Aveiro
Por ordem alfabética Aveiro é a primeira capital de distrito de Portugal. Dizem dela que é a Veneza de Portugal; Hans Christian Anderson, o célebre escritor dinamarquês, em visita ao nosso país, passou também por aí e comparou-a antes com a Holanda (uma enorme área pantanosa), não ficando especialmente encantado pela sua beleza. Realmente, é bom não fazermos comparações.
Do ponto de vista urbanístico, da estação ferroviária, percorre-se uma grande alameda até chegar a um centro pedonal em calçada portuguesa, dando a imagem de algo um tanto disforme e sem grande unidade, com um elevado número de edifícios construídos nos anos 70 e 80, alguns deles muito altos e de pouca qualidade arquitectónica. Na realidade, a cidade cresceu sem respeitar uma certa imagem global, não se encontrando quase nenhuns edifícios com mais de 100 anos.
Mesmo a Sé Catedral - de pequenas dimensões apesar do nome, apenas guarda o frontão maneirista, sendo tudo o resto uma amálgama pouco criteriosa de intervenções. O mesmo se passa com a intervenção feita no Convento de Jesus que, guardando a parte antiga intacta e de grande beleza, não deixa de ter sido adossado com uma intervenção moderna que é muito impactante e sem especial interesse. O centro da cidade é percorrido por canais, destacando-se na sua parte central um espaço comercial de dois pisos e a céu aberto, que não fosse a sua pouca qualidade arquitectónica e a sua dimensão um tanto ou quanto desmesurada, não mereceriam crítica, pois na realidade permitem uma vivência urbana bastante intensa. Aliás, as ruelas à volta deste centro permitem o convívio e o encontro, com esplanadas e muitos cafés e restaurantes, o que torna apesar de tudo agradável o espaço.
O melhor que a cidade tem no seu espaço urbano são certamente algumas pérolas como a extraordinária igreja do Convento de Jesus. Trata-se de um exemplar extraordinário da talha dourada, a lembrar outras igrejas conventuais como a da Madre Deus em Lisboa. Diga-se que Aveiro é a terra devota a Santa Joana Princesa, filha de D. Afonso V e que foi freira professa deste convento dominicano feminino, ficando ligada à história da cidade, que lhe é muito devota. É justamente numa sala do convento que está o seu túmulo, uma sala de uma grande beleza, sendo feito de mármores de várias tonalidades - o que se estende também ao pavimento, a lembrar uma sala da riqueza das salas da Catedral de Siena. Mas a cidade conta ainda com um colar de pérolas: mais de 2 dezenas de edifícios Arte Nova, espalhados pelo seu cento urbano, o que não deixa de ser interessante e permitir um roteiro.
Os museus de Aveiro são bastante bons e vale a pena visitar: desde o Museu da Cidade, passando pelo Museu de Arte Nova e, naturalmente, pelo Museu Santa Joana Princesa, um enorme espaço com muita arte sacra.
Aveiro é naturalmente a sua ria. A sua história a ela se liga de forma indissociável. É pois uma terra de pescadores. Raul Brandão fala deles justamente na sua obra "Os Pescadores", uma obra em que dá pinceladas sobre esta nossa ligação ao mar e essa vida ligada à faina.
A indústria terá permitido alguma riqueza, mas a cidade foi estragada sem grande critério, pois havia por exemplo muralhas, o que lhe dariam um certo porte nobre. Diz-se que estas muralhas terão sido desmontadas para que a sua pedra fosse usada no porto.
Também é verdade que, depois da ascensão da Casa de Bragança ao trono, os Duques de Aveiro tornaram-se na primeira família nobre portuguesa, até que o Marquês de Pombal lançou o célebre processo dos Távoras.
No passado foi a indústria das conservas e da porcelana que deram projecção a Aveiro. Ainda hoje se fala na Vista Alegre por todo o mundo como sinal de qualidade da porcelana portuguesa, em Vagos (distrito de Aveiro, não muito longe da cidade de Aveiro).
Hoje Aveiro tem uma das universidades mais prestigiadas do país.
Paulo Portas concorreu 6 vezes às legislativas por Aveiro, uma nota que liga a direita portuguesa a esta terra.
Visitei esta cidade no final de Maio, cidade que não conhecia. Confesso que vim um pouco desiludido de Aveiro, não tão convencido com a célebre frase "vá para fora cá dentro". O próprio passeio de moliceiro pelas rias, é um tanto ou quanto um passeio triste, sem nada de realmente interessante na paisagem que seja digno de nota.
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