Humpty Dumpty
Encontrei esta manhã o Alberto na rua Garrett. Disse-me que este era um tempo em que os astros que influenciavam a vida dos de "libra" estavam particularmente agitados e perguntou-me como é que eu estava.
O Alberto é um peruano, de Lima, um artista. É um homem com muita sabedoria.
(Uma amiga minha, a Francisca, disse-me certo dia que imaginava para mim uma viagem a Machu Picchu, nos Andes peruanos. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que era porque achava que eu era uma pessoa espiritual)
O Alberto tem razão. Acho que os astros andam muito agitados. Disse-me ele que era preciso deixar a tormenta passar - que o equilíbrio era agora difícil. Concordei com ele, e ripostei:
- Pois é, temos que procurar um novo equilíbrio.
Ele disse-me:
- É isso mesmo.
Entretanto, que dia magnífico está hoje. Sinto-me privilegiado por viver aqui, junto ao Tejo. E esta luz de Lisboa, ó meu Deus... Quando saio de manhã e desço a rua da Horta Seca, tenho a Igreja da Encarnação ao fundo e lá ao alto os pinheiros do Castelo de S. Jorge; essa luz como uma renda num véu de Bernini: quase transparente, uma leve membrana.
Que fantasmas temos? Sim, fantasmas. Andamos sempre entre os anjos e os demónios. Assim me sinto. Uma espécie de Humpty Dumpty. Em cima dum muro - e posso cair para qualquer um dos lados. Há quem seja mais forte que eu, que seja centrado, que tenha esse espectro mais largo.
Esse novo equilíbrio de que falava com o Alberto está-se sempre a fazer, mas é incrível como somos essa massa gasta que constantemente se faz em novas vasilhas de barro (e sempre com rupturas).
Ontem sentei-me no gabinete dum bom advogado. Um advogado em prática individual. Cheio de trabalho, não tem tempo para nada. Será isso vida?! Penso que assim será difícil.
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