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Há momentos em que tudo pode mudar e se não formos prudentes e avisados, podemos cometer grandes erros. Decidir apressadamente ou de "cabeça quente" pode ser um perigo.

Em diversas conversas que tenho tido com alguns amigos, temos reflectido na importância que é haver "massa crítica" e capacidade de análise, que o nosso País, a nossa cidade de Lisboa, por exemplo, sejam governados com inteligência e ponderação.

Nestes últimos meses, devido à pandemia, tudo está a mudar e temos alguma dificuldade em nos situar. 

Não podemos simplesmente "surfar" as ondas quando elas nos são favoráveis e, depois, deixar-nos a lamentar-nos nos períodos de escassez, num mar de águas paradas, onde falta o pão.

É muito importante pensarmos a médio e longo prazo: onde queremos chegar como País? Onde queremos que a nossa cidade de Lisboa chegue daqui a uns anos?

Tenho algum receio que nesta pandemia estejamos a seguir as respostas erradas. 

Que avaliação económica por exemplo foi feita para a terrível crise que os restaurantes e a hotelaria estão a sofrer? Em especial, que avaliação foi feita sobre o impacto do decretamento que o confinamento obrigatório dos restaurantes às 13h00 dos fins-de-semana representa?

No outro dia ouvia José Miguel Júdice e ele dizia que o que devemos é sobretudo defender a população de risco, não mandar fechar a nossa economia. Talvez tenha razão.

Enquanto advogado que trabalha na área do imobiliário em Lisboa, nos últimos tempos tenho também sentido que há todo um clima desfavorável ao investimento: além da demora que se agravou nos procedimentos, certamente devido à pandemia com o teletrabalho que levou a uma evidente descoordenação, acrescida da introdução de uma nova plataforma informática, mas também devido à entrada de toda uma nova equipa responsável pelo urbanismo, nota-se um crescente descontentamento da parte de muitos agentes no mercado, por decisões que se considera pouco amigas do investimento. Paira uma sensação de que as decisões são muito discutíveis e que não há sensibilidade à importância do investimento (sobretudo estrangeiro) na cidade e na nossa economia. 

Tenho assistido a alguns processos administrativos infindáveis e à necessidade de um acompanhamento jurídico muito para além do que seria à partida expectável, dados os entraves legais e as interpretações que são, no final, emitidas pela CM de Lisboa. O que se perde em termos de recursos que podiam estar aplicados de maneira mais produtiva é imenso!

Na Associação Build the City, de que faço parte e onde se debateu nos últimos anos as grandes alterações ocorridas na cidade de Lisboa, foi muito clara a conclusão de que a nossa cidade viveu os últimos anos devido a todo este investimento estrangeiro. Por causa dele e do turismo foi possível recuperar a cidade, melhorando o edificado e o espaço público. 

Não tenho dados concretos, mas espero que esta situação de maior dificuldade de investimento na nossa cidade não seja motivada por razões ideológicas; o Porto, por exemplo, já deu sinais muito claros de que pretende continuar a atrair investimento, baixando as taxas urbanísticas para metade nos próximos dois anos. A cidade governada por Rui Moreira sabe pelos vistos ler a realidade e envia um sinal muito claro de que é amiga do investimento.  

Muita da motivação ideológica não tem qualquer base racional e mal é se seguirmos apenas as pressões circunstanciais de agendas políticas - algumas delas internacionais e sem qualquer aplicabilidade à nossa realidade ou parangonas que nada têm a ver com uma análise séria da nossa situação.

Lisboa nos anos 80 e 90 estava abandonada, ninguém queria cá viver, leis de arrendamento completamente desajustadas tiveram como efeito a degradação da cidade.

Esta pandemia exige prudência, humildade e boa comunicação (sinais para que consigamos perceber para onde vamos). Se isso não acontecer, poderão haver fracturas difíceis de resolver devidas a má-gestão e falta de liderança - todos nós teremos que pagar a factura.

Por isso é importante que continuemos a pensar estrategicamente, com profissionalismo e competência e não façamos desvios repentinos que deitam a "carga do barco" a perder, agora que ela é tão-importante! 

Cada vez mais é importante dar ouvidos a quem sabe, antes de tomarmos decisões apressadas ou motivadas por meras "opiniões" ou por chavões.

Portugal, Lisboa, deveriam ter mais pessoas que se dedicassem a conversar, a pensar e a traçar rotas... afinal, durante alguns anos fomos especialistas nisso!





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