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A mostrar mensagens de outubro, 2023

Une voix, un destin

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Tenho lido e visto várias coisas sobre Carl Jung, um homem cuja vida e trabalho deram muitos e bons frutos. Trabalhou com Freud, mas dele veio a divergir, não concordando com o peso excessivo dado à infância. Nele, embora o subconsciente jogue um lugar muito relevante, o trabalho de interpretação do mundo interior  não tem apenas a ver com o passado, como também com os nossos desejos profundos. Ao contrário de Freud, não estamos irremediavelmente condicionados por uma realidade imposta, moldada pela relação na infância com os nossos progenitores. Ela é sem dúvida importante, mas em Jung há uma ampliação daquilo que somos e, aquilo que desejamos ser e como nos projectamos no futuro, são elementos que entram nesta equação.  O processo de "individuação" é colocar-nos a caminho, vivendo no quotidiano das nossas circunstâncias, dando lugar às nossas vozes interiores e seguindo as nossas inclinações, num processo de descoberta aberto e dinâmico. Precisamos de estar connosco próp

O Eu interior

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Gostava de erradicar o egoísmo no mundo, a falta de amor, as visões tacanhas, os autoritarismos estúpidos. Somos tão marcados por isso, tão condicionados nas nossas disposições interiores. Nos últimos dias, voltei a ler de James Martin, sj, o livro "Torna-te aquilo que és". Fala nele de Thomas Merton e de Henri Nouwen, dois autores espirituais que procuraram descobrir-se a si próprios e tentar fundamentar uma vida de e em liberdade. A procura do eu interior em Thomas Merton é uma via espiritual que nos liberta dos condicionamentos exteriores, das imposições do parecer, por exemplo. Quem consegue chegar a esse eu interior e fazê-lo viver (um eu puro que espera o amor em Deus), torna-se impassível aos desmandos do mundo. Thomas Merton não facilita o caminho e não nos apresenta a sua espiritualidade como um pronto-a-comer, ou um pronto-a-vestir, um qualquer manual com instruções. Numa vida atribulada que foi a sua, viajada e com muitíssimas leituras, encontros e, de certeza, tam

Em Bordéus, sem cotoveladas

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Qualquer visita a uma capital europeia é hoje um exercício difícil de pontaria, pois exige do viajante poderes divinatórios e precisão matemática para evitar multidões: - Qual a melhor hora para ir a tal sítio? - Que tal comprarmos com antecedência bilhetes para este ou aquele museu?! Recentemente fui a Madrid e só se vence a multidão da Gran Via a modos de cotovelada, tal qual jogo de rugby... É assim em Roma, em Amsterdão ou Londres... o melhor é optarmos por outras cidades que não capitais.  Vim a Bordéus e aqui vive-se uma Paris civilizada, sem multidões, com tempo para se estar à-vontade e poder-se assistir tranquilo ao jogo de rugby na televisão, com um bom entrecôte e vinho tinto (o que, em dia de anos, foi para mim alegria imensa, por ver Portugal a ganhar de forma extraordinária às Ilhas Fiji num jogo em Toulouse!) Não por acaso chamam-lhe (a Bordéus) a "Petite Paris". Aqui encontro os edifícios haussmanianos, as praças bonitas e cheias de luz, com es

Humpty Dumpty

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Encontrei esta manhã o Alberto na rua Garrett. Disse-me que este era um tempo em que os astros que influenciavam a vida dos de "libra" estavam particularmente agitados e perguntou-me como é que eu estava.  O Alberto é um peruano, de Lima, um artista. É um homem com muita sabedoria. (Uma amiga minha, a Francisca, disse-me certo dia que imaginava para mim uma viagem a Machu Picchu, nos Andes peruanos. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que era porque achava que eu era uma pessoa espiritual) O Alberto tem razão. Acho que os astros andam muito agitados. Disse-me ele que era preciso deixar a tormenta passar - que o equilíbrio era agora difícil. Concordei com ele, e ripostei:  - Pois é, temos que procurar um novo equilíbrio. Ele disse-me:  - É isso mesmo. Entretanto, que dia magnífico está hoje. Sinto-me privilegiado por viver aqui, junto ao Tejo. E esta luz de Lisboa, ó meu Deus... Quando saio de manhã e desço a rua da Horta Seca, tenho a Igreja da Encarnação ao fundo e lá ao alto os