Aung San Suu Kyi e Sérgio Vieira de Melo, duas leituras
Tenho estado a ler uma grande entrevista, sobre a forma de livro, a esta lindíssima mulher birmanesa (Aung San Suu Kyi). Pouco sabia sobre ela, mas, no outro dia, deparei-me com este livro na FNAC e não resisti.
É uma conversa duma mulher muito inteligente, equilibrada, sensata e corajosa que empreendeu um combate duríssimo contra um regime repressivo. Ela é duma dignidade e duma elevação que são inspiradores: nunca profere ataques pessoais, não tira conclusões apressadas, reflecte sobre os assuntos de forma desapaixonada e aborda os problemas duma maneira objectiva, que se diria quase até "fria". Parece-me que é a forma profunda de ser de alguém que tem uma espiritualidade forte e que é uma pessoa emocionalmente resolvida e madura. A sua luta é um combate que apela à consciência recta e à forma de fazer valer as suas posições de maneira honesta. É um Satyagraha tipo Gandhi.
Uns dias antes estive de volta dum outro livro que reconta a vida de Sérgio Vieira de Melo. Há coisas notáveis neste homem, era um homem cheio de carisma e realmente corajoso. Teve um final infeliz, vítima dum ataque terrorista. Esteve em muitos dos conflitos mais violentos do mundo e tentava, apesar de tudo o que se passava à sua volta, orientar as coisas num sentido positivo, de resolução do conflitos
Sem querer comparar as duas personalidades, há uma coisa que sinto fortemente em Sérgio Vieira de Melo que é a sua aparente ausência de espiritualidade. Há ali uma pobreza que me afasta de o considerar além dum excelente diplomata, muitíssimo capaz, uma pessoa que me atraia como exemplo e referência. É um homem fascinante, disso não há dúvida. Mas o retrato que o livro faz dele é também o de uma pessoa muito egoísta. É um aventureiro, um homem de inteligência e de acção, capaz de ler o mundo e de se empregar duma forma notável a grande desafios e a provações.
Aung San Suu Kyi, e as suas respostas precisam de ser meditadas e interiorizadas. Ela é uma guia.
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