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A mostrar mensagens de novembro, 2019

Tivoli, Memorias da Avenida

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Há uma herança que os que nos precederam deixaram e que é tão importante quanto as coisas físicas que nos passaram. Uma forma de estar e de cuidar do mundo, de olhar para e por ele. É um património imaterial, se quisermos "espiritual".   O livro "Cinema Tivoli, sobre a história de mais de 50 anos desta sala emblemática de Lisboa, é uma homenagem sentida - e agradecida - a tantos que foram "humildes servidores" da beleza e das artes. Antes de mais aos artistas, àqueles que fizeram sonhar, tornando as vidas daqueles que assistiram aos seus espectáculos, nem que seja por alguns instantes, lugares habitados pela poesia. Na efemeridade dum espectáculo somos por vezes visitados pelos anjos. Lembremo-nos do filme "Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen, em que acontece o impossível:  a espectadora entra para dentro do filme, impulso que muitas vezes é o nosso, mas que, na realidade, se torna a metáfora por excelência de toda a grande obra de arte. Men

3, Beleza e contemplação. Na fragilidade do equilíbrio...

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Se me pedisses para escolher um quadro, uma escultura, um qualquer objecto de arte, o que traria comigo?  Gosto muito de Monet e das suas paisagens. A pintura impressionista é bela e dá alegria à vida.  Há um pintor holandês que me impressiona pelos ambientes interiores que cria, seu nome é Vermeer. Ele pinta o simples, pinta as pessoas no seu ambiente natural. Penso que é George Steiner que dizia que ele é tão bom que consegue pintar o silêncio. Dos pintores que mais me comovem certamente que Cézanne é um deles. Eu acho que há nas suas naturezas mortas algo de espiritual, uma luz que resplandece. Uma simples cesta de frutos é uma simples cesta de frutos, mas há nela uma tal irradiação que dá vida. É uma natureza morta... que vive, que tem luz própria. Outro Mestre que tem o condão de nos fazer despertar para a alegria de vida é Matisse. Faço uma citação (Matisse, Taschen): "A Clara MacChesnay, que se admirava, em 1913, que uma obra tão «anormal» tivesse como au

2. Beleza e contemplação. Com tempo contemplo!

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A arte não se inscreve naquele tipo de coisas que tem uma utilidade: tem mais que ver com o espiritual do que com o material , com aquela asserção de Cristo: "nem só de pão vive o Homem". Qual a utilidade de uma rosa? Nenhuma aparentemente. Mas porque plantamos rosas?! Não seria porventura bem mais útil plantarmos couves e batatas, que nos dão de comer?! É porque também responde a uma necessidade que o fazemos: porque torna a nossa vida mais bonita. Por isso vamos também a concertos de música clássica ou colocamos um belo quadro na parede. Na realidade, parece assim que há uma utilidade, uma utilidade interior. O belo tem a virtude de abrir-nos às nossas necessidades últimas, aos nossos anseios mais profundos. Ele abala-nos, faz com que as nossas defesas caiam.  Edgar Morin dizia-nos que a finalidade primeira da arte é colocar-nos no estado poético , por contraste com o estado de prosa com que as nossas vidas se contam, na soma dos dias. Em certa medida, a arte é