Como uma árvore

Não sei se é qualidade ou defeito andar sempre com imensas ideias e projectos. Esta semana sentei-me na Livraria da Travessa a ler um livro chamado "Foco", de Daniel Goleman. Nem de propósito. 

Depois, esta manhã, sentei-me a escrever a quantidade de coisas em que me meti nos últimos dias. Fui dar uma volta de seguida e, quando voltei, lembrei-me que eram mais ainda os assuntos...

Depressão. O tema atrai-me. Não sei porquê, talvez porque tenha vivido debaixo dela. É incrível como podemos não nos aperceber que o céu por cima de nós está cinzento, mas que pode haver sol. Há quem pense que o cinzento pode ser a cor normal do céu. E não será assim. A atmosfera pode ser mais leve, o céu pode ser mais azul. 

Porque já na vida acumulei um capital de experiência que me permite perceber como nos podemos orientar para sermos mais felizes, por certo poderei com isso ajudar outras pessoas. É simples. Ao procurarmos essa vida feliz, é muito importante que sintamos que somos de alguma maneira senhores de nós próprios. E, graças a Deus, sinto-me muito dessa forma, isto é, sinto-me livre. Saber que posso determinar o que faço, como emprego o meu tempo, a que leituras me dedicar, que passos dar na rua e na estrada. Não me sentir preso pelo ascendente de ninguém, por ter que agradar a alguém, é algo que me permite não ficar dependente dos "mandos e desmandos do mundo". Na verdade, conseguir chegar a uma posição de independência financeira é naturalmente algo importante, pois podemos ser mais nós próprios, viver uma vida mais determinada pela nossa vontade.

Aprender. Talvez seja isso que faz com que agarremos tantas coisas. Gostamos de aprender. Quem é curioso, lança-se atrás das respostas - e elas abrem novas perguntas e novos caminhos.

Mas diz a voz da experiência que, ao fim do dia/ou cedinho de manhã (cada um escolherá), temos que nos sentar. E perguntar-nos se as nossas procuras nos levaram a um lugar onde nos sentimos bem e que faz sentido - se sim, podemos voltar aí. Mas há sempre que regressar a casa, ao nosso lar - esse lugar é o esteio, o tronco. E ele tem que estar bem "seguro" na terra. Coeso, embora flexível. Porque só aí as derivações que fazemos nos permitem dizer que há uma árvore e não ramos, atirados ao vento. Quem está apenas nas derivações, nos ramos, não constrói nada.

E  por isso digo que devemos estar mais no tronco que nos ramos: são ramos os interesses que temos e o que fazemos com o tempo; é tronco a unidade que somos - e é isso para mim o "foco".  Embora, para sermos mais que uma máquina, a nossa vida respire para além do tronco, e a árvore seja o total da nossa vida. A árvore é um ser orgânico, exposto ao clima, saudável, ou padecendo deste ou daquele mal. E teremos de volta e meia ter a coragem de cortar alguns ramos para que a árvore possa continuar, sã e vigorosa.

Quem como eu tem tendência para se aventurar em muitos ramos e derivações, tem que olhar para todos esses ramos e perguntar-se se eles não sugam demasiada seiva da árvore. Ora que ramos tenho? Ultimamente muitos como dizia... desde a escrita dum conto (inspirado numa santa portuguesa), à escrita dum livro meio romanceado (que muito me tem custado levar avante, porque a escrita dum romance é bastante complexa - é uma maratona - e que aborda de alguma maneira o tema da depressão); desde fazer um grupo sobre bem-estar profissional (que tem também a ver com o livro "meio romanceado" e com a questão da depressão), a trabalhar para um projecto sobre o território do nosso país. E muitas e muitas leituras...

São tudo de facto assuntos e matérias interessantes, talvez elementos que animam a árvore, que lhe dão sol (embora, por exemplo, o livro não seja tarefa fácil). Naturalmente que há toda a vida profissional, que por si só é exigente e aquilo que alimenta de água a minha árvore (e tenho que dedicar uma boa parte da minha vida à profissão, organizar-me e estar actualizado).

No outro dia pensava que as coisas podem ser uma questão de prioridades e há quem diga assim: durante estes anos irei ser um profissional dedicado e darei todo o meu tempo à profissão. As pessoas que têm menos interesses são talvez mais como os ciprestes - têm poucos ramos. Se calhar chegam mais alto na profissão, como os ciprestes chegam mais alto na atmosfera.  Hoje dedicam 8 horas do seu tempo à profissão, amanhã na reforma, dedicarão 8 horas do dia a uma actividade de que gostam, mas a que não se puderam dedicar enquanto foram jovens. Fazem assim uma alameda de ciprestes. Também é bonito. Não sei é se vivem tão felizes, na sua contenção...

  

 


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