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A mostrar mensagens de setembro, 2021

It's all about motivation

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Quando éramos pequenos a coisa mais fantástica que podíamos ter era o meu pai organizar-nos um rally-paper: um conjunto de provas fantásticas, todas elas de difícil execução e que exigiam de nós a máxima da nossa energia e do nosso empenho. Cada grupo levava as folhas com as provas e as perguntas e um saco de plástico para a recolha dos objectos necessários, partindo numa correria desenfreada pela quinta e imediações mais directas. Era necessário apanhar uma batata, uma pera ou uma minhoca; responder a perguntas tais como "como se chama o palácio com duas grandes chaminés?", ou "de que é construído o convento onde não se consegue dormir com as pernas esticadas?". E havia desafios muito grandes: arranjar 3 cabelos brancos por exemplo (iríamos ter com as únicas pessoas velhotas por perto, a Maria Amélia e a sua mãe Maria Emília? Como iríamos fazer?! Ou tentar ir à casa dos caseiros e pedir para espreitar por entre a "cabeleira", ou melhor, tentar encontrar a

Onde são gastos os nossos impostos?

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Ontem falava com o meu amigo João Monteiro Rodrigues, espreitando o Tejo duma esplanada altaneira. Como criar uma visão para o futuro em que as pessoas se sintam mais confiantes e esperançosas? Dizia ele que a nossa população está muito envelhecida. De facto, se virmos este gráfico em baixo que a Autoridade Tributária publicou (e muito bem) sobre "para onde vai o dinheiro dos nossos impostos" compreendemos que só podemos ter uma população idosa: 24% vai para prestações sociais, 21% vai para o sector da saúde - tipicamente sectores em que uma população idosa não ajuda muito. Por outro lado, para as operações relacionadas com a dívida pública, temos 12%, o que significa que o que produzimos é insuficiente. Tudo isto representa 57%, uma despesa que não tem mesmo qualquer retorno. O sector da educação, talvez o único sector que é verdadeiramente reprodutivo (a aposta na "massa cinzenta", o único recurso que inventa novos recursos), representa apenas 12% do bolo. Não dev

Mapas

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A nossa apreensão da realidade é sempre uma aproximação e, nos últimos tempos, dei por mim em pensar que teria que escrever algo sobre isto.  Quando somos crianças, temos uma ideia do mundo um tanto ou quanto distorcida, não percebemos as relações de força que existem - somos facilmente vítimas de alguns enganos. A construção dum mapa da realidade é um processo que se faz juntando as pecinhas do puzzle, uma a uma, pacientemente ao longo de muitos anos: fenómenos que nos surpreenderam, que não entendemos na altura, têm sempre uma razão de ser e, assim, o nosso retrato da realidade vai-se compondo, tornando-se também mais complexo e mais colorido. Há certamente momentos de espanto, de incompreensão - por vezes aquilo que considerámos uma virtude, aparentemente esconde fragilidades que só mais tarde vêm à superfície... e vice-versa, aquilo que pensámos ser um defeito que acusamos nos outros, é uma qualidade que não vimos. A mim aconteceu que na infância ou juventude formulei certas imagen

Rosas para Sampaio

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Numa entrevista que passou ontem na televisão, Jorge Sampaio disse que um dos episódios que mais o marcou enquanto político foi o de uma senhora cabo-verdiana que foi ao seu encontro, nos Paços do Concelho em Lisboa, quando era presidente da CM. Eram cerca de 21h00 da noite e a senhora abordou-o, frente à CM pedindo-lhe ajuda pois ficara sem casa para ela e para o seu filho, um jovem de 15 anos. Parece que Sampaio terá arranjado uma casa para a senhora e seu filho. Acontece que 2 anos depois a senhora volta novamente ao seu encontro, trazendo-lhe um ramo de flores para lhe agradecer, escolhendo o mesmo local para ir ter com Sampaio e apanhando-o de surpresa. É de facto um gesto bonito. Na verdade, encontramos diariamente pessoas que nos pedem ajuda e não será necessário ser presidente da CM de Lisboa para ter meios para ajudar. Mas realmente, a política pode ter destas coisas, estar próximo das pessoas e poder ajudá-las.  O carreirismo, que aposta sempre tudo no que há-de vir é um erro

"Trouxas" e "espertos" - o que são bons impostos?!

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Devemos pagar impostos ou podemos evitar pagá-los? Há muitos que se queixam que pagamos impostos a mais. Ultimamente sinto na minha pele essa situação, de pagar uma carga enormíssima de IRS. A questão não é fácil e as fronteiras são ténues, sendo difícil descobrir onde está na realidade a ética e aquilo que é aceitável. Pagar impostos quando tal representa quase um confisco e querer fazê-lo pode parecer um absurdo, ou se é estúpido ou se é "trouxa" e posso até justificar que não os pago - e que tal é até mais eficiente para a economia, porque depois "devolvo" o dinheiro à economia. No entanto, devemos pensar também se não está instalada uma cultura de maximização do lucro e dos ganhos, em que o sucesso das pessoas está demasiado ligado ao sucesso económico. Em que o que é importante é sermos "espertos". Será mau mentir ao fisco?  Será eticamente condenável encontrar mecanismos como o de ficcionar uma " morada própria e permanente " para não pagar

Pontes

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Hoje o dia amanheceu com um céu escuro, mas da vista da minha salinha, olhando a ponte, vê-se um ténue arco-iris. Estender o braço para o outro é criar uma ponte de diálogo, onde pode brilhar um arco-iris, o milagre da relação. Um mais um, é sempre mais do que dois. Gosto desta ideia da ponte, dos braços que se estende entre duas margens, ultrapassando os abismos que os separam.

A utilidade do inútil

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Há não muito tempo ofereci um livro a um amigo meu francês até recentemente residente em Lisboa, o Guillaume, "a utilidade do inútil, manifesto", de Nuccio Ordine. Em várias conversas que fui tendo com o Guillaume, ele indignava-se contra uma cultura muito liberal, preocupada sobretudo com o ganho, algo que ele dizia, de uma forma bastante assertiva, de que se tratava de uma mentalidade que esquecia a "Encarnação"... Bom, não irei entrar em questões teológicas - deixo isso para quem sabe desses assuntos metafísicos -, embora me pareça que a maneira como vivemos é muito influenciada pela cultura subjacente a determinado quadro mental que se foi sedimentando, onde também se identificam raízes religiosas. Na composição da Europa identificamos países protestantes e países católicos, sendo evidentes duas maneiras de viver as coisas, que marcam a vida nesses dois universos e que, de forma algo simplista, poderíamos situar uma no norte e, outra, no sul da Europa, o que est