Oportunidades

Creio que uma das razões porque Robert Kennedy afirmou que se dedicava à causa pública era porque dizia que tinha sido muito abençoado na vida e que tinha tido oportunidades que faziam dele um privilegiado.

Recentemente, enquanto os vários canais de televisão faziam um apanhado dos melhores e mais marcantes momentos do ano, dei por mim a ver a muito aguerrida e muito pouco feminina Serena Williams, a já há vários anos n.º 1 Mundial de Ténis. 

Lembrei-me dos meus tempos de voluntariado com jovens em Sintra, em que além doutros tínhamos uma família de vários irmãos, em que preponderavam 2 irmãs bem activas e enérgicas. Eu baptizei-as de "irmãs Williams". 

O fenómeno do sucesso de Venus e Serena deve-se talvez a um pai fora-de-série, que dum bairro pobre lutou para que as suas filhas fossem "alguém na vida". E de facto conseguiu.

A experiência do Kápati (Cá-Para-Ti), o tal voluntariado em que estive durante muitos anos envolvido foi uma experiência humana excepcional para mim. 

Depois de muitos anos passados - já pelo menos 15 anos - a maioria desses jovens do Kápati saíram do meu horizonte. Alguns deles nunca mais soube como estão. Sei que muitos deles continuaram a sua vida por ali e, que de uma forma ou de outra, reproduziram os seus modelos parentais (que em vários casos, sobre diversas perspectivas, não eram famosos).

Mas de todos aqueles rapazes e raparigas, há um que encontro volta e meia: o André, um miúdo que era muito chatinho e irritante - ouso dizê-lo - sempre a fazer queixas dos outros. Tornou-se um homem responsável, simpático, com bom aspecto e é braço direito do dono dum dos melhores restaurantes em Sintra. Tem uma vida muito boa, está casado e julgo que tem pelo menos um filho.

Perceber quais os motivos porque uns se "safam" e outros não, não é fácil. Penso que parte da explicação está no contexto familiar, mas não apenas. Há simplesmente jovens que desafiam as leis da normalidade. Conheci outros. Um deles é o filho dos nossos antigos caseiros, o Ricardo: um empresário de sucesso. Não foi bom aluno, mas era esperto (coisa que nem o pai e a mãe eram muito) e simpático e depois tinha jeito para o negócio.

Se calhar tem que ver com encontrar o seu próprio talento e apostar nele. E também tem que ver com a sorte.