Viktor Frankl e um aviso à vigilância e assim, e assim...
Esta semana passei por uma frase de Deleuze que diz algo semelhante: "a ética é estarmos à altura das circunstâncias".
Na nossa vida, de facto, podemos sempre decidir, embora a maior parte dos homens opte por seguir basicamente o instinto de salvar a sua pele, ou simplesmente a toada da turba. É curioso o facto de as pessoas perderem a inocência da infância, altura em que não tinham quaisquer "peias" em dizer que "o Rei vai nu": à medida que vamos ficando velhos, há uma tendência para nos acomodarmos, para fazermos concessões. Deixamos de acreditar que ainda há uma diferença a fazer, uma palavra que importa dizer, ou um gesto que pode fazer a diferença.
De facto, na vida, temos de andar de olhos bem abertos. Há tanto que se deixa passar por pura omissão, por andarmos distraídos, por desatenção.
A capacidade de pensar, de situar as coisas nos seus lugares próprios, pede-nos um arejamento de espírito que nem sempre temos, dado o estado de cansaço em que tantas vezes nos encontramos.
Por vezes, não reagimos porque o mundo nos tornou apáticos.
Sim, estamos demasiadas vezes apáticos, mudos, ensimesmados, fechados sobre nós mesmos: o nosso mundo e os nossos problemas. Recebemos o mundo e já nada nos surpreende. Não somos capazes de perceber que não é tudo igual, que há ainda que lutar. Não, não é tudo igual! A vida e os caminhos da vida não são indiferentes.
Há algo que achei interessante em Viktor Frankl que é questão do projecto: ele refere que um grande factor de esperança é o conseguir-nos colocar no futuro e perspectivar o que aí vem. Isso cria um propósito, uma ideia de algo porque lutar, porque trabalhar. Hoje é dia de Portugal. Há uns anos João Miguel Tavares dizia na cerimónia do 10 de Junho justamente: deem-nos algo em que acreditar. Se calhar há tantas pessoas deprimidas em Portugal porque não conseguem adivinhar um futuro que as realize... e assim tornam-se apáticas, e assim tornam-se conformadas, e assim tornam-se distraídas, desatentas, e assim fazem concessões, e assim não passam da mediocridade... E assim, e assim...
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