O Estado da Nação
A globalização tem destas coisas: somos infectados por todo o tipo de vírus, não nos escapa nem o corona, nem tampouco o vírus do desnorte que nos leva a rodar tipo catavento, para onde o vento sopra. A falta dum pensamento estratégico é uma consequência directa deste segundo tipo de virus.
Nos recentes episódios das estátuas - que o tempo já quase apagou da nossa memória, pois já se seguiram todo o tipo de notícias, muito centradas em casos de corrupção como o que envolve o Espírito Santo e que grassam por cá, ou nos sempre estridentes gritos do mundo do futebol como p.e. aquela que nos dá nota do regresso de Jesus, só mesmo apelando à primeira pessoa da Santíssima Trindade para nos livrar de tanto erro e tanto engano, podemos reganhar alguma paz para perspectivar o mundo que devemos procurar construir.
Fazendo um pouco de exercício de memória, os presentes tempos pedem-nos pessoas que se façam respeitar como foram o caso de Vasco Graça Moura e António Mega Ferreira, que enquanto tomavam uma refeição, sonharam em comemorar os 500 anos do caminho marítimo para a Índia e lançaram a ideia da Expo 98. Foi um verdadeiro desígnio nacional, que não fora a autoridade de ambos e a respeitabilidade que inspiravam e facilmente nos teríamos enredado numa discussão politicamente correcta, estéril e desmotivante.
Gostava de perguntar se o exercício de uma experiência comemorativa, como aquela que se viveu com a Expo 98, não foi a capacidade de encontro e de festejar a partilha a uma humanidade maior, mais do que o que muitas vezes se discute, na banalidade e mediocridade do pensar baixinho, que estas datas evocam no espírito de muitos intelectuais e supostos bem-pensantes?
Recentemente, também Tolentino de Mendonça, no dia de Portugal, festejado nos Jerónimos por um grupo de apenas 7 personalidades, representantes dos órgaõs de soberania - e em última instância de todo um País fechado em casa, relembrou Luís de Camões, cujos Lusíadas são antes de tudo um manual de cabotagem na vida.
A discussão sobre um Museu das Descobertas inscreve-se nisto: Lisboa uma cidade aberta ao mundo, enriqueceu grandemente pelo rasgar dos oceanos e faz falta um lugar que permita que Lisboa viva essa experiência, não se esquecendo dela, educando quem por lá passe, tanto as novas gerações como os cidadãos comuns, alargando a sua cultura, abrindo vias de interrogação, de espanto, aguçando a curiosidade e promovendo a interacção e o debate.
Existe em Lisboa o Museu de Marinha, que é extraordinário pelo seu espólio, mas muito antiquado.
Recentemente passei pelo Museu da Marinha de Amesterdão https://www.hetscheepvaartmuseum.com/ e parece, em comparação, da Era Lunar!
Hoje os museus promovem uma narrativa, aliás ensaiam uma série de vias narrativas, provocando o visitante. Pense-se no Vasa em Estocolmo. Um museu sobre apenas um barco, um lindíssimo navio que afundou na própria cerimónia de inauguração e que esquecida a enorme humilhação só resgatado das águas passados 333 anos! https://www.vasamuseet.se/pt.
O que nos ensinam tempos de crise é que precisamos de pessoas que consigam olhar para a frente, não se deixem levar para a discussão no lodo.
Ontem via um documentário sobre personalidades marcantes do pensamento italiano. Falava-se sobre Franco Modigliani, Prémio Nóbel da Economia https://pt.wikipedia.org/wiki/Franco_Modigliani. Dizia ele que ter vivido grande parte da sua vida na América num período de grande prosperidade fez com que tivesse tido uma vida muito boa.
E pensei imediatamente na vida de tanta gente em Portugal nos nossos dias:
1. Que riqueza se produz no nosso país?
2. Quais são as empresas prósperas que permitem distribuir riqueza?
3. Quantos investimentos (nomeadamente estrangeiros) não são comprometidos pela enorme carga burocrática que esgota toda a energia criadora?
4. E nós próprios, quanto do nosso tempo não é utilizado em resolver problemas que nos tiram toda a energia e vontade de inovarmos e termos uma vida cheia e interessante? (lembro-me certo dia de estar em trabalho numa CM deste país e alguém irritado com a burocracia dizer: se houvesse tanta burocracia no tempos dos Descobrimentos, nenhum barco teria saído do cais!)
Hoje comprei um livro recentemente lançado: "Esperança e Reivenção, ideias para o Portugal de Futuro" (coord. Luís Ferreira Lopes, Ed. Guerra e Paz). Tenho alguma curiosidade.
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