Mães!
Li recentemente um livro interessante, intitulado "How Children Succeed", best seller nos EUA.
O autor, um jornalista, num extenso e bem escrito texto, acompanha os mais recentes estudos desenvolvidos sobre como as experiências traumatizantes deixam marcas profundas nas crianças - para toda a vida , e como o enlevo duma mãe pode ajudar a viver essas experiências, indirectamente ajudando a enfrentar o mundo e a não ter medo de arriscar.
Nos retratos de várias pessoas marcadas por essas experiências dolorosas, está o sentimento, muitas vezes avalasador, dum passado difícil, feito de pobreza e violência. A irracionalidade do medo, herança genética dos tempos ancestrais do estado selvagem, não é fácil de superar. E assim se explica que a pobreza e a violência, gerem adultos problemáticos: porque passaram da criancice à vida adulta com uma enorme incapacidade de concentração, constantemente perturbados pelas tais sirenes do medo que, a torto e a direito, foram aparecendo, e que constituiam enormes fontes de angústia.
Por isso, também, a enorme dificuldade de agir em contextos escolares de violência. As medidas meramente cognitivas, de reforço de competências - a uma certa altura pensou-se que as crianças pobres, porque tinham um vocabulário mais reduzido, o que precisavam era de um reforço de aulas para compensar os handicaps e as desigualdades, revelaram-se ineficazes. Os muitos milhões gastos nos EUA em programas deste tipo não surtiram os desejados efeitos, e os jovens continuaram a abandonar a escola e a praticar violência.
Assim nasceu a consciência de quem está no terreno, que uma intervenção tem que ser mais abrangente, tem que contar com as feridas profundas daqueles que, de vítimas, se tornaram agressores. Consciência que hoje se funda na ciência, ciência que estuda coisas como o hipotálamo e a neurociência, e que diz que as emoções desempenham um importante papel no nosso cérebro, tão importante que aquilo a que os psicólogos chamam "vinculação" e que se traduz na vinculação na infância entre mãe e filho, produz efeitos químicos no cérebro que criam comportamentos salutares e que se manifestam "in a lifetime". Por contraste, uma desvinculação, fonte de uma personalidade ansiosa, permeável aos medos e às agitações.
Das diferenças de contexto e da permeabilidade às agressões exteriores, condicionadas por essa vinculação ou desvinculação, temos aquilo a que na cultura ango-saxónica se chama de "character" e que nós chamamos de traços de personalidade: a resiliência ou capacidade de resistência à frustração, a nossa sujeição a dependências, etc.
Interessante porque aquilo que foi uma premissa fundamental para o desenvolvimento das teorias defendidas no livro, ou seja de que as pessoas expostas a experiências mais difíceis e que não tiveram vinculações bem sucedidas, acabaram por manifestar uma maior inconsistência nos seus percursos de vida, é colocado como uma interrogação bem pessoal do autor. Ele desistiu dos estudos na Universidade! Seria um comportamento inconsistente, errático, revelador duma personalidade ansiosa, tal como o das muitas histórias que relata no seu livro?! É muito engraçado porque o livro, aqui assumindo um pendor mais intimista ainda do que o que vai revelando ao longo da exposição, fá-lo (ao autor) tentar aprofundar a questão e não ser simplista na abordagem. Ele revela assim uma tendência muito actual dos comportamentos miméticos duma geração bem sucedida na América que não se interroga e que segue sempre o caminho mais "prestigioso". O caminho nunca revela verdadeiras opções de vida entre A ou B, mas sim sempre opções entre A ou A+, sendo que A+ só é A+ porque assim o estabeleceu o status quo (entre um Banco Goldman Sachs ou Meryll Linch por exemplo). Ora na realidade, um corte, como ele fez ao desistir da Universidade porque considerava que esse era um caminho estreito, muito balizado por uma ortodoxia de pensar, não lhe permitia ver a floresta mais densa que ele acabou por trilhar, com um percurso menos convencional. E para isso, para essas dúvidas existenciais que durante a escrita do livro lhe assolaram o espírito, o testemunho do fundador da Apple foi importante para lhe dar alguma paz de espírito...
Verdadeiramente interessante o livro, dedicado ao seu filho pequenino, e por isso, e pela reflexão que certamente ajudará no seu papel de pai, um livro escrito com sentido e entrega.
