Portugal no divã
Certas nações têm dificuldade de se recompôr da perca da sua grandeza. Vivem numa nostalgia letárgica entre o muito que foram e o pouco que são: a Grécia inventora da Democracia, onde foi possível discutir com um Sócrates as mais altas questões, leituras que espantam pela sua intemporalidade e que ficaram gravadas pela pena do seu discípulo Platão; um presente triste, feito de dependèncias e escassez.
Pergunto-me se há civilizações melhores do que outras. Porque é que os EUA se tornaram a maior potência mundial, porque é que países como a Austrália ou a Nova Zelândia deram certo e são exemplos de democracia. Haverá algo de superior na cultura inglesa, numa moral protestante?
Estou a terminar a minha viagem pelo Brasil, este enorme país - só a Baía onde estou é certa de 4 vezes o tamanho de Portugal.
Como foi possível um tão pequeno país se abalançar a tanto?
Os Descobrimentos foram temporariamente o garante da independência portuguesa: o plano extraordinário de D. João II de acabar com a lógica do Mediterrâneo deu os seus frutos. Veneza foi abalada pelas mudanças. Mas também com ele se delineou o Tratado de Tordesilhas: dividimos o Mundo em 2! Como uma laranja, uma das metades ficou para nós; a outra para Espanha. Que tamanha ousadia! "Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia", assim era o título de D. Manuel I depois da chegada de Vasco da Gama à India. Faz lembrar a linguagem da cavalaria medieval, o estilo dum D. Quixote de La Mancha. Pergunto bem na lógica dos nossos dias: qual a sustentabilidade de tudo isto? Como me diziam em pequeno, não seria ter "mais olhos que barriga"?
Foi evidente que um domínio sobre terras tão longínquas começou a soçobrar com a oposição arábe e turca no Mar das Arábias. Torna-se muito difícil manter esse império oriental. Medidas inteligentes de ocupação estratégica permitiram garantir durante algum tempo o domínio, somadas também à política de miscigenação que Afonso de Albuquerque defendia. Com D. João III, começa-se a olhar também para o Brasil.
Depois da Restauração, o Brasil torna-se definitivamente a nova Índia. Mas temporariamente. Tudo seria fantástico se tivéssemos sabido utilizar a riqueza do Brasil para nos desenvolver. Creio que houve falta de visão estratégica. Ou terá sido a força dos tempos? As ameaças de outras potências emergentes? Num Museu em Belo Horizonte ao consultar mapas antigos da ocupação e expansão portuguesa no interior de Minas, pude ver o quão bem organizada era a gestão administrativa do Brasil.
Minas Gerais poderiam ter feito de Portugal um país rico. Mas aí está, contrariamente à Holanda, a população portuguesa era analfabeta. Quem explorava as minas eram aventureiros, os chamados bandeirantes, que deveriam dar um tanto do que ganhavam à coroa. A coroa apenas embolsava e administrava e utilizava naquilo que achava mais importante. Numa interessante entrevista D. Manuel Clemente fala neste período e vê-se em que medida Portugal ainda se filiava na lógica da Respublica Christiana de vassalagem à Santa Sé (creio que esse aspecto é determinante para a perca da sustentabilidade das opções):
http://www.dn.pt/sociedade/interior/d-joao-v-e-quase-um-rei-sacerdote-por-intermedio-do-seu-capelao-que-e-o-patriarca-5483278.html
Portugal como grande nação cristã, envangelizadora. Onde se exaltava a religiosidade. O que ficou no Brasil da nossa arquitectura foram muitas, muitas, muitas igrejas. Muitas delas lindas.
O espírito holandês, é muito diferente. É o espírito do lucro. É uma nação de comerciantes, onde a corôa tem pouco poder.
Com Napoleão e o iluminismo a romper pela Europa, D. Joáo VI vem para o Brasil, naquela que é uma viagem completamente impreparada. Instala-se no Rio de Janeiro e pelo Brasil fica 13 anos. São os ingleses que o impelem a vir. Portugal é vítima de saque pelos franceses, num período que é de protectorado inglês, enquanto a corte estava no Brasil. Os ingleses beneficiam da abertura dos portos brasileiros. Portugal, é apenas um joguete nas mãos das potências europeias.
O século XIX é depois a guerra civil; depois vem o Fontismo e depois o final do século volta a ser trágico. República e Estado Novo. Revolução e Europa.
Minas Gerais poderiam ter feito de Portugal um país rico. Mas aí está, contrariamente à Holanda, a população portuguesa era analfabeta. Quem explorava as minas eram aventureiros, os chamados bandeirantes, que deveriam dar um tanto do que ganhavam à coroa. A coroa apenas embolsava e administrava e utilizava naquilo que achava mais importante. Numa interessante entrevista D. Manuel Clemente fala neste período e vê-se em que medida Portugal ainda se filiava na lógica da Respublica Christiana de vassalagem à Santa Sé (creio que esse aspecto é determinante para a perca da sustentabilidade das opções):
http://www.dn.pt/sociedade/interior/d-joao-v-e-quase-um-rei-sacerdote-por-intermedio-do-seu-capelao-que-e-o-patriarca-5483278.html
Portugal como grande nação cristã, envangelizadora. Onde se exaltava a religiosidade. O que ficou no Brasil da nossa arquitectura foram muitas, muitas, muitas igrejas. Muitas delas lindas.
O espírito holandês, é muito diferente. É o espírito do lucro. É uma nação de comerciantes, onde a corôa tem pouco poder.
Com Napoleão e o iluminismo a romper pela Europa, D. Joáo VI vem para o Brasil, naquela que é uma viagem completamente impreparada. Instala-se no Rio de Janeiro e pelo Brasil fica 13 anos. São os ingleses que o impelem a vir. Portugal é vítima de saque pelos franceses, num período que é de protectorado inglês, enquanto a corte estava no Brasil. Os ingleses beneficiam da abertura dos portos brasileiros. Portugal, é apenas um joguete nas mãos das potências europeias.
O século XIX é depois a guerra civil; depois vem o Fontismo e depois o final do século volta a ser trágico. República e Estado Novo. Revolução e Europa.
Que imagem guardamos da nossa história? Somos saudosistas de grandezas perdidas? O que é Portugal hoje e o que devemos fazer com que seja no Futuro?
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