Fluir ou a "experiência óptima"
Antes de ir de férias estava cansado e tinha planos de permanecer em modo repouso por todo um mês. Estive na fantástica Sintra, fui a banhos â praia, passeei na Serra, estive com amigos, fui a jantares. Depois, rumei a Lisboa, apenas para desfazer uma mala e fazer uma outra e parti com destino ao Alentejo. Manhãs bonitas, banhos na piscina, corridas pelo Monte ao fim do dia, almoços e jantaradas, um passeio a Mérida.
Foram assim cerca de 19 dias, entrecortados apenas por alguns emails e poucos telefonemas de trabalho; 19 dias, não um mês, pois às respostas solicitadas mais antigas, foram-se somando novos pedidos.
Dia 19 de Agosto regressado a Lisboa notava-se, claramente, um espírito deprimido, ainda não totalmente restabelecido e a quem apetecia ainda brincar: há quem diga que os adultos são aquelas crianças que desaprenderam a arte de brincar... Voltava assim do recreio por força da campainha, que por mim chamava...
No entanto, uns dias intensos de trabalho, casos exigentes e a que me apliquei, com afinco, puseram-me novamente num estado de graça. Trabalhar, já dizia Freud, faz-nos bem. Encontramos nele um emprego bom para os nossos espíritos entrópicos Conseguir resolver problemas, aplicar-nos, tem um efeito psicológico em nós de nos dar a ordem de que precisamos.
Realmente, Mihaly Csikszentmihalyi, com o seu apaixonante livro "Fluir" (Relógio d'Água), explica tudo isso: é na interacção complexa entre desafio e competência que se desenvolve essa "experiência óptima", em que parece que saímos da dimensão do tempo; as actividades em que estamos apenas passivos. por não envolverem esforço, geralmente não nos criam estados psicológicos de grande bem-estar: é o caso de assistir passivamente a um programa de televisão - em nada nos desafiam.
Ontem jogava ténis com um amigo e pensava que realmente a concentração, o foco, permitem-nos atingir o melhor de nós próprios. Quando assistimos a um Nadal ou a um Federer a jogar ténis, o prazer que eles têm deve ser muito, pois eles estão no máximo da sua concentração e sabem que mesmo assim a vitória não está assegurada. Isso dá muita adrenalina. Esses combates, centrados e intensos, não apenas são belos, como parece que assistimos a algo sobre-humano. Não há porém nada de "sobre-humano", apenas a aplicação concentrada da atenção que, tal como uma lupa que, canalizando num feixe os raios do sol, é capaz de incendiar uma folha de papel!
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