Abrir-nos ao mistério


Das coisas mais importantes é o entusiasmo pelas coisas, por aquilo que fazemos, por aquilo que vemos ou descobrimos. Uma sociedade muito marcada pela eficiência, ou pelo ganho, acaba por ser uma sociedade profundamente desencantada, pois não chega ao mistério das coisas, prefere possui-las, tê-las. Porque não sabe viver as coisas por dentro, apenas as avalia por fora, por aquilo que elas parecem e por aquilo que custam. E há tanto que acaba por escapar.

Cada coisa, cada ser encerra em si um mistério, algo que não se detecta apenas num olhar. Também as pessoas.

Quando não conseguimos ir ao encontro e descobrir no outro a sua verdade, entabulando um diálogo com a diferença do outro, limitamos o campo da relação a um mero facciendi, muito redutor.

Escrevi há algum tempo que a vida é um continuum, que é uma aventura. Quando não somos capazes de dar uma perspectiva mais ampla da vida e não conseguimos contar uma história, onde se encontra o desenhar dum percurso, passamos a ser apenas uns autómatos, que por acaso acordam diariamente.

A aventura da vida é a capacidade de viver entusiasmado com o que lá vem. É a virtude de encontrar novos começos, novos objectivos, novos propósitos.

Em vez de blasés, de pessoas habituadas a tudo, que não veem nada de interessante e motivante no mundo, devemos sim manter um olhar interpelante e aberto ao mistério. Realmente há tanto mistério nas coisas, tantas coisas que são mais ricas do que o que possamos imaginar.

Abrir-nos ao mistério das coisas é saber que há coisas que não podemos possuir. Que há coisas que são dom. Que há coisas que valem por si. 





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