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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

Black Box Thinking - para errar menos

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Em "Black Box Thinking - the surprising truth about success", de Matthew Syed, aborda-se a questão do erro e se aprendemos ou não com ele. Classicamente, há dois domínios que abordam a questão de formas diferentes: (1) a aviação civil e (2) a medicina. Enquanto a primeira, à custa de muitos acidentes e muitas mortes, foi criando mecanismos de aprendizagem, não receando criar comissões independentes e internalizando procedimentos de maneira a diminuir o risco, a medicina, contando com muitas vitórias, mas não menos erros, foi e é ainda muitas vezes avessa ao escrutínio - e isto tem como consequência que muitas vezes não diminui o grau de risco e que queda em novos erros. O autor faz uma abordagem muito interessante sobre as particularidades da medicina e do seu corpo profissional, que por razões de prestígio pessoal não admite pode cometer erros: basicamente uma pessoa que tem vocação para salvar pessoas e que o seu próprio amor-próprio está nessa função, dificilmente admi

A araucária de Monserrate - a diversidade das origens e o olhar agregador

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Costumava brincar quando era novo nos Jardins de Monserrate, que ficam perto da nossa casa. Lembro-me certo dia (quando o Parque estava como que abandonado) de com os meus primos termos entrado à socapa e escorregarmos com caixas de cartão pelo grande relvado, tal como descendo uma pista de ski, em tobogan. No fim do relvado havia (e há) uma grande araucária, que majestosa, reina sobre toda diversidade do parque. A tendência que o ser humano tem é a de desconfiar do que é diferente de si: o que nós é igual  dá-nos segurança - embora apenas uma falsa segurança. Nas questões identitárias joga-se o medo, a ameaça potencial de que o outro representa ao nosso bem-estar. São respostas que apenas pedem um porta-voz, um agitador. Todas as culturas que se fecham sobre si próprias têm os seus dias contados. A regeneração faz-se sempre num meio caminho entre o dentro e o fora, pela possibilidade de integrar o diferente. Se bem feita, dela se sai depois mais forte e coeso, embora se possa por veze

O sobreiro e o cipreste - afinal, quem são os portugueses?!

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Há uns anos estive na Bélgica e fui a um festival de cavalos perto de Bruxelas dedicado ao cavalo lusitano. Estava nessa altura a trabalhar em Paris e aproveitara um fim-de-semana para me meter num combóio e ir ter com o meu amigo Zé Freixa. O Zé   pertence a uma família de santanenses, os habitantes de uma pequena aldeia no Concelho de Arraiolos, Santana do Campo (a minha família tem uma propriedade por perto). Sou amigo do Zé, ele foi um jovem que foi "agarrado" por José Manuel de Mello e colocado na equipa de atrelagem da Herdade da Ravasqueira, que competia internacionalmente por Portugal, comandada pelo belga Felix Brasseur, tendo chegado a campeã do mundo. Fiquei impressionado quando cheguei à feira de Bruxelas. O Zé Fernando - como eu o tratava, era um “moiro” de trabalho. Ele e um ajudante brasileiro, o Patrick, levantavam-se de madrugada todos os dias e treinavam várias horas os cavalos. Uma disciplina férrea, uma rotina muito violenta, fizesse sol ou chuva. Eram a f

Prisão Perpétua

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Nos últimos dias a propósito das campanhas presidenciais, um dos candidatos veio à liça uma vez mais para defender a prisão perpétua em Portugal. Entre um e o outro candidato a questão que se colocou seria se era ou não maioritária na Europa. É de facto maioritária na  Europa. A pena máxima em Portugal são 25 anos e Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a pena de morte em 1884. Aliás, vendo o mapa do mundo e os países onde a pena de morte foi abolida, regista-se que foi essencialmente nos países colonizados por Portugal e pela Espanha que se destaca um limite máximo de penas. A nossa génese católica diferencia-nos dos países protestantes onde não se perdoa tão-facilmente. A Espanha tem neste momento uma forma de prisão perpétua de facto, isto é, admite que a moldura penal para certos crimes possa ser de 40 anos, com possibilidade de revisão, convertendo-se em tendencialmente perpétua. É preciso não esquecer que Espanha foi durante muitos anos palco de violentos ataques terrori

Colheita de 76 - a minha geração, o que é?!

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Depois do 25 de Abril Nasci depois do 25 de Abril. Sou fruto de um contexto social e familiar, não somos nunca de "geração espontânea"; porém, não gosto muito  da palavra "geração" pelo que ela tem de anónimo e de desresponsabilizante, prefiro que os méritos e deméritos sejam pessoais, atribuíveis a gente concreta. Há sempre como que um abuso que toma a parte pelo todo e não descreve a complexidade da realidade. Há uns anos, um famoso jornalista português, depois de umas manifestações em que um estudante mostrou o seu “rabiosque” para todos o verem como sinal de protesto, cunhou a ele e aos seus contemporâneos como de "geração rasca”. Pouco tempo depois, alguém indignado terá dito que é antes uma "geração à rasca": uma juventude que terá sido como que “enganada” pelas promessas de que deveria estudar, mas que encontra pouca estabilidade no trabalho e que faz pouco mais de 1.000 euros por mês. Por contraste, falou-se p.e. na América na geração baby