Crónica do Tempo que Passa

1. Uma semana depois do Domingo de Páscoa, chove em Lisboa cumprindo-se o velho provérbio de "em Abril águas mil". 

2. O Presidente da CM de Lisboa, deu uma entrevista no Diário de Notícias/TSF, que acabei há pouco de ler na sua versão escrita. Uma grande entrevista em que Fernando Medina, passa uma a uma as grandes questões que Lisboa vive: desde o turismo (que considera trazer impactos amplamente positivos do ponto de vista do emprego, do investimento, da reabilitação urbana e da economia da cidade e a necessidade de uma oferta diferenciada e qualificada que se assuma como uma aposta estruturada e não meramente circunstancial como motor da cidade, passando pela necessidade de trabalharmos por uma diversificação da base económica da cidade (com cada vez mais serviços qualificados), até às questões da habitação e da urgência em encontrar formas de incrementar o seu acesso a preços moderados e aos também prementes desafios na área da mobilidade.

Parecem acertadas as suas análises no que diz respeito ao turismo, alojamento local e aposta na diversificação do modelo económico da cidade e da multifuncionalidade dos bairros. Já não concordo  em absoluto com as suas considerações sobre a lei do arrendamento e de que se terá operado uma completa liberalização do mercado do arrendamento: o que se passou foi que durante décadas foram os proprietários que sustentaram a habitação, no que foi um esforço que não lhes cabia - seria interessante saber se na realidade a explicação da diversidade social na cidade não passará por durante tanto tempo não se ter tocado nas rendas. Para as pessoas idosas ou de baixos rendimentos, foram encontrados mecanismos de protecção, prevendo-se neste último caso que o Estado iria assumir essa responsabilidade social. O Estado em 2017 adiou por mais 5 anos essa responsabilidade, o que resulta em mais 5 anos de subsídio a fundo perdido por parte dos proprietários. 

Fernando Medida defende mudanças na lei, para permitir incentivos fiscais para os proprietários que fazem arrendamentos de longa duração. Concordo.

Como proposta deste novo mandato a criação de cerca de 6.000 novas casas a rendas acessíveis (T0 e T1 a cerca de 150/200 euros a T4 entre os 400/600 euros mês), através de casas da CM de Lisboa e de acordos com privados, Segurança Social e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Para acompanhar esta situação. Esta semana uma das conferências da Semana da Reabilitação Urbana será justamente "o programa de rendas acessíveis da CM de Lisboa" (10.04 às 10h30, Páteo da Galé), sendo que a responsável por esta área da habitação, a Vereadora Paula Marques é uma mulher enérgica. Tentar perceber como é que será possível trazer população para o centro de Lisboa, invertendo a perca de população é muito importante. 

Voltando à entrevista, ao nível da mobilidade, extensão do Metro, abrangendo Campo de Ourique, Amoreiras e possivelmente atravessar o vale de Alcântara para permitir a extensão para Ocidente.

3. Esta semana estive com o Duarte Stock a apresentar à Vereadora Catarina Vaz Pinto a Associação Build the City e os projectos em curso. Muitas das questões que o Presidente Fernando Medina apresenta têm sido uma constante de abordagem nas nossas iniciativas e foi interessante perceber o quão positivo foi o feedback pela Vereadora àquilo que estamos a fazer. Criar uma rede com outras cidades como Amesterdão, Berlim e Atenas pode permitir uma aprendizagem e uma troca de experiências. Ficámos de apresentar uma proposta.

4. Hoje voltei a um livro que gostei muito e que tem muito a ensinar "Black Box Thinking - the surprising truth about success", de Matthew Syed. É um livro que li no final de Março e que aborda a questão do erro e se aprendemos ou não com o erro. Classicamente, há dois domínios que abordam a questão de formas diferentes: a aviação civil e a medicina. Enquanto a primeira, à custa de muitos acidentes e muitas mortes, foi criando mecanismos de aprendizagem, não receando criar comissões independentes e internalizando nas rotinas de procedimentos formas de diminuir o risco, a medicina, contando com muitas vitórias, mas não menos erros, foi e é ainda muitas vezes aversa ao escrutínio -  e isto tem como consequência que em muitas vezes não melhora em termos de grau de risco de cair em novos erros. O autor faz uma abordagem muito interessante sobre as particularidades da medicina e do seu corpo profissional, que por razões de prestígio pessoal não admite poder cometer erros: basicamente uma pessoa que tem vocação para salvar pessoas e que o seu próprio amor-próprio está nessa função, dificilmente admite que teve falta de discernimento numa sala de operações, por exemplo.

A questão do erro remete-nos sempre para que nos ponhamos em análise. E isto não é fácil. Por uma questão de sobrevivência do nosso amor-próprio e por mais argumentos lógicos que outrém possa utilizar para nos convencer que a nossa posição não é acertada, persistimos no erro. Tony Blair na questão do Iraque por exemplo. Nunca admitiu que foi com base em pressupostos falsos (a existência de armas de destruição maciça), que despoletou a invasão no Iraque e a sua defesa da guerra foi evoluindo de forma interessante, talvez até sem disso mesmo se aperceber. Acredito pois que essas questões do ego nos impedem de mudar facilmente de posição. Por isso, considero que é muito difícil convencer racionalmente outrém na política que está errado.

Há muitos pontos cegos na percepção da realidade e isso condiciona muitas das nossas decisões.

Os ganhos marginais que se consegue ao dividir a realidade em questões pequenas e mensuráveis permite-nos uma análise mais acertada. Criar grupos de controlo em que se pode testar soluções é também aconselhável. Quando se fala com acabar com a pobreza em África e se vê gráficos das ajudas ao desenvolvimento e a sua evolução ao longo do tempo, é muitíssimo difícil saber se essas ajudas foram úteis ou não. Mas se houver programas específicos como por exemplo ao nível da educação, é possível ver em que medida determinada política teve ou não resultados. Pagar manuais escolares ou dar uma ajuda à alimentação dos estudantes permite-nos, com projectos-piloto ao longo de 3/4 anos, perceber o impacto.

Equipas de fórmula 1 ou de ciclismo têm adoptado esta prática dos ganhos marginais. Dividem toda a actividade em uma série de variáveis e tentam melhorar e avaliar cada uma dessas questões ao longo de determinado tempo. Esses pequenos passos, permitem alcançar ganhos muito bons no conjunto.

Poderia talvez na minha actividade introduzir uma política de custos marginais. Um processo de avaliação que passe por dividir todas as minhas tarefas em muitas questões distintas: organização (preparação de semana, computador, pastas papel, prateleiras, gavetas, catalogação, arquivamento, etc), análise de casos (estudo, registo do estudo e cruzamento com casos semelhantes), contactos com clientes (telefonemas e seu registo, emails, produção de documentos escritos - pareceres, notas instrutórias, relatórios; reuniões, seu registo e sua preparação), facturação (registo de tempos, emissão de notas de honorários, pedido de facturação e seu envio clientes), formação (identificação de necessidades). 







   


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