Aos nossos pés


Hoje ao final da tarde levei os meus sapatos a passear e fui subindo as colinas. Fiz a vontade ao coração que precisava de espaço.

Espreitei a cidade e desci escadinhas. Percorri um jardim, com relvado e vista para o Castelo. Tiago Bettencourt tocava no meu spotify. Apropriado. Portugalidade em som; inventada a língua, regozijei-me na variedade deste canta-autor e senti-me acompanhado.

Esta cidade de passos repetidos maior fosse e teria mais para descobrir. 

Se calhar precisámos de novos horizontes porque este recanto se esgota rapidamente e nos leva a procurar novas paragens.

Não é uma grande cidade. Abraçamo-la de cada miradouro e quando ela se abarca e se reconhece ja sem novidade, ficamos tristes.

É um porto. E nunca os grandes se ficaram apenas por ela. Por isso o convite para partir.

Sinto porém agora um apelo pela labuta que ela exige. Será que nos esgotamos nela? Será que saímos derrotados dela?

Tiago Bettencourt: 

"Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz, não me fazem ver que a luta pelo meu País.
Eu não quero pagar, depois de tudo o que dei, não me fazem ver, que fui eu que errei. 
Não fui eu que gastei, mais do que era para mim, 
Não fui eu que tirei,
Não fui eu que comi,
Não fui eu que comprei
Não fui eu que escondi
Quando estavam a olhar
Não fui eu que fugi
Não é essa a razão
Para me querem moldar
Porque eu não me escolhi para a fila do pão,
Este barco afundou, houve alguém que o cegou
Não fui eu que não vi,
Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz,
Não me fazem ver que a luta pelo meu País,
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei,
Não me fazem ver que fui eu que errei.
Talvez de que não sei,
Talvez de que não vi
Foi de mão para mão, mas não passou por mim
E perdeu-se a razão, todo o bom se feriu
Foi mesquinha a canção, desse amor a fingir
Não me falem do fim, se o caminho é mentir,
Se quiseram entrar, não souberam sair, não fui eu quem falhou,
Não fui eu quem cegou, já não sabem sair,
Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz,
Não me fazem ver que a luta pelo meu País,
Eu não quero pagar por tudo o que dei,
Não me fazem ver que fui eu que errei.

Meu sono é de armas e mar, minha força é navegar,
Meu Norte em contraluz,
Meu fado é vento que leva e CONDUZ... e CONDUZ... e CONDUZ...

Comentários

Monserrate disse…
Nesse final tarde, também me entreguei a esta tão querida cidade… fui a um dos meus quiosques preferidos com duas amigas e durante horas conversámos, contemplámos uma das melhores vistas de sempre e celebrámos a Vida.

Por cá já se escreveu sobre esta pequena grande cidade e a junção perfeita que conjuga em si, na sua aparente simplicidade… duvidas não existem da sua beleza, harmonia, da sua alma… mas Lisboa e eu temos qualquer coisa que não nos une… não me aumenta, não me apazigua… divirto-me por lá, distrai-me, gosto de a visitar, de passear… mas cansa-me, farto-me … há dias em que me aborrece… nem sempre é um bom encontro… Porque será que isto acontece?

Não acredito que seja pelo seu tamanho ou pela pouca diversidade?! Em quantos lugares pequenos e aparentemente redutores somos plenos? Quantas e quantas vezes nos redescobrimos nesses lugares? Não nos esgotam, não nos limitam, não nos sufocam… haverá sempre qualquer coisa que vibra em nós e nos dá nova vida…

Porque nos sentimos numa cidade de “passos repetidos”, “já sem novidade”?

Gosto da ideia de uma cidade que sabe acolher quem chega e que por ser “porto seguro” nos faz querer embarcar… talvez esteja aqui a resposta?! Para mim foi sempre local de passagem, mas nunca de ficar, permanecer…

Tiago Bettencourt será sempre boa companhia, uma escolha… encontramos força, garra, verdade, intensidade nas suas músicas, nas letras… de alguma maneira somos ativados… é sempre bom voltar a esses “discos”!

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