Portugal no Conselho de Segurança das NU e Área de Projecto

1. Nesta última semana, a diplomacia portuguesa conseguiu uma vitória extraordinária, ao conseguir reeleger Portugal para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, frente a um país influente e muito mais rico como a Suécia, tendo agora como "colega" neste órgão o Brasil.
Segundo o Diário de Notícias "na eleição de 1996, Portugal teve 112 votos a favor na primeira volta e acabou por ganhar na segunda volta com 124 votos. Nessa altura, o continente africano votou quase em bloco e o mesmo aconteceu com os países árabes... a candidatura de Lisboa teve ainda um forte apoio da América Latina, da Europa Central e de Leste".
14 anos volvidos, Portugal obteve ainda mais votos.
Interessante notar que Portugal, apesar de ter sido um país fortemente atacado na década de 60 nas Nações Unidas pela sua política colonial, é hoje, pelo bloco dos países que marcaram esse processo (África, América Latina, etc), um país respeitado no concerto das nações: um país pequeno, civilizado mas com uma história e relações ricas que lhe permitem criar pontes e consensos.
Além de sorrir por saber que um amigo meu foi um dos protagonistas desta vitória (o diplomata Pedro Pinto), não posso deixar de me sentir feliz por ver o meu País a ter peso na cena internacional. E ao lado disso, a Língua Portuguesa.
Creio que se tem defendido nos últimos tempos que, sendo a Língua Portuguesa o quarto idioma mais falado no mundo, que deveria ser um das idiomas de trabalho das Nações Unidas. Quem sabe se, ao lado do Brasil, nosso irmão, podemos continuar a trabalhar para fazer da Língua Portuguesa uma língua de cultura reconhecida institucionalmente no lugar onde todas as nações se sentam para conversar...
A cultura não é só "parlapié", um país que consegue atrair outros para a sua cultura, ganha influência. Influência é peso, peso é economia e mais empregos.
Se como Camões dizia "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", se ontem quem contra nós estava, hoje connosco está, devemos aproveitar todas as oportunidades para nos fazermos valer no mundo. A história é passado, as Descobertas são passado. O mais importante são as estradas a abrir no Futuro.
2. E é justamente as estradas a abrir no Futuro que justifica uma segunda reflexão minha: no currículo escolar ensina-se história. E agora (de há uns anos a esta parte...), e bem, há as chamadas Áreas Curriculares Não Disciplinares: Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica. Vou-me debruçar apenas em Área de Projecto.
Área de Projecto é talvez a história do futuro. É a história que ainda está por escrever, é a história que se faz. Com projectos de investigação, de pesquisa. Aprendendo a trabalhar em equipa, a distribuir tarefas e responsabilidades. Deveria ser dada com todo o empenho e dedicação. Alguém dúvida que só se constrói sabendo trabalhar em projectos, em equipa?

Comentários

Maria disse…
“(…) devemos aproveitar todas as oportunidades para nos fazermos valer no mundo(…) o mais importante são as estradas a abrir no Futuro.”

De todo o seu testemunho, foi ao desmontar esta frase que encontrei um ponto de partida para mais uma reflexão sobre os “nossos caminhos de Educação”… afasta-se em muito do tema central, mas porque não percorrermos outros caminhos?

Nos últimos tempos, tenho dado por mim, com uma vontade maior de “olhar” os outros, aqueles que estão mais perto, aqueles com quem me cruzo todos os dias… e nesse “olhar curioso”, por vezes inquieto, procuro respostas, sinais dos nossos tempos, destes novos tempos, de mudanças estruturais que já integramos e que já são comuns, que já nem sequer questionamos… É tanto, que querer compreender todas estas mudanças e cada um, seria uma pertença, uma vontade ilógica, sem razão, sem um fundamento maior…

Todos os dias olho para as dezenas de Crianças com quem passo a maior parte do meu dia, da minha semana e pergunto: “Para onde estamos a ir? Como estou eu a caminhar?” Sinto um frio na barriga, muitas vezes, um característico, aperto no coração, pela imensidão que todos nós, todos os dias andamos a viver. ESTAREMOS NÓS CONCIENTES?

O meu optimismo leva-me a gritar que SIM! Andamos a caminhar para objectivos MAIORES, que nos levam a desejar “coisas” GRANDES. Acredito que todo o Ser Humano, independentemente do seu percurso, responde às exigências originais do coração: a exigência de Verdade, de Beleza, de Bondade, de Justiça, de Amor, de satisfação total de si… acredito que estes são os nossos maiores alicerces, os nossos maiores pontos de referência, de identidade, uma identidade que vai sendo conquistada, reconhecida, confirmada… serão poucos os que chamam incessantemente estes elementos para a sua vida.

… Educar sem ser neste sentido é fugir, é condicionar a própria natureza do Homem, um Homem que desde os primeiros anos de vida deve procurar a “liberdade pura” aquela que o eleva, não a ser mais do que os outros, mas na “simplicidade de uma vida” o solta, dos pequenos condicionalismos do mundo… que espelha a sua essência, que o leva à sabedoria e felicidade plena… COMPLICADO? Talvez… IMPOSSÍVEL? NUNCA!

