Enamorado da história do meu País, samba da benção

"Eu, por exemplo, o capitão do mato/Vinicius de Moraes/Poeta e diplomata/O branco mais preto do Brasil/Na linha direta de Xangô, saravá!" Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963

O sincretismo religioso, expressão que aprendi com Senhor Mário de Jesus, que me mostrou uma mesa cheia de "balas" e "docinhos" para dar aos "menino de BH" numa festa no final deste mês (será São Conrado?!), mostra a protuberância que a negritude assume no Brasil. Jorge Amado no seu livro/ roteiro da Baía explica os cambomblés e o Senhor do Bonfim, que de cristão já pouco tem: se a história é feita de inúmeras camadas, no Brasil, a camada negra é em certos locais tão forte e expressiva que apaga as demais; mesmo o catolicismo, que os portugueses cá deixaram, um catolicismo bem apostólico/romano se torna apenas o pano de fundo para no seu barroco dar maior expressão à cena que se passa na realidade. Em linguagem botânica, plantaram um lindo jardim de árvores de fruto, mas entretanto um artista pintou esse jardim com uma verdadeira miscelânea de outras espécies de cores garridas e entraram e puseram muita gente com batuques e a dançar.

Na Praia do Forte conheci um fotógrafo com quem estive muito tempo a falar. Era dono de um bar com uma bonita exposição de fotografias que retratava gente de uma pequena aldeia africana. Fiquei a saber que se tratava do Benim, o local donde vieram a maior parte dos escravos para o Brasil. Recentemente estivera envolvido num documentário, como director de fotografia, que passou por levar uma série de mães de santo da Baía ao encontro das suas raízes em África - justamente essa aldeia no Benim. O que elas cantam foi-lhes passado de geração em geração, pelas suas mães, e o encontro nessa pequena aldeia foi um momento emocionante: conseguiram cantar as mesmas canções e dançar as mesmas músicas! O documentário há-de chamar-se "Pontes" e tenta ligar o Brasil ao Benim e realçar a importância identitária dessa relação. Segundo, o Léo de Azevedo (nome do fotógrafo), no Brasil ensina-se nas escolas a cultura africana, como parte da identidade do povo brasileiro.

Passeando por Tiradentes, Portugal não deixou de estar presente no meu espírito. Um país de múltiplas camadas, algumas delas quase desaparecidas, muito ténues, mas ainda assim indeléveis na cultura. O que resta na arquitectura do período romano em Portugal? Pouco, quase nada. Mas a nossa língua, não é ela romana?! Tiradentes é uma pequena pérola escondida, tudo à volta não permite adivinhá-la, mas sem dúvida que onde Portugal ficou foi sem dúvida no língua que o Brasil todo fala, a Língua Portuguesa. O Português unifica este país, e o culto e apaixonado Vinicius, poeta e diplomata, deu expressão em Português à força dos ritmos de África. E como li, o Brasil que ajudou o mundo a não ser "tão ruim da cabeça e doente do pé", realiza na música a sua melhor e mais fiel fotografia!

Se o Brasil é plural, Portugal também é plural, talvez não tropical, mas o tropicalismo de outras paragens não deixou de chegar aos seus portos: quando comemos p.e. uma chamuça, presente em todos os cafés, celebramos outros tempos. Outros tempos que não me canso de conhecer e que me fazem estar apaixonado por Portugal. 

  







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