Alguns devaneios

Alguns dos meus amigos estrangeiros falam de Portugal como sítio para viver. Comparam-no por ex. à Alemanha e à Holanda. Em Portugal ainda há tempo para viver, nem todas as relações humanas se pautam por um “toma lá, dá cá”. Há uns anos cheguei ao Porto, vindo de Espanha, para apanhar o comboio e a senhora do guichet vendo que eu não trazia dinheiro suficiente tirou-o do seu bolso e deu-mo. Não me conhecia de lado nenhum. No meu dia-a-dia vejo pessoas generosas. Pessoas que são alegres no trabalho, que conversam com os outros, que são caridosas com os mais sós, etc. É agradável viver neste país. Vejo ainda que há qualidade humana no relacionamento entre as pessoas e isso deixa-me satisfeito.

Gostaria que as pessoas conversassem mais, que se dessem mais. Que dessem menos tempo à televisão por ex. É das tais coisas que se dispensaria. Perde-se mito tempo a ver coisas vem qualquer importância, muitas delas estúpidas, quantas delas também estupidificantes. Mas não sou adepto de um elitismo cultural género “vamos agora educar o povo”, e ministrar-lhe doses de programas culturais. Quantas vezes não serão as pessoas mais humildes que mais sabem estar, que mais sabem conversar, apesar de toda a sua rudeza?

O que mais me inquieta na cidade é a pressa com que vivemos. Uma agitação para estar a partir para uma reunião, os contactos que temos de fazer, o andar contra-relógio. E isto, por vezes faz com que não tenhamos tempo para parar, para observar, para reflectir. E isto faz-nos muitas vezes consumidores passivos de toda a informação, da boa e da má.
Em alguns sítios por onde passei as pessoas muitas vezes encontram-se a seguir ao trabalho para conversar numa esplanada o que é saudável. Julgo que entre nós há uma certa indisciplina no trabalho que faz com que o trabalho por vezes ele se prolongue por horários pouco "católicos" e se eternize. Será que as pessoas conseguirão concentrar-se no trabalho, ter rotinas, alguns horários? É que é bom complementar o trabalho com lazer, com actividades que possam descomprimir do trabalho, complementar o trabalho. É uma forma pouco inteligente, um bocado parola e sobretudo muito pobre a das reuniões que se prolongam e se discute muito, não se decidindo nada. Há quem tenha emprego e não trabalho.

Que deuses há que possam prefigurar o equiparável nos nossos dias ao bezerro de ouro? O Audi A4? O BMW? É engraçado como em Portugal se dá tanta importância ao carro que se tem. É um sinal de sucesso material na vida. Ás vezes até irreal – por vir do crédito. As férias que se faz?

E que falsos profetas seguiremos nós?



Achei engraçado à importância que se deu à vinda de Bill Gates recentemente ao nosso país. Confesso que não a acompanhei muito de perto. Mas achei curioso que um pouco por toda a parte se elogiou a sua figura como a do homem mais rico do mundo que ao mesmo tempo se dedica a obras humanitárias. É evidente que se ele não fosse o homem mais rico do mundo não se teria falado nele. Quantas pessoas fazem tanto e são desconhecidas? A comunicação social não abarca toda a realidade; ou por outras, aquilo que se fala é muitas vezes aquilo que está mais à superfície.
E agora por ex. a ida da grande comitiva portuguesa a Angola. Que Eldorado é este? Como se encara o conversar, o negociar e o tratar com um homem e um regime corruptos e imorais? É para o bem do povo que vive na sua grandíssima maioria abaixo do limiar da pobreza?
E que tantos outros assuntos, como a do futebol – construíram-se estádios e gastam-se milhões - e isso será benéfico para nós?

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