Um fim-de-semana preenchido

Tive um fim-de-semana muito preenchido, no Sábado preenchido por leituras, no Domingo de encontros.

Sábado rumei à colina de Lisboa de que mais gosto, a colina de S. Vicente e visitei o Mosteiro, jóia das mais esplendorosas, por certo também das menos referenciadas. Levava comigo uma leitura dum cultor das palavras e das letras, de seu nome António Mega Ferreira - os itinerários de Santo António de Lisboa e de Pádua. No pátio de entrada banhei-me com um sol primaveril enquanto lia Mega Ferreira relatar a vida movimentada de Santo António, numa prosa cuidada e culta, depois percorri os corredores e os claustros, para, no final, banhar o olhar nas vistas de Lisboa.

No Domingo, acordei cedo e às 8h o comboio saiu da estação rumo a Coimbra. Pela frescura da manhã, de mochila às costas, entrei pela rua da Sofia, numa cidade ainda enevoada pelas humidades matinais. Tomei dois cafés e dois crúzios ao lado de Santa Cruz, dei uma volta pequena e juntei-me aos fiéis na sua missa dominical na igreja do mesmo convento. Uma mulher, não sei se completamente sã, sentava-se por perto e com fervor lançava beijos e fazia gestos de devoção, enquanto dizia "a minha Igreja está vazia". Acabados os ofícios, apreciei a cortesia do padre que celebrara, na forma calorosa como abraçava os fieis à saída e sentei-me na praça, numa esplanada. Entabulei então uma óptima conversa com duas jovens do Brasil, depois de perceber que uma dela falava sobre as dificuldades do início da profissão, como advogada. A outra era psicóloga e apoiavam-se uma à outra, como duas amigas. Abençoadas palavras e ouvidos de amizade entre duas jovens, que quebrei dirigindo-me a elas, para lhes falar do quão importante muito do que falavam ressoava em mim em reflexões e em ideias para pôr em prática.

Adoro claustros e como não podia deixar de ser, após esse encontro, foi um encanto percorrer os claustros de Santa Clara. Visitei também os túmulos dos dois nossos primeiros reis, ambos de feições marcadamente norte-europeias (quase que diria germânicas) e revi a vida de Santo António, que estudara com os crúzios, antes de se juntar aos franciscanos. Eram cerca das 15h00, dirigi-me para Santa Clara-a-Velha, atravessando o Mondego, sentando-me à vista do convento antigo, até que o tempo me dissesse que eram horas de subir a ladeira íngreme, para chegar a Santa Clara-a-Nova. 

Já no topo -mais uma vez com a mochila às costas, ao chegar à grande fachada concentravam-se 3 pessoas, que se despediam. Como visse bem escrito que se tratava dum albergue de peregrinos na rota para Santiago de Compostela, iniciei uma conversa que me levou bem longe, para os tempos de Santa Isabel, a nossa rainha de Aragão. "As palavras são como as cerejas" diz o ditado e o Vítor guiou-me pelas suas referências desses tempos, pela Coimbra do muito antigamente e do mais recente, as mudanças do Mondego, que já fora um rio bem menos caudaloso. Ao ver o meu interesse em coisas da Santa Rainha, levou-me depois à entrada onde um manual em 2 volumes, cheio de documentação e com cerca de 2 kg passou a mercadoria, a carregar na viagem de regresso a Lisboa. Coube-me depois mais cerca de 2 horas de visita privada, guiada pelas preciosidades do Convento: primeiro a Igreja Maneirista, com os seus retábulos em talha dourada e a observação dos túmulos de Mestre Pêro, numa conversa com muitas ramificações com a Liliana, gentil senhora que me levou a conhecer como seria a própria rainha (de feições também marcadamente germânicas, poderia ser ruiva também segundo a Liliana), esculpida pelo mesmo mestre, um monumento de beleza, simplicidade e piedade, encomendado pela própria para servir de sua última morada, hoje situado numa sala toda decorada no século XVIII com motivos florais (a sua primeira urna, pois o seu corpo jaz numa urna de prata no altar da Igreja). Depois ainda fui conduzido a uma outra sala onde se encontra o seu bordão de peregrina oferecido pelo Arcebispo de Santiago de Compostela e o manto que a envolveu quando veio, já sem vida, de Estremoz. Despedi-me da Liliana no claustro palaciano com um aperto-de-mão e depois dum dia bem vivido cheguei a Lisboa. Eram 21h00.

  



  


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