«Carneirada e a abertura de espírito. Como se combate o preconceito»


«Carneirada e a abertura de espírito. Como se combate o preconceito - A sociedade é feita de barreiras, de silêncios, de indiferenças, de preconceitos. Na verdade, todos os seres humanos têm algo passível de ser descoberto e valorizado.

Quem são as pessoas de espírito aberto? São quem nos ouve, fala connosco e nos compreende; quem vem ao nosso encontro com um sorriso e nos olha nos olhos; quem se interessa pelos outros, pela vida deles, pelos problemas deles, pela forma de pensar deles. São quem se enriquece com a experiência dos outros. Todos vivemos integrados em grupos diferentes. As crianças convivem com crianças, os adolescentes com outros adolescentes e assim sucessivamente, em todas as faixas etárias. Em muitas festas de conhecidos meus, os filhos, mesmo que não fossem muito jovens não estavam presentes, tinham saído. Já para não falar dos grupos políticos e dos grupos étnicos. A sociedade é feita de barreiras, de silêncios, de indiferenças, de preconceitos. Todos nós assimilamos os preconceitos do nosso grupo social, político e cultural: falamos apenas entre nós, lemos os nossos jornais e vemos os espectáculos televisivos que nos agradam. Quando nos deparamos com alguém que é odiado pelo grupo, a antipatia é imediata. O mesmo acontece com os livros e com os filmes, que nem sequer são investigados, mas logo descartados. Nem sempre lemos bons livros nem vemos excelentes filmes: seguimos cegamente as indicações do nosso grupo. Mesmo assim, acontece conseguirmos libertar-nos desta escravidão do preconceito e, por instantes, abre-se-nos a mente e temos coragem para falar com esta pessoa, ler aquele livro e ver o filme que rejeitámos. E acabamos por constatar, estupefactos, que encontrámos algo de belo, interessante e divertido. Abre-se-nos uma perspectiva nunca antes imaginada. Só quem tem uma mente aberta sabe julgar de forma objectiva.
Os professores de espírito fechado são assustadores. Não nos compreendem, aprovam apenas aquilo que corresponde ao que pensam, premeiam os mais conformistas e condenam os inovadores. Basta imaginar o que é estarmos perante um juiz que já nos condenou à partida! Quando penso nos danos provocados por um espírito fechado, lembro-me dos efeitos das ideologias fanáticas: gulagues russos, campos de extermínio alemães, atentados dos kamikaze a multidões civis. É que um espírito fechado não é apenas obtuso, também é perverso.
Todos os seres humanos têm algo passível de ser descoberto e valorizado. Sempre que analisa os seus alunos, um professor com espírito aberto apercebe-se dos erros e dos defeitos, mas também vê qualidades positivas e potencialidades a desenvolver. Na minha opinião, a abertura de espírito é, na sua essência, amor e impulso vital".

in, Francesco Alberoni, "Público"

Se as pessoas se dessem ao trabalho de conhecer melhor as pessoas que as rodeiam, penso que iriam compreender que há mais coisas que nos unem, que coisas que nos separam.
Daqui talvez a brutalidade da política que separa mais que une, simplesmente porque o que está em cima da mesa é a lógica do confronto de ideias e das fidelidades clubistas e nunca se vê no adversário o que ele é, a sua vontade genuína de fazer o bem e a possibilidade de progresso comum.

"Ser de esquerda é, como estar na direita, uma infinidade de maneiras que o homem pode escolher ser um imbecil: ambas, com efeito, são formas de hemiplegia [paralisia] moral", disse Ortega y Gasset.

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