4. Beleza e contemplação. Quadros
Esta manhã pus-me a pensar porque
escolhi os quadros e as fotografias que tenho na parede. Há evidentemente um
sentido estético que procuro – quero que eles fiquem bem onde escolhi. Por
outro lado, gosto que eles tenham a ver com o espaço. Na minha casa tenho
espaços mais sociais e espaços mais íntimos.
Da mesma forma que nas cidades
temos torres de Igreja onde a cruz se mostra e faz lembrar que Deus ai está,
apesar das nossas distrações, termos imagens com que nos cruzamos no dia-a-dia
relembram-nos o que é importante. São como que mnemónicas, auxiliares de
memória. "Art as Therapy" lembra-nos logo no início que essa é uma das funções da
Arte.
Há aqui uma função eminentemente
pedagógica – o mesmo sucede nas imagens nas Igrejas que são catequéticas e que
num tempo de analfabetismo eram como que lições bíblicas.
Nos quadros de minha casa procuro
algo que seja inspirador, uma espécie quase de ideal de vida: no aperto de mão
do meu avô que estamos em relação com os outros e que é bom construirmos
relações.
Na delicadeza da conversa no patamar das escadas nota-se uma cumplicidade na troca de olhares, um requinte que acho que foi eternizado pelo fotógrafo. Há uma sintonia grande, simpática nesse olhar.
Aquelas imagens de Bolonha colocam-me nesse espaço das cidades italianas, não muito diferentes de Lisboa, do legado da civilização greco-latina-cristã que é afinal também o nosso.
Uma praça, a ágora onde se passam os negócios, a política da urbe e onde as pessoas se encontram para rezar. Essas cidades que o tempo manteve, guardiões da nossa memória e dos nossos valores colectivos. Elas são também mnemónicas de que não podemos deixar-nos conduzir por demagogos e populismos, por déspotas iluminados ou pior - déspotas não iluminados, mas que a força das cidades reside no diálogo.
A imagem de Lincoln. Muito
poderia dizer sobre ela.
Ou os quadrinhos que tenho no
quarto, que me lembram da amizade, da fé, de momentos felizes de viagens.
Estar assim rodeado de imagens
que me equilibram, para as quais gosto de olhar. Não são imposições, não forçam
a minha vista. Mas acompanham-me.
Neste capítulo sobre o Amor, os
autores abrem a conversa com a grande verdade de que por vezes são as nossas
relações próximas que mais nos desafiam. Longe de traçar um ideal romantizado
do nosso dia-a-dia e dessas relações, dizem-nos os autores que a arte pode
ajudar-nos a viver melhor o amor porque podem ser os tais símbolos, as tais
torres que apesar de torres são sinais discretos no nosso caminhar diário pela
cidade. As fotografias que tenho em minha casa falam-me de amigos e de pessoas
da minha família também. Naturalmente
que escolhi fotografias boas, onde essas pessoas aparecem no seu melhor -
bonitas e de sorriso.
Como alguém dizia, nós somos as
nossas relações. A delicadeza dum quadro dos dois namorados em que ela dorme e
ele a vigia discretamente pode ser de facto sinal de que o amor entre duas pessoas
fala-nos de respeito e de atenção ao outro, de cuidado e de enlevo, de presença tranquila e de querer buscar o bem do outro. Os Simon Gurfunkel têm uma bonita
música:
“I can hear
the soft breathing of the girl that I love,
As she lies here beside me asleep with the night. Her hair in a fine mist floats on my pillow,
Reflecting the flow of the winter moonlight”.
As she lies here beside me asleep with the night. Her hair in a fine mist floats on my pillow,
Reflecting the flow of the winter moonlight”.
A arte pode ajudar-nos a
desenvolver as capacidades que nos tornam melhores no amor, e que basicamente
são aquelas que nos tornam mais emocionalmente inteligentes: melhores ouvintes,
mais resilientes, a sabermos pôr as coisas em perspectiva, etc.
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