Dito assim acredito que pareça utópico, inatingível, apenas para alguns, irreal… MAS NÃO!!! Como é raro encontrar homens assim, nos tempos que correm… é neste momento que “salta” a causa maior, não o viver amargurados e de forma derrotista, a complexidade destes tempos, mas agarrarmo-nos às nossas maiores convicções, fazermos delas, verdadeiros objectivos de vida e, sem medo, falarmos de “emergência educativa”.
Maria disse…
Seremos nós capazes de viver com disponibilidade e entrega, estes momentos de crescimento? Estaremos nós a retirar da nossa Acção Educativa os “frutos maiores”? Não estaremos nós a ser demasiado objectivos, demasiado superficiais, pouco profundos… um Educador deve identificar-se com esta capacidade maior de despertar em si próprio e no outro o desejo do belo, do verdadeiro, do grande… e isso só é possível no encontro com a realidade.

Em que perspectivas estamos nós a Educar?

Queremos quadros competentes, que cumpram funções objectivas… é fácil cair nesta vontade… mas uma sociedade que ambiciona o avanço das competências e que, pouco a pouco, se afasta da natureza humana, rapidamente começa a ficar frágil, apenas porque SER HOMEM é viver intensamente o real, procurando dar significado a tudo, desmontar cada camada do que somos, identificar o que sentimos, o que ambicionamos, no que realmente acreditamos, o que nos faz sentido… e sem medo, conscientes que somos seres em crescimento, com fragilidades constantes, apostar, neste empreendimento maior, que não passa só pelos manuais, que não passa só pelos conteúdos programáticos… tem muito de humanidade, de relação, de partilha, de amor… é tudo isso que devemos trazer para as nossas escolas, para as nossas crianças e jovens… e só o conseguiremos fazer, se o trouxermos, em primeiro lugar, para a nossa vida, em verdade… FACIL NÃO É CERTAMENTE… MAS ESTE É SEM DÚVIDA O MAIOR DOS DESAFIOS…

…Se o “sistema” em que vivemos não nos está a ajudar… essa não pode ser a nossa desculpa… no silêncio profundo do nosso coração sabemos que há muito para fazer e que apenas depende de nós e da nossa postura perante a vida… tornar o IMPOSSIVEL em POSSIVEL!

… muitos pensaram, e talvez ainda pensem, que seria apenas suficiente ensinar matemática e língua portuguesa, em vez de, sugerir a “estrada” para entrar na realidade, e esse foi o maior dos problemas, gerou uma indiferença terrível, uma gigantesca e vazia incapacidade por se interessar por qualquer coisa, por nos apaixonarmos, nos identificarmos, nos revermos…

… para muitos uma manhã de conversa com os alunos, um momento espontâneo com uma criança, é visto como uma manhã perdida, uma manhã não rentável… MAS SERÁ? São nestes momentos de partilha e crescimento, que se constroem pensamentos, se formam consciências, se desarrumam ideias preconcebidas… são estes momentos que “alargam a razão” uma razão que é uma janela “escancarada” para a realidade…

Gosto de acreditar, seguir e defender a Educação não apenas circunscrita à explicação da realidade, mas como “alavanca” de entrar na própria realidade. A educação é uma forma de comunicação de si, isto é, da maneira com que nos relacionamos com a realidade… nós somos a forma como nos relacionamos com a realidade, e isso não é adquirido, não é integrado, não passa a ser elemento significativo da nossa vida de um dia para o outro… toda esta forma de ver e viver a vida e, neste caso concreto, todo o nosso caminho de formação, começa nos primeiros tempos de vida… no “olhar atento e livre” como os “outros” significativos nos ligando ao mundo… vamos crescendo e o “outro” vai permanecendo, mas o Master Comander do nosso navio vamos sendo nós e cada vez mais vamos indo e seguindo trilhos e mundos novos…
Maria disse…
… mas sempre com a boa nostalgia, por vezes conturbada do início desta navegação… foram todos aqueles que cruzaram o nosso caminho desde o dia em que nascemos… que cada um à sua maneira foram tocando a nossa vida, talvez alguns a tenham circunscrito a pouco, mas certamente temos nomes daqueles que puxaram por nós, que acreditaram, que “investiram”… doeu certamente… tantas vezes ainda dói, mas é um doer bom, é sentir que estamos a caminhar, a crescer… a procurar sentir essa “tal” “liberdade pura”…

“Arrancar o homem do torpor, chamá-lo outra vez ao ser: este é o nível elementar e decisivo da educação. E isto será, de fato, possível, com êxito, apenas se aceitarmos e se, se tornar nosso, o olhar sobre a realidade (…) esta permite ao homem ser; permite ao homem ser mais, crescer; permite ao homem ser ele mesmo, crescer até à sua realização, isto é, permite ao homem ser feliz.” (GIUSSANI)

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