fala com a mesma propriedade da situação politica do Trump como dum problema qualquer numa pequena vila do Alasca que está a debater-se com problemas de poluição.
Um jornalista que não sabe fazer questões e que não sabe falar sobre a realidade de uma forma interessante, é apenas um funcionário, um mau funcionário. E infelizmente temos muitos desses no jornalismo em Portugal.














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