"É complicado, é difícil"

Uma das explicações que podemos encontrar para o sucesso ou insucesso daquilo que fazemos é a vontade que pomos nas coisas.  A questão da motivação é, para mim, das questões mais interessantes e ao mesmo tempo mais complexas. Manter-se motivado não é fácil quando as coisas se tornam difíceis ou se não virmos o fim a que elas se destinam.
Uma verdade bem evidente é que a vida não é fácil. Mas também é verdade que nós por vezes também não tornamos a nossa vida fácil e o nosso cérebro não gosta lá muito de trabalhar.

Lembro-me de quando tinha que ler por dever no colégio e acabava por não me apetecer lá muito; ou de quando estava na faculdade, sempre que tinha que estudar para determinada cadeira, o que gostava era de pegar em ouras coisas. 

Há aquele exemplo de Tom Sawyer e do castigo de pintar a cerca: é um exemplo notável de motivação, pois ele, que é posto de castigo, acaba por conseguir levar os amigos todos dele a pintar a cerca porque eles acham que deve ser a coisa mais divertida que existe (é apenas sinal de que a forma como colocamos o problema faz toda a diferença). Esta questão do divertimento é muito importante e ter esse lado lúdico é importante. 

No outro dia o meu irmão Vasco dizia-me que deve ser realmente aborrecida a profissão de advogado. 

Ora, em certo sentido eu posso achar que sim - mas também posso pensar em como ultrapassar dificuldades, obstáculos. Pensar na minha profissão um pouco como uma diplomacia, em que a forma como eu trato com as pessoas pode fazer toda a diferença no sucesso que tenho ou deixo de ter, pois dependo tremendamente da boa-vontade dos demais. Habitualmente digo a mim próprio "eu não tenho problemas, tenho é desafios".

Nesta perspectiva, uma das coisas mais interessantes que tem acontecido comigo é que ao se dividir um grande problema em muitos pequenos problemas, o problema maior acaba por se esfumar: o grande "elefante" que me parecia um monstro, afinal, se decomposto, acaba por ser mais fácil de "tragar". Mas há que iniciar esse trajecto, por pôr mãos-à-obra, por assim dizer. Há que começar. Se não começamos, então aí é que o elefante será mesmo difícil de tragar. 

Há que fazer este caminho. Passa por uma práxis, por um exercício que também sendo feito com outras pessoas pode em muito ajudar. Quando vemos o elefante à nossa frente podemos ficar muito desmotivados, ansiosos. Mas tenhamos calma... e aprendamos a decompor esse elefante!

Há não muito tempo o Pe. Mário dizia-me que a auto-estima constrói-se com pequeninos sucessos. Acredito que sim  e aqui estão boas dicas para quem quer devorar elefantes: http://ocw.uc3m.es/ingenieria-informatica/principios-de-ingenieria-informatica/the-elephant-technique)  

Chamei a este texto "é complicado, é difícil..." Isto traduz um baixar de braços, uma desistência frente às coisas que nos causam frustração. É uma expressão muitas e muitas vezes ouvida em Portugal. Miguel de Unamuno dizia que os portugueses tinham algo estranho: quando tinham um problema davam um tiro na cabeça. A expressão do "Desterrado" de Soares dos Reis (um que se matou na realidade) é o da desistência, o da melancolia.  Porque será assim? Será que ficou como que entranhado na nossa cultura um saudosismo pelo que fomos?! Uma ferida depois de sermos ocupados por Espanha, ou pela perca do ultramar? Uma mágoa pelo que fomos e deixámos de ser?! O de não gostarmos de nos olharmos hoje ao espelho?

Imaginemos corredores na grelha da partida. Podemos ir já vencidos - não enfrentarmos a realidade e não acreditarmos em nós, na nossa capacidade de ir à luta. Assistimos muito na televisão à discussão nos finais dos jogos sobre de quem é a culpa por não se ter ganho. E normalmente a razão dada é o árbitro, o "sistema" que não permitiu ganhar. O elefante branco, que mal analisámos. O locus é um locus externo, nunca é a falta de treino, a falta de estratégia e de táctica, o locus interno.

Tudo o que nos afasta da consideração da realidade e tenta encontrar razões externas (mesmo que elas existam) pode desviar-nos de considerar que temos é que olhar com atenção para o elefante e decompô-lo. Nesse sentido, não interessa que pensemos que já fomos grandes, que descobrimos muitas terras. O importante é o aqui e o agora. De que forma podemos ser grandes agora. 

É certo que vivemos num contexto difícil. Portugal não cresce, temos muitos problemas a ultrapassar. Mas isso devia fazer com que redobrássemos a nossa inteligência colectiva e olhássemos em conjunto para o elefante. Como cada um de nós tem medo do elefante e acha que a sociedade não funciona, fechamo-nos nos nossos confortos pessoais, nas nossas vidas privadas e deixamos de acreditar no futuro comunitário. 

Era importante que conseguíssemos restaurar os espaços de diálogo, de participação e com empatia criar diálogo com o que é diferente de nós, para perceber que na sociedade deve haver abertura ao outro, em vez de guetos em que nos digladiamos com desconfiança entre bons e maus. Para que cada vez menos digamos "é complicado, é difícil". Só assim é porque não saímos dos nossos confortos pessoais.


  

Comentários

Renata disse…
Tal qual uma partida de Ping pong ou de Ténis, sustentar a bola em movimento depende do trabalho em equipa, quando o objetivo é manter o jogo em equilíbrio.
Cada um contribuindo com o seu melhor, com técnica e muito treino, prevendo fraquezas e somando habilidades, preenchendo o vazio do outro (e do campo).
O jogo assim é sempre ganho: com diversão e suor, a vitória é de cada um e o mérito é da dupla (ou vice-versa)!
(obrigada!)

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