Black Box Thinking - para errar menos

Em "Black Box Thinking - the surprising truth about success", de Matthew Syed, aborda-se a questão do erro e se aprendemos ou não com ele.

Classicamente, há dois domínios que abordam a questão de formas diferentes: (1) a aviação civil e (2) a medicina.

Enquanto a primeira, à custa de muitos acidentes e muitas mortes, foi criando mecanismos de aprendizagem, não receando criar comissões independentes e internalizando procedimentos de maneira a diminuir o risco, a medicina, contando com muitas vitórias, mas não menos erros, foi e é ainda muitas vezes avessa ao escrutínio - e isto tem como consequência que muitas vezes não diminui o grau de risco e que queda em novos erros. O autor faz uma abordagem muito interessante sobre as particularidades da medicina e do seu corpo profissional, que por razões de prestígio pessoal não admite pode cometer erros: basicamente uma pessoa que tem vocação para salvar pessoas e que o seu próprio amor-próprio está nessa função, dificilmente admite que teve falta de discernimento numa sala de operações, por exemplo.

A questão do erro remete-nos sempre para que nos ponhamos em análise. E isto não é fácil. Por uma questão de sobrevivência do nosso amor-próprio e por mais argumentos lógicos que outrém possa utilizar para nos convencer que a nossa posição não é acertada, persistimos no erro. Tony Blair na questão do Iraque por exemplo. Nunca admitiu que foi com base em pressupostos falsos (a existência de armas de destruição maciça), que despoletou a invasão no Iraque e a sua defesa da guerra foi evoluindo de forma interessante, talvez até sem disso mesmo se aperceber. Acredito pois que essas questões do ego nos impedem de mudar facilmente de posição. Por isso, considero que é muito difícil convencer racionalmente alguém na actividade política de que está errado, p.e.

Há muitos pontos cegos na percepção da realidade e isso condiciona muitas das nossas decisões.

Mas a análise de como o erro acontece e criar mecanismos de o evitar é essencial.

Outra ideia interessante do livro tem que ver com a teoria dos ganhos marginais que consiste em dividir a realidade em questões pequenas e mensuráveis, o que nos permite se somadas todas as pequenas melhorias, uma melhoria conjunta muito grande.

Aliás dividir a realidade é muito importante para se perceber donde vem o erro; assim como criar grupos de controlo em que se pode testar soluções também seja aconselhável.

Quando se fala com acabar com a pobreza em África e se vê gráficos das ajudas ao desenvolvimento e a sua evolução ao longo do tempo, é muitíssimo difícil saber se essas ajudas foram úteis ou não. Mas se houver programas específicos como p.e. ao nível da educação, é possível ver em que medida determinada política teve ou não resultados. Pagar manuais escolares ou dar uma ajuda à alimentação dos estudantes permite-nos, com projectos-piloto ao longo de 3/4 anos, perceber o impacto.

Equipas de fórmula 1 ou de ciclismo têm adoptado esta prática dos ganhos marginais. Dividem toda a actividade em uma série de variáveis e tentam melhorar e avaliar cada uma dessas questões ao longo de determinado tempo. Esses pequenos passos, permitem alcançar ganhos muito bons no conjunto.

Todos nós na nossa vida podemos aprender com isto.

Poderia talvez na minha actividade como advogado pudesse introduzir uma política de ganhos marginais. Um processo de avaliação que passe por dividir todas as minhas tarefas em muitas questões distintas: organização (preparação da semana, computador, pastas papel, prateleiras, gavetas, catalogação, arquivamento, etc), análise de casos (estudo, registo do estudo e cruzamento com casos semelhantes), contactos com clientes (telefonemas e seu registo, e mails, produção de documentos escritos - pareceres, notas instrutórias, relatórios; reuniões, seu registo e sua preparação), facturação (registo de tempos, emissão de notas de honorários, pedido de facturação e seu envio clientes), formação (identificação de necessidades), etc. 

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