Exortação aos alunos do 11.º e 12.º do Colégio Planalto
Ontem estive, a convite do Prof. António José Silva Marques, no Colégio Planalto. Tinha-me ele pedido que falasse um bocadinho da minha experiência e que deixasse algumas palavras aos alunos do 11.º e 12.º.
Acho que a iniciativa tem todo o mérito: trazer pessoas mais velhas que podem, de alguma maneira, num clima de troca, criar pontes com uma geração mais nova. E que podem ajudar a amadurecer ideias. Comecei por dizer isso mesmo àqueles cerca de 30/40 alunos. Um dia perguntaram a um Professor de Oxford o que fazia daquela instituição uma instituição tão bem sucedida. Ele respondeu que era fácil: "andamos há mais de 1.000 anos a conversar".
Queria ter começado por dizer que, com a idade que eles têm, não devem perder uma coisa: que é a capacidade de acreditarem. É muito próprio do processo de envelhecimento - não digo crescimento - deixar-se de acreditar, achar que não é possível, que é muito difícil. Enfim, acabar por ser um "Vencido da Vida" e não um "Vencedor da Vida".
Mas fui directamente para a minha exortação, baseada em dois princípios:
1. Não ser um mole. Ser um mole é deixar-se levar, ser indiferente às coisas, não lutar, não trabalhar. A vida só vale verdadeiramente se tivermos objectivos e não nos ficarmos pelo fácil. Que desperdício enorme, uma vida que não se vive com empenho, com esperança, com alegria.
2. Não ser palerma. O que é um palerma? Dei um exemplo, que para mim tem toda a validade: acho que Saramago é um palerma! Uma pessoa que se leva demasiado a sério. Que não se ri. Que acha que ele é que tem toda a razão, que os outros são todos estúpidos. Recentemente fez declarações sobre a Bíblia, para chocar como é seu apanágio. Para chocar e para, provavelemente, vender o seu novo livro. Falei-lhes num livro de Graham Greene que me deu imenso gozo ler. Seu nome é Monsenhor Quixote e trata-se de uma divertida história, na senda de Cervantes, passada numa Espanha no imediato pós-Franco, em que um Padre (Monsenhor Quixote) e um alcaide comunista (Sancho), partem em viagem pelas planíces espanholas, num velho Seat (El Rocinante). Acompanhados de boa pinga e de queijo manchego, têm conversas e discussões interessantíssimas sobre as suas crenças. Sim, porque o comunismo é também uma crença. E apesar de todo um mundo de crenças que os separa, descobrem que a sua condição de homens e as suas dúvidas os aproximam. Sim dúvidas! Ambos as têm! E todos nós as temos: Manuel de Oliveira, o cineasta mais velho do mundo - passou os 100 anos, um humanista - se bem que os seus filmes não sejam fáceis de seguir...- que no próximo ano, a 12 de Maio, vai falar no CCB para Bento XVI, diz que sendo cristão, teve muitas dúvidas ao longo de toda a sua longuíssima vida - "como todos os grandes santos". Sim dúvidas, vamos tê-las. Mas voltando à exortação, a este intitulado 2.º princípio "não sejam palermas", disse-lhes para não serem intelectualmente desonestos, presumidos. Acho que fica muito mal! Infelizmente é o que graça mais na nossa política, vêmo-lo p.e. na Assembleia da República. Porque nunca é possível estabelecer um diálogo? Porque nunca é possível entendimentos? É porque não temos gente com sentido de Estado e de responsabilidade. Dei dois exemplos de pessoas que acho que transcenderam neste aspecto no século XX e que deviam ser olhados como exemplo: Gandhi e Nelson Mandela. Nunca foram desleais com os seus adversários. No caso de Mandela, depois de quase 30 anos preso, o mais natural e, se calhar o mais justo, seria que houvesse retaliações contra o terrível regime do Apartheid. E aquele homem, pediu que não as houvesse; aquele homem salvou um País da guerra civil.
Terminei por dizer-lhes que não interessaria o que concretamente cada um fizesse como profissão. Façam o que fizerem, façam-NO bem. O primeiro princípio da ética é a competência. Cada um faça o que tiver ao seu alcance fazer para um mundo melhor.
Fui chato?
Espero que não, que não tenha sido sentido como mais um tipo a dar um sermão!
Comentários
Obrigado Maria, as suas palavras deixam-me sem palavras...
O Santo Padre João Paulo II, o homem que lutou até ao fim, agarrado à cruz e que disse que há que vencer o Mal com o Bem. Sim, há mal neste mundo, não é invenção. Para mim, o que mais distingue os homens é a sua bondade, não a sua inteligência ou eficiência ou qualquer outra coisa. Aí está para mim - na bondade, a maior virtude que alguém pode ter.
Enfim, as suas palavras deram-me ânimo! E repito este trecho:
"Não te contentes com os debates; não esperes, para fazer o bem, as ocasiões que talvez nunca se apresentarão. Chegou a hora de agir!”
Foi este sentimento, que hoje se apoderou de mim… não esperava… e que me levou de volta a este blog … Foi bom ler tudo o que já foi escrito…
Hoje procurarei não me esquecer de uma das máximas que está sempre presente na minha vida e que ao longo dos anos me tem “contaminado”nesta vontade maior de “Ser Mais”:
“Todos fomos criados para ser deuses, não no sentido de sermos perfeitos ou virtuosos, mas no sentido de atingirmos o máximo de que somos capazes, de visarmos atingir a plenitude do nosso ser, na integridade, na generosidade, na capacidade de realização e no entusiasmo.” (Maria Ulrich)
Maria