Avaliação ao final dum ano
Agora que chegamos ao fim deste ano, seria bom fazermos uma espécie de avaliação donde estamos e para onde pretendemos ir. Este texto poderá ser útil para tal exercício:
Cada um de nós tem uma
imagem, mesmo que vaga, daquilo que pretende fazer na vida: se está longe do
objectivo, o indivíduo torna-se triste ou resignado; se o atinge pelo menos
em parte, experimenta um sentimento de felicidade e satisfação. Para a
maior parte de pessoas na terra, o objectivo fundamental da vida é sobreviver, deixar
crianças que sobrevivam e, se possível, fazê-lo com um certo conforto e um
mínimo de dignidade.
Logo que os problemas de sobrevivência são resolvidos, as
pessoas não se contentam mais com esse nível de vida e novas
necessidades e novos desejos surgem.
Com a abundância e dinheiro, a escalada de
expectativas conduz a novas exigências, mais conforto e mais riqueza, de
maneira que o nível de bem-estar desejado fica longe. Cyrus, o imperador da
Pérsia (séc. VI A.C.), tinha necessidade de dez mil cozinheiros na sua mesa
(enquanto o povo morria de fome); nos nossos dias, aqueles que vivem nos países
industrializados acederam a iguarias as mais variadas e mais elaboradas – como
os imperadores do passado. Serão mais felizes?! Este paradoxo da escalada dos
desejos poderia fazer crer que a melhoria da qualidade de vida é uma tarefa
insuperável. De facto, esta escalada incessante de desejos, de objectivos ou de
ambições não é problemática desde que o indivíduo encontre prazer e alegria na
batalha ou nas démarches em direcção a esse objectivo. O problema surge quando
o indivíduo está tão obcecado pelo alvo que não encontra prazer no presente;
ele perde assim a oportunidade de estar encantado (aquilo a que chama o autor a "experiência óptima"). Diremos, então, que o indivíduo está numa espiral
hedonista infernal.
Muitas pessoas encontraram um
modo de evitar esse desastre. Essas pessoas são aquelas, que independentemente
das suas condições materiais, são capazes de melhorar a sua qualidade de vida,
são satisfeitas e tornam os outros um pouco mais felizes. Essas pessoas têm uma
vida enérgica, estão abertas a todo o tipo de experiências, continuam a
aprender sem fim, têm relações sólidas e íntimas com os outros e adaptam o seu
ambiente. Além disso, encontram alegria nas suas actividades, mesmo que elas
sejam fastidiosas ou difíceis, não se aborrecem quase nunca e estão em alta
apesar de tudo o que se apresenta. Contudo, a sua maior força reside na mestria
da sua vida. Para isso, as pessoas devem aprender a gerir a sua consciência. Em
suma, a felicidade duma pessoa reside na sua harmonia interior, não na
influência que é possível exercer sobre as forças do universo. Se o universo
pode ser fonte de frustração, os desejos exagerados podem gerar insatisfação.
Mihaly Csikszentmihalyi, do livro "Fluir"
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