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A mostrar mensagens de 2023

Ter um coração agradecido é o mínimo

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Benção é a palavra que me ocorre por uns dias de Paraíso, aqui pelo Rodízio. Veio-me novamente à memória a inspirada Susana Tamaro em o "Fogo e o Vento": “ Não existe mediocridade, monotonia. O que existe é apenas o nosso medo. Medo de crescer, medo de nos abrirmos às emoções. Medo de descobrirmos que não há nenhuma jaula à nossa volta, que o que existe é apenas liberdade, ar. E se erguermos levemente os olhos, o espaço infinito do céu. ” Por um bom bocado estive hoje na Praia Pequena, junto à rebentação e às rochas, escutando aquele comércio do batente das água e espumas; dois setters corriam pela praia, excitados com o mar, ensopados e contentes. E eu, saltitando de pedra em pedra. Não acredito que alguém pudesse ficar indiferente - e senti como Deus nos dá tudo isto de forma gratuita. Se tivéssemos que pagar por isto, não tenho dúvida que se alinhariam muitos e a parada subiria para valores inauditos. Eu como testemunha dum tempo de oiro, onde a água fresca do mar é um b

Uma rainha em peregrinação

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Estávamos no ano do Senhor de 1325. Por entre o calor da campina, a modos de promessa, por entre um séquito silencioso, avançava curvada e incógnita Isabel de Aragão, a Rainha.    Seu marido, velho e agastado pelas longas guerras com os seus dois filhos Afonsos, morrera nesse Inverno. Entristecida pela morte de D. Dinis, a quem se devotara desde praticamente a sua infância, Isabel partia em peregrinação ao túmulo do Apóstolo, em Santiago de Compostela.    O amor de mulher e rainha levava-a a carregar no coração o peso de uma vida, a dum homem de acção, generoso e enérgico, mas tantas vezes desviado pela intrepidez e o sobressalto, a ponto de poderem fazer dele um homem vingativo. Por isso, como consorte do Reino de Portugal e do Algarve, era importante ir rezar ao túmulo do Apóstolo, encomendando a alma de seu marido, o falecido Rei.   O amor ao seu Senhor de sempre, Àquele que transcende a morte, superior a todos os príncipes e potestades, levá-la-ia a se prostrar em adoração, a pedir

Anónimos

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Hoje ao final do livro estarei com amigos e falaremos sobre livros que andámos a ler recentemente. Há pouco, durante a hora do almoço, fui para o Jardim da Estrela ler um pequeno livro que comprei para passar entre amigos e promover as nossas leituras. Este livro, escrito por Joana Bértholo e intitulado "Natureza Urbana", acompanha as meditações de uma mulher só, na grande cidade. Fez-me lembrar um pouco uma prima duma amiga minha, também uma mulher só, na grande cidade e a quem se descobriu rcentemente que terá uma doença oncológica. Gostei bastante do livro, não se pode dizer que seja uma história extraordinária, mas toca em vários temas que eu tenho pensado nos últimos tempos: Antes de mais foca as relações e o que elas fazem connosco: neste caso a relação entre uma mãe e uma filha. De acordo com a "Teoria do Intregracionismo Simbólico", de Mead, somos muito o que os outros projectam em nós: se acreditam em nós, nós teremos uma visão de nós próprios como pessoas

O cão mau e o cão bom

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Há uma velha história que se conta relativa a uma conversa que um avô tem com um neto e em que lhe diz que dentro de nós se trava uma luta entre dois cães: o cão mau e o cão bom. O primeiro é violento, raivoso, impiedoso. Vê o mal no outro e o mais importante para ele é sempre sair por cima. Por contraste, o cão bom é pacífico, amável, generoso; tenta apreciar a vida, preocupa-se com o outro, gostava de poder ser seu amigo.  O neto pergunta ao avô qual deles irá ganhar e o avô responde: "àquele que mais alimentares". Esta velha e sábia história retrata na verdade tanto do que se passa connosco e com o nosso mundo interior, na gestão das nossas emoções. O cão mau na verdade não nasce mau. Ele é o nosso instinto para a segurança, o nosso instinto de sobrevivência. A sua existência é essencial para nos protegermos dos ataques exteriores. No entanto, quando o alimentamos demasiado, ele ganha ânsias de domínio, porque está sempre preocupado com o próximo ataque. Quando sentimos qu

Gratidão

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Comecei o meu dia hoje por um enorme passeio pela natureza. Hoje, ao final do dia, revejo o que passou - e só muito tardiamente no meu exercício me lembro que há que agradecer.  Virar-nos para tentar ver aquilo que o dia nos deu, com um coração reconhecido. Desde a natureza no parque - as lindas árvores nas suas cores outonais, ao lago e aos animais que vi, ao café agradável tomado a seguir e aos vários encontros com outros, ao longo da jornada de trabalho. Foram muitos momentos em que tentámos fazer caminho com pessoas que contam connosco. E, depois, o dia fecha-se e cai a noite - e, entregues ao espaço interior da casa e reunidos connosco mesmo, fazemos as nossas coisas, aquilo que tanto gostamos como tomar um duche para relaxar - comemos algo, e depois tentamos dizer adeus ao dia que passou, da melhor forma possível. Foi um dia que vivemos, onde tantos gestos pequenos preencheram os segundos e os minutos, as horas; mas nada do que foi feito foi em vão, tudo é importante, tudo teve u

