Crónicas de Nárnia - literatura do fantástico
C.S. Lewis, professor de Literatura e Filosofia em Inglaterra durante a primeira metade do século XX é o autor das Crónicas de Nárnia, uma série de 7 livros que que se tivessemos que classificar diríamos que pertence à chamada "Literatura do Fantástico".
Este homem, que é duma clareza e lógica impressionantes em textos como "Mere Christianity", nesta série de livros realiza uma saga em que algumas crianças são transportadas para um mundo diferente e postas à prova.
Num texto muito apelativo ("João Sem Medo"), Gomes Ferreira, fez também aquilo que C.S.Lewis tão eficazmente consegue: criar um universo de personagens que põem à prova o carácter da pessoa. Ora vemos João Sem Medo a saltar o muro para a floresta e a deparar-se com o gramofones (que sempre dizem a mesma coisa, e nada de interessante...), com um príncipe feio (inseguro e, se calhar por isso, déspota), com uma natureza hostil, um deserto, um pântano, etc, etc. Não são tudo isso parábolas?!
C.S. Lewis faz aquilo que se pede a um pedagogo. Grandes questões filosóficas são respondidas com imagens vivas, interpelantes.
Curioso notar que um dos pontos de ordem que subjaz às histórias está a questão da importância do acreditar, do acreditar como forma de se estar vivo.
As virtudes e o heroísmo contadas de uma forma que não soa a lição de moral.
Comentários
“Curioso notar que um dos pontos de ordem que subjaz às histórias está a questão da importância do acreditar, do acreditar como forma de se estar vivo.”
Do fantástico, mágico e fascinante mundo de Nárnia, apenas conheço a interpretação cinematográfica, que “alguns” fizeram, de uma colectânea, sem fim, onde o simbolismos e a metáfora, nos levam a “atravessar armários”, florestas mágicas, geladas, que pouco a pouco, e de uma forma, aparentemente, tão simples, nos vão lançando no “nosso” imaginário, “naquele” que cada um transporta em si e que toca pontos, de uma Humanidade imensa… ali não está apenas uma forma metafórica, imaginária, idealista, interpretativa, de um “suposto” mundo ou universo… ali está aquilo que vivemos, todos os dias, é a maior de todas as “personificações”, a transparência abstracta, da maior de toda as realidades: a nossa…
… do filme de Nárnia, que apenas vi uma vez, já algum tempo, lembro-me da Verdade que era a cada momento passada, em simples e por vezes “infantis” diálogos entre um Leão e um grupo de crianças, ou até mesmo na figura de dois “cómicos” castores… recordo em particular um dialogo entre o Leão e o Peter.
Sim, ali, o acreditar, o desafiar o coração, o enfrentar a maior Verdade do mundo, com a honra, coragem, determinação, de quem em tudo acredita, e por isso, a “isso” se dá, se entrega, se esgota… na imensidão daquilo que é, na totalidade de um Ser Humano “mágico e transcendente”, mas onde se escondem múltiplas fragilidades, que têm que ser identificadas, enfrentadas, ultrapassadas e mais que isso, superadas…
Nos seus livros, não encontramos, apenas todo um universo criado a uma escala metafórica onde cada espécie, cada personagem, transporta consigo a imensidão da Verdade da vida e da realidade humana, ali, em cada um daqueles livros encontramos autênticos códigos de conduta, que quando lidos e relidos aos poucos nos transformam o olhar que se tornam mudança em nós…
Cada vez mais acredito que as imagens míticas, retratadas nestes livros, expressam a necessidade de transcender os contrários, de abolir a polaridade que caracteriza a condição humana, para alcançar a realidade última… Mais do que “fantasia genial” aqui em meras folhas de papel, onde as descrições e figuras de estilo inundam e despertam todo o nosso imaginário, e a nossa capacidade de transgredir, de sairmos do “quentinho” de uma realidade concreta, e nos esmagar-mos na imensidão superior que nos toca, nos eleva, nos “chama a ir” e por isso nos muda…
Uma das minhas frases preferidas de Tolkien, toca exactamente esse ponto tão importante que o Duarte realça: o ACREDITAR e que hoje em dia, parece estarmos rodeados de “DESACREDITANTES” palavra que não existe em português mas criei, para dar maior ênfase a toda esta “onda de gente descrente”… por não Crer, não é capaz de Querer… como o Duarte me disse no outro dia… lembro-me de ter pensado bastante nessa frase e de não a sentir em mim… e como isso é bom… viver um querer que crê, que acredita, que tudo quer, tudo espera, tudo dá… na maior de todas as esperanças, a de assim perdurar, e crescer no tanto que ainda tenho… sem utopias, sem viver à margem… apenas encontrar o meu , verdadeiro lugar no mundo… NÃO É FACIL..disso todos sabemos, mas de que falam e retratam estes mundos fantásticos, descritos nestes dois autores, senão disso… no entregar, sem reservas, à descoberta profunda e absorvente, de uma missão de vida…
Depois de tamanho paragrafo e dando continuidade aquilo que o Duarte despertou em mim, nas sábias, provavelmente inspiradas, palavras de Tolkien… ACREDITO que “onde não falta vontade existe, sempre um caminho (…) Não cabe a nós decidir o que é certo ou errado...A nós cabe apenas decidir o que fazer com o tempo que nós é dado (…) Tudo o que temos que decidir, é o que fazer com o tempo que nos é dado (…) É que da bem-aventurança e da alegria na vida há pouco a ser dito enquanto duram; assim como as obras belas e maravilhosas, enquanto perduram para que os olhos as contemplem, são registos de si mesmas (…)”
Inspirada do livro que me acompanha nas últimas semanas, deixo-lhe um bocadinho disto: “Pelos escritos que circulam numa família adivinha-se o seu modo de pensar e viver. Basta perscrutar a desordem aparente duma escrivaninha ou de uma mesa, para saber em que se ocupa o seu dono, que estuda, como estuda, que livros prefere, se é metódico ou desordenado (…) A biblioteca, constando mesmo num só volume, é o espelho da vida interior duma pessoa ” (Maria Sticco)
... como é bom permanecer...
livres para todos, porque desapegados de tudo; livres de nós mesmos
para que em cada um cresça Cristo.»
Bento XVI
Desde o momento em que esta frase entrou na minha vida… à menos de uma semana que não me sai da cabeça… simples, palavras, fortes estas… Ainda agora vinda do “caminho do duche” numa noite quente, de um inicio de verão ameno… rezei e procurei, compreender como se vive esta Liberdade, esta a que somos chamados… Em teoria, não é difícil compreender… mas integra-la e fazer dela o epicentro da vida, aí tudo se torna mais difícil, mais confuso, mas por outro lado, chama-nos a um desafio maior… e não sei porquê, isso é bom…
Chegada a casa depois de um passeio solitário, silencioso, mas acompanhado, onde tudo à volta nos envolve, nos chama a “contemplar”, locais onde passamos diariamente, vezes sem conta e que nem sempre os vemos… encontro nas palavras de São Francisco de Assis a força e o animo para encontrar, viver e perdurar nesta Liberdade…
“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra (…) Começa fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente farás o impossível.”