Há dias felizes, viagem a Castelo Branco

Com passo apressado fecho a porta do escritório, saio para a rua e passados 20 minutos avio a minha mochila com o essencial para uma noite fora de casa. Destino: Castelo Branco. Meio de transporte: combóio regional da CP, com saída marcada para as 4 da tarde em Santa Apolónia. Véspera de 3.ª feira de Carnaval, dia de trabalho, alguns telefonemas pelo caminho. Uma viagem um tanto ou quanto longa, sobretudo porque uma grande parte dela já de noite.

Chego a Castelo Branco pelas 20h00, ando uns 10 minutos e estou no Largo da Devesa, uma das principais praças da cidade. Sem bateria no telemóvel, vou jantar com o principal propósito de recarregar o aparelho, o que me permitirá ver os códigos da porta de entrada do AL e, assim, dormir debaixo dum tecto. Mas o jantar revela-se extraordinário: um óptimo caldo verde, seguido de ovos rotos com cogumelos e 6 croquetes de alheira. Dois copos de vinho serrano, uma maravilha. Foi um bom começo esse, no "Ponto Wine Garrafeira"! Ssorria-me a sorte e a "Casa 92 - Lugares de Castreuleca" onde ia repousar a estrutura óssea, era mesmo ao lado e, por sinal, calhara-me o melhor sítio para ficar segundo sites de recomendação. Bonito, bem decorado, confortável, melhor seria difícil.

Ao acordar de manhã fui dar uma volta ao bairro do castelo, afinal o nome "Castelo Branco" teria que vir de algum castelo... Estava nevoeiro e infelizmente vista não havia e, por isso, desci por uma bela escadaria com ciprestes de ambos os lados e cruzei uma avenida, até ao Jardim do Paço Episcopal. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por aqui me quedei, em doces deambulações, no meio do cheiro de bucho, rindo-me aqui e acolá com a estatuária e o seu sentido. Trata-se dum jardim barroco, do que há de mais notável em Portugal, com uma profusão de estátuas que invocam a história de Portugal e da Igreja. Desde uma escadaria que começa com o conde D. Henrique e que segue por aí abaixo com todos os reis da I à IV Dinastia, tendo os Filipes um lugar meio escondido e com metade do tamanho dos reis tidos por "portugueses"... outros factos interessantes: a rainha Santa Isabel é a única rainha representada. Por sua vez, a partir de D. João IV nenhum dos Braganças tem coroa na cabeça, sinal da coroação de N.ª Sr.ª da Conceição como Rainha de Portugal. Enfim, aquele jardim é uma autêntica aula de história ao ar livre e nela um bom professor de história ficaria um dia inteiro a falar!
 
Depois desse passeio ao ar livre, entrei no próprio Paço Episcopal, agora o principal museu de Castelo Branco (o Museu Proença Tavares Júnior). E fiquei deslumbrado com 2 coisas: a riqueza e beleza das colchas de Castelo Branco (é uma verdadeira joia); uma exposição notável de um poeta e pintor chamado Saúl Dias, "Tarde Azul, o Universo Amoroso de Júlio" (não conhecia este artista já desaparecido: combinava poesia da mais alta qualidade com uma pintura um tanto ou quanto naif, fez-me lembrar a luminosa beleza de um Saint-Exupery, que também desenhava).
 
Depois de passear um pouco no Parque da Cidade, fui ainda ao Centro Interpretativo do Bordado de Castelo Branco, que me interessou muito  e que achei muito bem feito: bonito e pedagógico, pessoas simpáticas com quem conversei um bom bocado. Orgulhosas por Castelo Branco fazer parte da Rede das Cidades Criativas da Unesco (na categoria Arts & Crafts), por causa justamente do bordado. Hei-de voltar ao tema em breve.

Almocei uma salada e apanhei um táxi que me largou cerca de 30 minutos depois em Vila Velha de Ródão, no caminho para as Portas do Ródão. O Carlos, o taxista, tinha andado pela Bélgica, então como caseiro duma família rica (mas simples) que vivia numa bela quinta perto de Bruges, agora vivia numa aldeia. É claramente um jovem feliz. Passámos por um conjunto de fábricas de papel (Navigator e outras) e estávamos em Vila Nova de Ródão. É uma vila estragada, já pode ter sido interessante, mas hoje nada lembra esse nome bonito e promissor que fica no ouvido, a não ser pela sua posição frente ao Tejo. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E fiquei maravilhado com as Portas do Ródão. Dei uma grande volta a pé e subi a um ponto alto com uma vista panorâmica.

Fui a um café, comprei uma revista e apanhei o comboio de volta a Lisboa. Cheguei pelas 18h40. Nunca pensei que a viagem para a Beira Baixa fosse tão bonita: sempre a acompanhar o Tejo. Não fica muito a dever à viagem Porto-Régua. E fiz o compromisso comigo mesmo que brevemente irei às 8h15 ver a manhã do Tejo, saindo de Santa Apolónia e com destino à Guarda onde almoçarei.

E quanto a Castelo Branco, estas colchas têm qualquer coisa... parece que a Rainha de Inglaterra tinha 2. Uma das últimas encomendas dos bordados, imagine-se... foi para a Catedral de Manchester, para o altar. É um trabalho notável.


 





 

 


  

 

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