O autor, um jornalista, num extenso e bem escrito texto, acompanha os mais recentes estudos desenvolvidos sobre como as experiências traumatizantes deixam marcas profundas nas crianças - para toda a vida , e como o enlevo duma mãe pode ajudar a viver essas experiências, indirectamente ajudando a enfrentar o mundo e a não ter medo de arriscar.
Nos retratos de várias pessoas marcadas por essas experiências dolorosas, está o sentimento, muitas vezes avalasador, dum passado difícil, feito de pobreza e violência. A irracionalidade do medo, herança genética dos tempos ancestrais do estado selvagem, não é fácil de superar. E assim se explica que a pobreza e a violência, gerem adultos problemáticos: porque passaram da criancice à vida adulta com uma enorme incapacidade de concentração, constantemente perturbados pelas tais sirenes do medo que, a torto e a direito, foram aparecendo, e que constituiam enormes fontes de angústia.
Por isso, também, a enorme dificuldade de agir em contextos escolares de violência. As medidas meramente cognitivas, de reforço de competências - a uma certa altura pensou-se que as crianças pobres, porque tinham um vocabulário mais reduzido, o que precisavam era de um reforço de aulas para compensar os handicaps e as desigualdades, revelaram-se ineficazes. Os muitos milhões gastos nos EUA em programas deste tipo não surtiram os desejados efeitos, e os jovens continuaram a abandonar a escola e a praticar violência.
Assim nasceu a consciência de quem está no terreno, que uma intervenção tem que ser mais abrangente, tem que contar com as feridas profundas daqueles que, de vítimas, se tornaram agressores. Consciência que hoje se funda na ciência, ciência que estuda coisas como o hipotálamo e a neurociência, e que diz que as emoções desempenham um importante papel no nosso cérebro, tão importante que aquilo a que os psicólogos chamam "vinculação" e que se traduz na vinculação na infância entre mãe e filho, produz efeitos químicos no cérebro que criam comportamentos salutares e que se manifestam "in a lifetime". Por contraste, uma desvinculação, fonte de uma personalidade ansiosa, permeável aos medos e às agitações.
Das diferenças de contexto e da permeabilidade às agressões exteriores, condicionadas por essa vinculação ou desvinculação, temos aquilo a que na cultura ango-saxónica se chama de "character" e que nós chamamos de traços de personalidade: a resiliência ou capacidade de resistência à frustração, a nossa sujeição a dependências, etc.
Interessante porque aquilo que foi uma premissa fundamental para o desenvolvimento das teorias defendidas no livro, ou seja de que as pessoas expostas a experiências mais difíceis e que não tiveram vinculações bem sucedidas, acabaram por manifestar uma maior inconsistência nos seus percursos de vida, é colocado como uma interrogação bem pessoal do autor. Ele desistiu dos estudos na Universidade! Seria um comportamento inconsistente, errático, revelador duma personalidade ansiosa, tal como o das muitas histórias que relata no seu livro?! É muito engraçado porque o livro, aqui assumindo um pendor mais intimista ainda do que o que vai revelando ao longo da exposição, fá-lo (ao autor) tentar aprofundar a questão e não ser simplista na abordagem. Ele revela assim uma tendência muito actual dos comportamentos miméticos duma geração bem sucedida na América que não se interroga e que segue sempre o caminho mais "prestigioso". O caminho nunca revela verdadeiras opções de vida entre A ou B, mas sim sempre opções entre A ou A+, sendo que A+ só é A+ porque assim o estabeleceu o status quo (entre um Banco Goldman Sachs ou Meryll Linch por exemplo). Ora na realidade, um corte, como ele fez ao desistir da Universidade porque considerava que esse era um caminho estreito, muito balizado por uma ortodoxia de pensar, não lhe permitia ver a floresta mais densa que ele acabou por trilhar, com um percurso menos convencional. E para isso, para essas dúvidas existenciais que durante a escrita do livro lhe assolaram o espírito, o testemunho do fundador da Apple foi importante para lhe dar alguma paz de espírito...
Verdadeiramente interessante o livro, dedicado ao seu filho pequenino, e por isso, e pela reflexão que certamente ajudará no seu papel de pai, um livro escrito com sentido e entrega.
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