Rob Riemen sobre o "cuidar da alma" e a Princesa Europa





Regressei há pouco da FNAC em que num ápice devorei um apaixonante ensaio de Rob Riemen sobre o que é a Europa. Um livro apropriado para esta época fria de apetecer estar à lareira... 

Já tinha lido há uns anos um outro livro do mesmo autor, a "Nobreza de Espírito", um testemunho notável e comovente. Uma vez mais, este holandês, num texto que conta de forma viva o encontro que tem com várias pessoas e que desfila entre  relatos da paisagem e retratos interiores do que vai sentindo - desta vez nas altas montanhas dos Alpes, por onde Nietzsche gostava de caminhar, cenário dum simpósio num velho hotel sobre a ideia de Ocidente.

O livro começa com relato duma conferência num outro hotel onde Riemen assiste a uma palestra dum padre professor (cheio de títulos académicos), para quem a ideia da Europa seria a de restaurar a Igreja aos tempos da Idade Média... e que horrorizado o fazem reflectir que uma estética sem humanidade e compaixão - como é possível defender que a Idade Média poderá corresponder a um ideal de Civilização, onde tantos atropelos existiam?! - e também o de procurar um outro local para ficar. É neste local, neste outro hotel por perto, que se realiza, por mera coincidência, o tal simpósio. Ligando para esse hotel que era dum conhecido, é convidado a fazer parte do simpósio, para falar de democracia.  

Desde um deslumbrado californiano de origem indiana, para quem a maravilha do Ocidente se descobre nas capacidades incríveis da ciência e da tecnologia, passando por um brilhante académico austríaco que lhe segue e que o arrasa, por o primeiro não entender que ciência sem humanidade é o maior disparate, até finalmente um velho checo mal-vestido e mal-cheiroso que conta a história dum antigo mestre, de que a história não guarda memória, com quem junto de Václek Havel e outros jovens como ele se reunia clandestinamente num sótão, para o ouvir. Para aprender filosofia e que se tinha que ir buscar à metafísica e aos gregos aquilo que torna os seres humanos capazes de se elevar acima das bestas. 

Desde que se destruíram os absolutos, tudo passou a ser comandado pela quantidade; perdidas as referências, tal como Nietzche profetizara, entrou-se no reino dos números. E isto fez com que as nossas democracias sejam sobretudo democracias de massas, sem estadistas, apenas gestores preocupados com os números. Já não haverá Churchils, Roosevelts ou Václek Havels. 

A cultura é a procura da verdade. A ideia da Europa tem que ver com o "cuidado da alma", pelo  que não pode ser mesurado, quantificado e que está nos antípodas do que se tem feito na Europa. É um "reino" espiritual.

O livro chama-se "O Regresso da Princesa Europa".


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