A propósito do 10 de Junho, dia de Portugal
Portugal, país com mais de 800 anos de história comemora hoje o seu dia.
É feriado, estou em Sintra, envolvido por uma serra que os antigos chamaram a "Serra da Lua" e que o homem soube embelezar a ponto de ser considerada o primeiro lugar classificado pela Unesco como Património Cultural da Humanidade.
Se algo distingue esta nação, feita antes estado do que um povo com um devir próprio, foi a sua enorme vontade de Ser: da sua filiação aos povos da Cristandade, fez-se aos mares, aventurando-se de forma pioneira para além do mundo conhecido. Aí trilhou uma história única, feita cada vez mais sua pelos aventureiros e pela pena dos que os narraram. Camões foi arauto dessa individualidade, que desafiou ventos contrários, gravando a cinzel na pedra que os portugueses "por perigos e guerras esforçados, mais do que permitia a força humana, entre gente remota edificaram novo reino que tanto sublimaram".
Escassamente povoado, Portugal teve o "talant de bien faire", divisa dum Infante D. Henrique, sabendo aproveitar o que de melhor possuíam os sábios que ajudaram a desenvolver a técnica, adaptada aos novos desafios. A caravela portuguesa e a sua vela latina são, de facto, o exemplo acabado desse engenho de pensar em como se vai aplicando o saber às condições da nossa realidade; ou invenções como o astrolábio, que abriram possibilidades novas.
Escassamente povoado, Portugal teve o "talant de bien faire", divisa dum Infante D. Henrique, sabendo aproveitar o que de melhor possuíam os sábios que ajudaram a desenvolver a técnica, adaptada aos novos desafios. A caravela portuguesa e a sua vela latina são, de facto, o exemplo acabado desse engenho de pensar em como se vai aplicando o saber às condições da nossa realidade; ou invenções como o astrolábio, que abriram possibilidades novas.
Deste passado pelos sete mares ficou um povo que, dum pequeno berço, fez de todo o mundo a sua casa, adaptando-se com sabedoria às mais diversas circunstâncias. Daí a "plasticidade amorável" de que fala um Jaime Cortesão, essa capacidade de ir ao encontro do outro sem perder a sua identidade, fazendo sínteses curiosas como o indo-português ou inventando o mestiço.
Muitos séculos passaram e esta terra de descobridores, que os seus das sete partidas não esqueceram nunca, deixou de ter a extensão do Minho a Timor e se virou para a Europa, árvore donde irradiou.
Também frente à Europa, a nossa expressão é a dum povo que pela dimensão do seu território e pela sua diminuta riqueza nunca pôde impor as suas regras. Fomos os "bons alunos" no tempo de Cavaco; ainda somos olhados em certa medida assim - o Covid - 19 está aí para o demonstrar.
Mas se de fora somos olhados com respeito, uma nação que tem uma estrutura social e política que se enquadra na Europa civilizada, há ainda muitíssimo a fazer dentro de portas. Com efeito, temos uma administração pública que ainda não percebeu completamente que é servidora dos cidadãos, mais do que detentora do "ius imperii", ou dum poder típico dum estado napoleónico. E é estranho porque é muito difícil criar verdadeiramente riqueza em Portugal que não seja por via do turismo ou do investimento estrangeiro directo. O Estado e as Autarquias Locais continuam a ser altamente burocratizados e nem as diferentes vagas da chamada "revolução digital" têm permitido mudar isso.
Se não soubermos mudar drasticamente a forma como público e privado se relacionam, continuaremos sempre a ser um país condenado ao pão dos outros, não conseguindo criar uma economia robusta e resiliente, que seja capaz de criar riqueza nos diferentes sectores, sejam eles a agricultura e as pescas, ou a indústria de que tanto precisamos também.
Tenho alguma expectativa no estudo que António Costa e Silva está a elaborar para o Governo, visando ajudar a economia portuguesa. Além dos eixos estratégicos que ele irá pensar, como a da melhoria da nossa capacidade exportadora, através dos portos por exemplo, penso que seria essencial pensar em como ajudar a economia portuguesa nessa parte dos chamados "custos de contexto", que se prendem precisamente com a relação com os poderes públicos.
Esta manhã, dia 10 de Junho, haverá uma cerimonia simbólica no Mosteiro dos Jerónimos. Vou tentar assistir. A pertença a um país é também vivida pela adesão a estes momentos, de comemoração colectiva.
Comentários
Não sou de grandes manifestações, mas quando invocamos o nosso País, descubro um patriotismo feroz, um orgulho imenso nesta nossa “nação valente e imortal.”
Orgulho na História, na força, na transparência, no riso fácil, na veia poética e saudosista, na forma idealista e sonhadora como vive, na imaginação e criatividade, na pele trigueira e rosada, no acolhimento e hospitalidade…
Se para fora nos defendo e não deixo que digam mal do que somos… para consumo interno faço fortes críticas aos “maus caminhos” que fizemos/fazemos.
Sempre gostei de visitar os lugares que contam a nossa história, ler sobre os protagonistas e heróis… conhecer a fibra de quem ao longo de tantos seculos se entregou/entrega com paixão e ministério a este pequeno grande lugar no mundo.
Somos exemplo em tantas matérias, mas há qualquer coisa nesta equação que nos dá a “boa nota”, mas não a excelência. O que nos faltará?
Estaremos nós ligados e firmados a esta nossa peculiar identidade? Conhecemos, verdadeiramente, a nossa História? O que guardamos na nossa memória afetiva? O que somos na nossa memória coletiva?
O que significa, hoje, este Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas?