Na véspera da "Festa Nacional Francesa", homenagem a um grande homem

«Um homem inteligente não se torna automaticamente um homem de acção. O instinto tem a mesma importância (...) Bergson mostrou que a acção provém da aplicação combinada da inteligência e do instinto/impulso, trabalhando juntos. Toda a minha vida, tive consciência da importância essencial desta aplicação (…) Os grandes homens têm ao mesmo tempo inteligência e impulso. O cérebro serve de freio ao impulso puramente emotivo. O cérebro domina o impulso; mas é preciso que haja impulso e capacidade de acção para que não fique paralisado pelo freio do cérebro.

Há que ser um homem de carácter.

O melhor processo para ter êxito na acção é sabermos perpetuamente dominar-nos a nós mesmos da melhor forma, é uma condição indispensável.

Mas o autodomínio deve tornar-se uma espécie de hábito, de reflexo moral obtido por uma ginástica constante da vontade, em especial nas pequenas coisas: porte, conversação, conduta do pensamento, método aprimorado e aplicado em todas as coisas, em particular no trabalho.

As personalidades poderosas, organizadas para a luta, a provação, os grandes acontecimentos, nem sempre apresentam vantagens fáceis, essa sedução de superfície que agrada no decurso da vida normal. Esses caracteres vincados são habitualmente agrestes, incómodos, mesmo ferozes. Se a massa reconhece baixinho a superioridade deles e lhe faz uma obscura justiça, é raro que sejam amados e, por conseguinte que sejam favorecidos. A escolha que administra as carreiras incide com mais facilidade naquilo que agrada do que naquilo que tem mérito.

Diante do acontecimento, é a si próprio que recorre o homem de carácter. O seu movimento é impor à acção a sua marca, tomá-la em linha de conta, pô-la a seu favor. E, longe de se abrigar na hierarquia, de se esconder nos textos, de se cobrir de relatórios, eis que ele se levanta, se estabelece com firmeza e faz frente. Não que queira ignorar os ardores ou negligenciar os conselhos, mas tem a paixão de querer, o carácter cioso de decidir. Não que seja inconsciente do risco ou desdenhe as consequências, mas avalia-as de boa-fé e aceita-as sem manha.»

Charles de Gaulle, "Le Fil de l'Epée", 1932




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