Une voix, un destin

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Tenho lido e visto várias coisas sobre Carl Jung, um homem cuja vida e trabalho deram muitos e bons frutos. Trabalhou com Freud, mas dele veio a divergir, não concordando com o peso excessivo dado à infância. Nele, embora o subconsciente jogue um lugar muito relevante, o trabalho de interpretação do mundo interior  não tem apenas a ver com o passado, como também com os nossos desejos profundos. Ao contrário de Freud, não estamos irremediavelmente condicionados por uma realidade imposta, moldada pela relação na infância com os nossos progenitores. Ela é sem dúvida importante, mas em Jung há uma ampliação daquilo que somos e, aquilo que desejamos ser e como nos projectamos no futuro, são elementos que entram nesta equação.  O processo de "individuação" é colocar-nos a caminho, vivendo no quotidiano das nossas circunstâncias, dando lugar às nossas vozes interiores e seguindo as nossas inclinações, num processo de descoberta aberto e dinâmico. Precisamos de estar connosco próp

O Eu interior

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Gostava de erradicar o egoísmo no mundo, a falta de amor, as visões tacanhas, os autoritarismos estúpidos. Somos tão marcados por isso, tão condicionados nas nossas disposições interiores. Nos últimos dias, voltei a ler de James Martin, sj, o livro "Torna-te aquilo que és". Fala nele de Thomas Merton e de Henri Nouwen, dois autores espirituais que procuraram descobrir-se a si próprios e tentar fundamentar uma vida de e em liberdade. A procura do eu interior em Thomas Merton é uma via espiritual que nos liberta dos condicionamentos exteriores, das imposições do parecer, por exemplo. Quem consegue chegar a esse eu interior e fazê-lo viver (um eu puro que espera o amor em Deus), torna-se impassível aos desmandos do mundo. Thomas Merton não facilita o caminho e não nos apresenta a sua espiritualidade como um pronto-a-comer, ou um pronto-a-vestir, um qualquer manual com instruções. Numa vida atribulada que foi a sua, viajada e com muitíssimas leituras, encontros e, de certeza, tam

Em Bordéus, sem cotoveladas

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Qualquer visita a uma capital europeia é hoje um exercício difícil de pontaria, pois exige do viajante poderes divinatórios e precisão matemática para evitar multidões: - Qual a melhor hora para ir a tal sítio? - Que tal comprarmos com antecedência bilhetes para este ou aquele museu?! Recentemente fui a Madrid e só se vence a multidão da Gran Via a modos de cotovelada, tal qual jogo de rugby... É assim em Roma, em Amsterdão ou Londres... o melhor é optarmos por outras cidades que não capitais.  Vim a Bordéus e aqui vive-se uma Paris civilizada, sem multidões, com tempo para se estar à-vontade e poder-se assistir tranquilo ao jogo de rugby na televisão, com um bom entrecôte e vinho tinto (o que, em dia de anos, foi para mim alegria imensa, por ver Portugal a ganhar de forma extraordinária às Ilhas Fiji num jogo em Toulouse!) Não por acaso chamam-lhe (a Bordéus) a "Petite Paris". Aqui encontro os edifícios haussmanianos, as praças bonitas e cheias de luz, com es

Humpty Dumpty

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Encontrei esta manhã o Alberto na rua Garrett. Disse-me que este era um tempo em que os astros que influenciavam a vida dos de "libra" estavam particularmente agitados e perguntou-me como é que eu estava.  O Alberto é um peruano, de Lima, um artista. É um homem com muita sabedoria. (Uma amiga minha, a Francisca, disse-me certo dia que imaginava para mim uma viagem a Machu Picchu, nos Andes peruanos. Perguntei-lhe porquê. Disse-me que era porque achava que eu era uma pessoa espiritual) O Alberto tem razão. Acho que os astros andam muito agitados. Disse-me ele que era preciso deixar a tormenta passar - que o equilíbrio era agora difícil. Concordei com ele, e ripostei:  - Pois é, temos que procurar um novo equilíbrio. Ele disse-me:  - É isso mesmo. Entretanto, que dia magnífico está hoje. Sinto-me privilegiado por viver aqui, junto ao Tejo. E esta luz de Lisboa, ó meu Deus... Quando saio de manhã e desço a rua da Horta Seca, tenho a Igreja da Encarnação ao fundo e lá ao alto os

A Nova, os novos... e a pedrada no charco da velha/nova Gulbenkian!

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Ontem à noite, no meio da agitação, que passou a regra ao nos movimentarmos no Chiado - acotovelando-nos a uma turba de gente de todo o mundo e onde escasseiam os de cá,  passou por mim um grupo de caloiros envergando t-shirts com a inscrição "Nova School of Law", designação que terá sido proibida pela Ministra, na sequência duma queixa por violação do artigo 10 n.º 1, do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior. Segundo consta, esta norma prescreve que as instituições de ensino superior devem ter denominação própria e característica, em língua portuguesa, que as identifique, de forma inequívoca, sem prejuízo da utilização conjunta de versões de denominação em línguas estrangeiras.  Tal situação é sinal dos tempos confusos em que vivemos, que nos fazem questionar o que é do núcleo da identidade, tendo presente a já mais do que normal livre circulação de estudantes na licenciatura (fruto certamente do sucesso do Programa Erasmus), aliada à necessária atractividade d