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A mostrar mensagens de outubro, 2022

Rezando a vida com Churchill

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Pode parecer um contrancenso uma proposta de se rezar com Churchill, um homem de quem se diz que não há provas convincentes de que tivesse convicções religiosas. Na realidade, na década de 1890, Churchill disse que a humanidade evoluiria a ponto de " o cristianismo ser posto de lado como uma muleta que já não é necessária e o homem ficará erecto sobre as pernas firmes da razão ". Acrescentou ainda  " espero a aniquilação na morte. Sou um materialista - até às pontas dos meus dedos ".  Embora - como se vê, não tivesse convicções religiosas, Churchill era um homem que tinha uma franca noção da separação entre o bem e o mal, a ponto de dedicar todas as suas forças à tentativa de acabar com uma das maiores tragédias do séc. XX, a possibilidade de domínio do nazismo na Europa.  Onde ia buscar forças? Com alguma ironia, poderíamos dizer que certamente uma das suas fontes era a "pipa", o whisky... mas certamente que outra delas era a arte e os momentos a que ela

Sobre a entrevista de João Vieira de Almeida

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1. Um advogado português de uma ilustre família, João Vieira de Almeida, "chegou-se à frente" para falar de depressão. A entrevista foi dada ao Observador. Embora tenha achado um acto de coragem, acho que foi pena que, em cerca de quase uma hora de entrevista, não se tenha falado em certas questões que seriam importantes, tendo-se  essencialmente centrado a conversa na experiência pessoal do sofrimento vivido e no testemunho, dado na primeira pessoa, que embora impressivo, não merecia, na minha opinião, tão extensa entrevista. Entendamo-nos bem: a depressão é um assunto sério, é uma doença muitas vezes ocultada, há uma vergonha em a reconhecer. Por isso, não pode ficar qualquer dúvida que quem dela fala publicamente, expondo-se, está fortemente a contribuir para que cada vez mais se fale dela e se assuma como uma realidade. Já isso é um serviço de inegável valia. 2. Acharia interessante que se tivesse falado e aproveitado a oportunidade para, por exemplo, questionar se nã

The Emperor's new Clothes

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1. Aleksander Soljenítsin, prémio Nobel russo e dissidente político do comunismo, perante uma plateia perplexa num discurso feito na Universidade de Harvard, em 1978, terá declarado que o Ocidente teria perdido a coragem e que haveria como que uma ilusão de que as suas democracias representariam algo vitorioso e exemplar. Há uns dias, assisti no Folio, em Óbidos, a uma conversa entre dois Deputados da nossa República, em que ambos afirmavam que havia coisas que jamais poderiam dizer no Parlamento. Ou seja, quando estavam na Assembleia da República e enquanto se manifestavam publicamente, não podiam dizer exactamente o que pensavam... Um Presidente da República acossado por umas afirmações que no fundo o bom-senso até caucionaria, se bem que ditas talvez de uma forma infeliz: alguém duvida que ele seja uma pessoa bem-intencionada, democrata, respeitador dos Direitos Humanos?! Lembrou-me um amigo que o Papa teria sido mais prudente em resposta a Maria João Avillez, na sua recente ent

Bem-estar na profissão de Advogado

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Naquele que creio terá sido o último Inquérito aos " Advogados Portugueses - uma profissão em mudança ", coordenado pelo Prof. António Caetano do Departamento de Psicologia Social e das Organizações do ISCTE e publicado em 2003 (https://portal.oa.pt/publicacoes/revista-da-ordem-dos-advogados-roa/ano-2003/inquerito-vol-iii/inquerito-aos-advogados-portugueses/) , dá-se conta do nível de satisfação que os advogados portugueses têm com a profissão. É um estudo com 20 anos, mas foi o último grande estudo que se fez sobre a profissão. Não me parece surpreendente que 9,4 % dos inquiridos estejam completamente insatisfeitos com a profissão, sejam 24,2 % os insatisfeitos, ou que 22,7 %  digam que não estão nem satisfeitos, nem insatisfeitos, o que se traduz em 56,3 % de advogados que têm uma relação pouco entusiasmada, se não mesmo difícil, com a sua profissão. Uma das questões que mais me chamou a atenção é que, globalmente, mais de dois terços dos inquiridos (66,5 %) declararam ganh

Visitado pela leveza

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Lembro-me que, enquanto estudava calhamaços para a universidade, haver um pequeno pássaro, colorido, que se passeava pelo jardim, feliz e contente, que se movimentava ligeiro, vibrando a sua cauda em batidas rápidas para cima e para baixo. Um pássaro "traquina" - que ligeiro, contrastava com o peso dos meus calhamaços. A alegria é ligeira.  Scott Peck no seu livro "O Caminho menos Percorrido" diz-nos logo nas primeiras páginas que a vida é um conjunto de equilíbrios. Embora não conheça bem a sua obra, Júlio Pomar afirmou um dia uma coisa na televisão ao receber um prémio que me deixou a pensar: " a alegria é a coisa mais importante que existe !"  No esforço diário que empreendemos, por vezes esquecemos a importância de gozar as coisas, da simples alegria por existir.  Esses equilíbrios de que nos fala Scott Peck são muito ténues. Um desses é saber na verdade se “ vivemos para trabalhar ” ou se “ trabalhamos para viver ”.  O drama muitas vezes des

Douro, terra trabalhada e habitada

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O Alto Douro Vinhateiro é uma enorme área a nordeste da cidade do Porto classificada como Paisagem Património Cultural da Humanidade, paisagem esculpida a força de braços ao longo de muitas gerações.  Como tinha um trabalho a fazer, que compreendia a necessidade de contactar vários municípios devido a várias propriedades espalhadas por 3 locais da área, decidi meter-me num comboio e ir para o Porto, onde fiz a minha base para as incursões. A primeira impressão dos contactos nos Municípios é a da extrema gentileza das pessoas e algo que permanece - como o bom vinho, "sabor que fica na boca". Estive em Peso da Régua primeiro, onde cheguei pelo combóio que parte da Estação de S. Bento e que percorre a região vinhateira, com paragem em Peso da Régua. É um percurso de cerca de 2 horas, acompanhando em grande parte o rio Douro. Naturalmente, dada a importância de toda esta região na economia do Porto que estas linhas são já muito antigas, o que significa que as acessibilidades de