Sebastião Salgado e os estados psicológicos

O grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado conta que o trabalho que fez designado "Exodus", em que retrata pessoas em fuga de guerras (creio que uma delas é o Ruanda) o expuseram de tal forma ao lado negro do Ser Humano, que ficou profundamente abalado, em estado de depressão. Foi um projecto longo e difícil, que o levou a procurar ajuda, porque acabou por não se sentir bem do ponto de vista psicológico, acumulando tensões e uma enorme descrença na bondade da vida.
No seu trabalho seguinte, designado "Génesis", Sebastião Salgado veio tentar combater a tristeza que carregava com a beleza e magnificência da natureza. Muito desse trabalho é também feito no mesmo Ruanda, onde se deram os mais terríveis massacres de que a Humanidade viveu no limiar do séc. XXI, retratando agora selva e a riqueza da sua vida animal. Não tenho dúvidas de que somos bastante condicionados pela forma como o que se passa no nosso dia-a-dia nos cria boas ou más emoções. 
 
Sebastião Salgado, que é um homem sensível e que em vez de se embrutecer com a vida se manteve uma pessoa cândida e aberta, mostra-nos um mundo de contrastes, que é o mundo de todos nós, não apenas o exterior, como também o interior. Com a sua mulher, companheira duma vida, criou o projecto "Terra" que partiu por reflorestar numa fazenda em Minas Gerais, plantando milhões de árvores. Voltou a dar vida a um território que ameaçava a seca e que agora é um resplandecente local de vida.

Nas nossas vidas, às vezes no espaço dum dia, vivemos momentos de "Exodus" e de "Génesis" e temos que aprender a dosear a exposição às coisas que nos amarguram ou preocupam. E pode haver profissões e actividades onde essa exposição é maior do que outras. Não podemos esgotar nos nossos inteiores, secá-los como a propriedade de Minas Gerais de Sebastião Salgado.

O sábio sacerdote espanhol Ignatio Larranaga dizia que um dos principais exercícios a fazer quando estamos a viver debaixo de nuvens é tentar relativizar, olhar para "o quadro maior" e não permitir que aquilo que nos abala ganhe dimensões de absoluto. Essa será uma arte a exercitar quotidianamente. E saber ter um respeito grande connosco próprios para perceber quando temos que nos sintonizar com as músicas que nos dão prazer, com a beleza da vida, com as amizades, afinal com o lado solar da existência!

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