Soberania Nacional
Na biografia
de Charles de Gaulle de Éric Roussel, publicada pela Verbo, lia
ontem no II volume sobre o fim da carreira deste estadista em que, tendo perdido um
referendo, o gigante gaulês parte para a Irlanda e se encontra a certo momento
com De Valera. Têm várias conversas. Numa das conversas que ficou gravada, De
Valera diz:
"Quando estive na América, há muito tempo,
disse que era de desejar a criação dos Estados Unidos da Europa; depois
regressei a casa. Reflecti e avaliei o meu erro. Nenhum indivíduo deve
renunciar à sua casa. O mesmo se passa com uma família ou com uma nação".
Charles de Gaulle:
"É exactamente isso que eu penso".
Esta semana, recebi dum amigo uma notícia publicada na imprensa, segundo a qual, a Comissária do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, apresentava um memorando a respeito da monitorização dos direitos humanos em Portugal, tecendo comentários sobre o racismo no nosso país e sobre a forma como lidamos com o colonialismo, dizendo que o país tem que fazer mais nomeadamente ao nível da educação:
https://www.reuters.com/article/us-portugal-rights-racism-idUSKBN2BG138
No memorando, a Comissária considera que o país
necessita confrontar o seu passado colonial: “É importante tomar consciência das estruturas
historicamente repressivas do colonialismo, dos preconceitos racistas
entranhados na sociedade e das suas ramificações até aos nossos dias”, afirma a Comissária.
Fiquei irritado, confesso. Considero isso um imiscuir em assuntos que não lhes dizem respeito e acho inacreditável como é que deixamos que alguém venha de fora comentar algo subjectivo, ideológica e politicamente parcial, tecendo criticas com uma certa sobranceria moral, distendendo sobre os nossos políticos (sejam eles do Chega ou quaisquer outros) - matéria de política interna, ou tendo o descaramento de falar sobre os conteúdos programáticos dos currículos escolares, etc.
O espaço público está contaminado por uma guerra ideológica entre campos adversos que não se querem ouvir, em que uns e outros lançam achas para a fogueira, a ver quem fica na dianteira. Acusam processos históricos, fazem as suas interpretações sectárias, minando o ambiente de conflitualidade. O que a Comissária fez foi naturalmente contribuir para esse digladiar e contagem de espingardas.
Mas a questão é que há assuntos que não discutimos sequer com quem está de fora. Na nossa casa mandamos nós. Seria o mesmo que alguém de fora dizer que devemos educar os nossos filhos desta ou daquela maneira. Não sei o que o Ministério dos Negócios Estrangeiros fez sobre o assunto, mas se eu fosse ministro mandava ver bem que este assunto é reserva da nossa soberania. Quem convidou a Europa e esta senhora a meter-se desta forma em nossa casa e a fazer afirmações/acusações desta gravidade?!
Passamos bem sem os "bons conselhos" desta senhora...
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