A beleza da natureza cura-me

Quando vemos a beleza da natureza à nossa volta parece que a nossa alma se encontra com ela mesma. Não tive muito tempo para desligar este fim-de-semana, mas um passeio ontem depois do almoço pelos campos do Alentejo, um passeio sem pressas e para poder contemplar soube-me como um copo de água no deserto. 
Lembrei-me de Juhani Pallasmaa dizer-nos que para se sintonizar consigo mesmo, precisa de passear pela floresta na companhia da sua mulher. Onde se sente em casa é com os seus livros, com os  autores amigos - com quem pode conversar mesmo se morreram há muito tempo. Mas precisa da natureza para se encontrar.
Talvez porque sou uma pessoa introvertida, reflexiva, preciso mais destes encontros com a natureza. Provavelmente há muitos que não me perceberão, que acham que a necessidade de estar só é uma fuga. Eu tenho essa necessidade. Ontem, depois do almoço, precisei de dar esse grande passeio a pé. Fui até uma grande lagoa, dei a volta à lagoa. 
Fora da cidade, no verde da paisagem, é possível acreditarmos na perfeição das coisas, restaurar a esperança.
Para mim o efeito da beleza da natureza é o de, em boa verdade, de me restaurar. Tenho a debilidade de achar que seria uma pessoa infeliz se vivesse num sítio feio. 
Hoje vivo na cidade e talvez tenha pouco tempo para estar em contacto com a natureza. Já estive em cidades em que esse contacto com a natureza é possível a poucos passos: em certa medida Estocolmo é assim. Talvez também Londres.
Em Lisboa existe um recanto que me lembra Sintra e acabou muito recentemente de ser reformado, o Jardim Botânico.
Porém, em geral, preciso de sair da cidade para essa "desintoxicação". Demora 2 dias. O primeiro dia é para assentar, o segundo dia já é de sintonização. O ideal porém são 3 ou mais dias.
Gosto de ir para Soutelo, passear ao longo do rio. Há uma beleza indescritível naquele passeio que costumo fazer. 
O Alentejo é sublime. Não há palavras.
E quando se está assim em sintonia com a natureza nós acreditamos verdadeiramente que há bondade à nossa volta.
Ter uma casa de fim-de-semana, em que possamos estar assim em contacto com a natureza é uma maravilha. Percebo bem porque há tanta gente que tem uma segunda casa. É que ter um local de "desintoxicação" onde a beleza nos rodeia é ser um sortudo. É contar com o recarregar das baterias!



Comentários

Monserrate disse…
Gosto deste texto, da maneira como está escrito, da relação que estabelece entre as coisas…das questões que levanta e que nos faz, simplesmente pensar…

Gosto da ideia de uma natureza que cura, que limpa que nos devolve a nós próprios…faz-me sentir pequena, mas segura. Ajuda-me em tempos de egocentrismo feroz.

“Onde se sente em casa é com os seus livros, com os autores amigos” como compreendo… tenho uma casa cheia de livros, as pessoas chegam e dizem “não me digas que já leste estes livros todos?” nem sempre querem ouvir a resposta… foram poucas as vezes que respondi um sim alto e confiante! Eu não li só aqueles livros todos, eu fui e sou em todos eles… encontro-me em cada um deles, completo-me, desafio-me… é nesta relação profunda que tenho com os livros, que melhor me conheço. Eu sou, nos livros, que trago comigo. São o meu maior refúgio, uma das minhas maiores paixões e formas de interpretar a vida.

Querem-me mais minimalista, mais desapegada, com menos livros, menos tralha… como seria essa separação? Como faria essa seleção? De quantos já me desfiz?! Alguns deles estão comigo desde sempre, sublinhados, anotados, pensados… de que valem dentro de um caixote na arrecadação. Não gosto de emprestar livros, nunca gostei, houve épocas que achava que não condizia muito com o meu feitio aberto e dado. Hoje em dia assumo.

Assim como os livros, também as casas têm de ser lugar... não precisam de ser assim ou assado… têm apenas que ter alma, a minha alma, têm que transpirar quem sou e no que acredito… é o sítio onde me sinto mais segura e para onde desejo, sempre, regressar… onde guardo as minhas memórias, onde se conta a minha história… o meu santuário.

E sim também tenho “(…) a debilidade de achar que seria uma pessoa infeliz se vivesse num sítio feio.” nunca o disse tão explicitamente, como nesta frase, por vergonha talvez… não acho que seja uma fraqueza, mas uma confirmação do que somos. Sempre tive dificuldade em explicar isto a algumas pessoas. Chamam-me exigente e insatisfeita … em tudo o que estas palavras podem ter de negativo… aprendi a não discutir certas questões, as não as defender em publico, a não julgar. Procurei sempre, o coração, como barómetro para reconhecer sítios bons e felizes para morar. E guardo para mim o porquê das minhas escolhas.

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